quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Aconteceu...há quem respigue para comer...sem IVA por enquanto!

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Oiço sempre que posso, as crónicas do Fernando Alves na TSF. Muitas vezes falar de coisas que desconheço, outras, como hoje, falou de qualquer coisa que estou farta de saber, a fome em Portugal e a inúmeras pessoas que andam à procura de comida nos caixotes do lixo. Sentimo-nos muito incomodados, são situações que nos envergonham.
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Há alguns anos dei um passeio pela Serra de Santo António. Terras pobres, cheias de pedras e de grutas, a população teve de se virar para a indústria das lãs, mantas, camisolas, o que safou muita gente. Pouca agricultura, só algumas vacas e cabras, as salta-catrepa como se diz em "calão" míndrico.
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As pedras fazem muros, umas em cima das outras, para separar propriedades. Ou cobrem extensões de terreno, com formas diversas, modeladas, os lapiás. Algumas fazem autênticas bacias, as pias, umas maiores outras mais pequenas, onde as águas da chuva se guardam e servem para os animais matarem a sede.
Outras, mais estreitas e com alguma profundidade, serviam para guardar o bagaço da azeitona (o que resta depois de espremida a azeitona para a feitura do azeite), e que, misturado com sal para conservar, ia servindo de alimento ao porco.
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Ao ir espreitar um desses buracos, uma velhota toda curvada, aproximou-se com curiosidade. E foi ela que nos explicou o que era a cova do bagaço. E solicita, ofereceu-se para nos ir mostrar umas enormes pias que ficavam num terreno particular mas onde ela podia nos levar.
Custou-nos aceitar porque ela era tão velhinha, que imaginamos o esforço que ia fazer, pelo caminho fora a pé. Insistiu, e lá fomos.
A certa altura, baixa-se ainda mais (dobrada já ela estava) e apanhou do chão qualquer coisa que meteu no bolso. Fiquei curiosa e mostrou-me, era uma fava, um bago de fava. E disse-me que teria caído quando transportaram outras que por ali teriam sido debulhadas, e que era tão boa como as outras. Havia de a comer.
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Da televisão que só oiço, sai a voz dos nossos dirigentes a apresentar as medidas económicas "para compensar o deficit".
Respigaria algum deles uma fava do chão? Não me parece, mas receio que a taxassem!

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