terça-feira, 27 de outubro de 2020

Há cortes bons e cortes maus

 

227º dia do recomeço do blog

Não gosto de ir ao cabeleireiro, mas reconheço que um bom corte faz o cabelo. Por isso, de 2/2 meses ou mesmo três lá vou eu. Uma excelente profissional proprietária de vários aqui em Lisboa. Vários...eram, agora serão dois. Até quando, interrogava-se hoje ela.

Estranhei quase nunca ver lá clientes. Fiquei a saber que a "maioria delas têm grandes quintas, casas ótimas fora da cidade e foram para lá quando começou a pandemia. Nunca mais vieram a Lisboa, os filhos não deixam". 

Hoje vi vários homens. Lavavam a cabeça ali perto de mim e subiam umas escadas em que eu nunca tinha reparado. E foi então que me explicaram.

Um grande hotel aqui de Lisboa,  grande em altura e em estrelas, tem um salão de cabeleireiro também da mesma. Na altura do confinamento quase fechou, ficou em layoff (não entendo porque empresas multinacionais com possibilidade de suportar os danos recebem do estado subsídios pagos por todos nós) e ainda está quase vazio, só dois andares funcionam. Estes clientes que eu hoje vi costumavam ir ao hotel cortar o cabelo com a barbeira, que também lá estava. Agora mudaram para a sede. Mais um salão a ir abaixo.

A internet tem destas coisas boas, de clicar e poder ver. Curiosa, fui "visitar" o hotel. Perante as imagens, lembrei-me do tempo das vacas gordas, quando os laboratórios nos convidavam para participar em congressos no estrangeiro. Na altura eram hotéis como aqueles, lembro-me de um em Berlim em que o quarto era quase maior que a minha casa, tudo bonito, espaçoso, salas e espaços livres bem arranjados; Em Istambul, um de uma cadeia internacional muito conhecida, tinha lá do alto onde ele estava construído, tinha jardins lindos, que desciam até ao Bósforo.

Nem fui das que mais beneficiou destas viagens mas sei que durante aqueles dias muita gente se sentia princesa.

É possível que muitas destas empresas não se aguentem. E os mais pequenos? Tenho visto como tantos se têm adaptado, mudado funções, acrescentando mordomias, mercearias e pequenos supermercados que passaram a levar as coisas a casa, o Expresso é entregue à porta, restaurantes que passaram a take away. Aqui no meu bairro nada fechou as portas.

Isto tudo por causa da covid-19. E ainda há bestas que se revoltam com medidas para evitar a transmissão! 

Viva a máscara, a distância social e a higiene! Abaixo a irresponsabilidade individual! Isto tem de acabar! 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Fazer nada pode ser muito

 

226º dia do recomeço do blog


Não ouvi nem vi noticiários durante o dia. Ouvi música e li. Liguei a televisão pouco antes das 20h30, enganada pela programação que dizia ser uma nova série da Cândice Renoir. Não era, já tinha visto aquele episódio mas fiquei e gostei de rever. Daí mudei de canal e vi O Voice de Portugal, que ainda não acabou. 

Estes concursos de descoberta de cantores mostram que há uma imensidade de gente com muita categoria. Mas pergunto-me sempre e com pena o que será da vida deles. A vida de artista é tão frágil, insegura, instável, haverá lugar para todos? Ali alguns com as mulheres e os filhos a assistirem, ainda há pouco um contou que deixou o trabalho há pouco tempo para se dedicar à vida artística. Que tenham sorte!

Fui então sabendo as novidades do dia por um ou outro post do FB. Verdadeiramente não sei o que se passou. Amanhã recupero mas estive livre das notícias da pandemia. Pela minha parte como estive todo o fim de semana em casa cumpri completamente os cuidados de protecção.

E amanhã a que horas acordarei? Um bocadinho mais tarde do que ontem, por favor.

domingo, 25 de outubro de 2020

Acordar às 7h, desculpem, às 6h.

 

225º dia do recomeço do blog



Acordei. Li as 7 horas no despertador sem alarme ligado. Ligo o tablet e confirmo que a hora mudou e são 6 horas.

O meu relógio matinal fez-me ir tomar o pequeno almoço e regressar à cama onde estive a ler, entre o livro que tenho em mãos, Cinza e Poeiras, um policial islandês e o Público que recebo on line.

A escritora do livro chama-se Yrsa Siguardardottir. Até há pouco tempo seria um nome difícil de ler mas desde que aprendi que na Islândia o Dottir que faz a terminação dos apelidos quer dizer filho de, só tenho de decorar parte do nome e juntar-lhe a terminação. Aliás como Rabinovitch será filho de Rabinov, na Rússia e por cá há muitos anos Henriques seria filho de Henrique.

Voltando à mudança de hora, com o atraso da mesma o inverno já de si escuro, chuvoso, ficará ainda mais escuro. O fim do dia anoitece mais cedo. Alguma vantagem? Talvez, sabe ainda melhor o recolher, o dedicar-se a actividades diferentes, há muito quem leia mais, que faça mais material que vou chamar de artesanato, malha de lã, fazer compotas, trabalhar objectos de joalharia, moldar barro etc.

E sobretudo pensar como será bom quando a hora voltar a avançar!

sábado, 24 de outubro de 2020

Vinicius de Moraes - Dia da Criação (Porque Hoje é Sábado)

Porque hoje é sábado

 

225º dia do recomeço do blog


Dia da Criação

Hoje é sábado, amanhã é domingo

A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu
na Cruz para nos salvar.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos
meu Deus de todo mal.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão
repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

Ii

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Quem te avisa teu amigo é

 


224º dia do recomeço do blog


Conselho antigo de Trás-os-Montes, ouvido hoje.


Leitão de mês
Cabrito de três
Mulher de 18
Homem de 23

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

carne da matança do porco e canja de galinha

 

223º dia do recomeço do blog

Já há anos fui convidada para assistir à matança do porco. Aliás fui várias vezes convidada e em terras diferentes. Nunca achei muita graça mas aproveitei para ver ao vivo. E descobrir diferenças, não no porco mas na festa gastronómica que se lhe seguia.

Nem a matança nem as comidas frescas de porco acabado de matar me agradaram. Sangue cozido, fígado frito em "entretinho" como diziam, que penso ser a parte de gordura externa do estômago e outras iguarias que deliciavam os presentes.

Mas uma dessas matanças foi numa casa de uma aldeia ribatejana. A piada é que a festa, de facto era para os homens. Matar, desmanchar o bicho era um homem contratado para o efeito. Os pedaços de carne foram entregues às mulheres, que estavam na cozinha e iam cozinhando. Eles estavam numa sala que não era habitualmente de jantar, com pão, vinho, nozes e figos secos e aguardando que uma mulher lhes fosse levando as comidas conforme acabassem de ser feitas. Não ficavam lá, entregavam e voltavam para a cozinha.

Acabado o repasto das carnes do porco não faltou o arroz doce, amarelo e seco como é uso naquela terra.

Para as mulheres, apesar do trabalho, aquilo também era uma festa. Viam como natural não estarem na sala com os maridos, os irmãos, os filhos porque era tudo da mesma família.

Durante este tempo esteve ao lume uma panela com uma galinha a cozer. Depois deitaram-lhe a massinha.

Canja foi a comida de mulheres, o almoço na cozinha. E que boa que estava!