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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Aconteceu...alimentar pela boca e pelo coração

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É curioso e todos já dissemos ou ouvimos uma pessoa dizer, normalmente com funções maternas, que "ela não me come nada". A alimentação, o acto de alimentar é o protótipo da relação humana, a comunicação primeira que é suposto satisfazer a criança e fazer crescer.
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Conhecemos como às reuniões de amigos raramente falta comida, nem que seja um petisco acompanhado de uma bejeca ou um chá com umas bolachinhas.
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As mães preocupam-se quando os filhos não comem o que elas acham ser necessário. Isto do necessário varia muito com a pessoa, há os de grande alimento e os que se satisfazem com pouco. Curiosamente, de uma maneira geral, as mães preocupam-se menos com os filhos que comem demais, embora esteja bastante divulgado o problema da obesidade; e sabemos também que muitos comem para tapar o buraco afectivo que sentem. Sem nada que fazer? umas bolachas; aborrecido? mais outras; irritado? come-se qualquer coisinha que acalma. Mas isto do "apetite" do outro, satisfaz quem cozinha ou alimenta.
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Quase todos temos lembranças de comidas que alguém nos fazia e que sabia muito bem. Há quem tome isso à letra e tente satisfazer esse desejo, "cozinhando como a tua mãe", e se sinta frustrado porque, está bem de ver, não é só a comidinha mas a relação que a ela estava ligada.
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Isto vem a propósito da comida dos hospitais públicos e que é servida aos familiares e aos funcionários, a preços muito aceitáveis, certamente subsidiados, de cantina pública.
Está muitíssimo melhor do que era, eu que a conheço há décadas.
Não pensem que é alguma coisa do outro mundo, mas há sopa, um ou dois pratos fruta ou doce e um buffet de saladas à escolha que vejo ser muito apreciado. A comida é razoavelmente cozinhada e tem apresentação normal.
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E acho isso muito importante, é uma forma de receber e abraçar os familiares que, sabe-se lá com que desamparo, têm um seu filho internado.
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Com os 15% de poupança que a saúde vai sofrer este ano, desconfio que esta comida decente, pode ser uma das primeiras coisas a sofrer um corte.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aconteceu...a propósito de saudades


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Ao ouvir uma entrevista a um jornalista português que viveu alguns anos no estrangeiro e perante a pergunta do entrevistador de como é viver longe de Portugal, oiço como resposta que nunca tinha gostado de fado.
Acrescenta no entanto, e que já depois de estar instalado lá longe, comprou um galo de Barcelos para pôr na cozinha e aprendeu a lenda sobre o mesmo.
Referiu os amigos estrangeiros que iam a sua casa achavam o galo uma peça muito curiosa.
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Chegado o fim da entrevista, não fiquei a perceber se o galo representara para ele simbolicamente Portugal de forma sentida, ou se fora mais uma espécie de folclore.

Quando se fala em saudades frequentemente é referida a comida.

Nas minhas visitas aos amigos que estão longe, comida e vinhos portugueses fazem sempre parte das encomendas. Vinhos tinto e branco, vinho do Porto, enchidos, queijo da Serra, pasteis de Belém, queijadas de Sintra, são algumas das coisas que são apreciadas.

Aqui há uns anos, mais de 20, fiz uma viagem para Bordeus de camionete. Para além de mim que ia passar uns dias de férias para um hotel, e não tinha lá ninguém conhecido, a camionete ia cheia de emigrantes ou familiares que iam visitar os parentes. Na fronteira de entrada para França os guardas fronteiriços mandaram-na parar e fizeram uma vistoria severa. Apareceram dezenas de garrafões, de azeite e vinho, bacalhaus, alheiras e outros enchidos, bolos reis, regueifas, um sem número de alimentos que ao saborear nos remetem para a nossa terra.

A alimentação é o protótipo da relação primária humana. Ainda antes de ser compreendida como mãe, pessoa diferente do bebé, que tem coisas que gostamos e outras que não gostamos, a mãe é "percebida" como uma mama, que é boa quando satisfaz e má quando o não faz. Ele não me come nada, dizem certas mães de filhos já crescidos, confundindo-se ainda elas próprias com a comida.
Certas crianças são um martírio para comer em casa. Fazem-no rápidamente se fora de casa como na escola ou na casa da vizinha, onde as relações conflituais não estão presentes.
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Percebe-se a importância do factor emocional na avaliação tão frequente de, pela vida fora, se poder achar que certas comidas nunca ficam a saber igual às que as mães faziam.
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Certos alimentos e paladares, podem refletir o recordar e reviver experiências afectivas agradaveis.
E coitado de quem não as tem.