domingo, 2 de setembro de 2012

Aconteceu...cachupa? Moamba? Não há e que tal uma aguardente velha?

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Sábado de Agosto em Lisboa, o Metro ia cheio, gente de chinelos, shorts, chapéus ou cabelo ao vento - Lisboa tem sempre algum vento, chegada a estação dos Restauradores quase todos saíram, andava-se em passos pequenos que não havia espaço para mais.
Turistas estrangeiros, predominava a língua francesa, mas também portugueses como eu. A Baixa estava uma festa!
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Um pouco antes das 13 horas procurei a tenda de África, no Martim Moniz. Tinham cachupa e moamba. Óptimo, vamos a isso. Mas era preciso esperar que a comida estava ao lume. Com uma imperial na mão e encostada ao balcão, fiquei vendo, ouvindo, caramba, aquele sábado era dia de descanso e tinha tempo.
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Duas africanas lá dentro, ao lume, nuns fogões com ar frágil, tomavam conta de duas panelas que estavam ao lume, lamentando-se da falta de força da electricidade... a cachupa nunca mais apurava e a moamba também custava a aquecer.
Palavra puxa palavra, lá foram dizendo que não estavam autorizadas por contrato a usar gás e a electricidade ali "não prestava".
E mais, que na semana a seguir iam aumentar os preços porque a renda era cara.
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Dou-me então conta que havia quem tivesse encomendado antes de mim. Afinal as cozinheiras desistiram de servir cachupa e só havia moamba e a senhora começou a servir, um, dois, três, quatro pratos e a fuba acabou. Reparei então que os tachos eram do tamanho dos que tenho em casa e a fuba, já pronta estava numa taça tamanho saladeira familiar. E agora que a fuba acabou? Vou já fazer mais, e pôs um tachinho ao lume, à espera que a água fervesse. E em resposta disse-me que com aquela electricidade demoraria uma hora.
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Eu estava ali há 40 minutos e ainda ia esperar uma hora?!?!? E parece-me que nessa altura, com as pessoas que aguardavam, não chegaria para mim. Paguei a cerveja e fui à procura de outro sítio. Seguiram-me seis pessoas que também aguardavam, ficando ainda uma fila de gente, na altura já esfomeada.
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Claro que aquelas senhoras devem ter dificuldade em pagar a renda. Pois metem-se a gerir um restaurante sem saber como se faz, como se calcula a comida, e com que antecedência se deve fazer a comida!
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A ideia de organizar um conjunto de barraquinhas com comida de várias zonas é interessante, mas se todas são como esta, funciona mal. É pena!
 
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Poema - Vitorino Nemésio

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TENHO UMA SAUDADE TÃO BRABA

Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.

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Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.

Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.

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Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.


sábado, 18 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Aconteceu...fuga no areal

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Pela areia fora, passa por mim a chorar. Da boca bem aberta saía um choro sonoro, forte, enquanto a cara estava toda coberta de lágrimas. Olhei à volta, não percebi se alguém o acompanhava, aparentemente estava sozinho, eventualmente perdido.
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Olhei-o de costas, lá ia ele, pequeno e magrito, talvez uns dois anos, mais mês menos mês. Sigo-o, disposta a socorrê-lo julgando-o perdido.
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Mas reparo que uma senhora que ia na mesma direcção mas bastante mais atrás, acelera o passo e ultrapassando-me, agarra-o.
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Uma da tarde na praia, num dia quente, Algarve com o seu vento levante, que nos afaga com memórias do deserto.
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A criança cruza-se comigo já ao colo da mãe, resistindo e mantendo o mesmo choro intenso e olhando para os terrenos que abandonava. O meu olhar e o da mãe cruzam-se, e sugiro quase como justificando-o que talvez esteja com sono.
A mãe pára e conta-me brevemente que não é nada disso, lá do longe viu uma bola dos senhores que jogavam raquetes e era de ideias fixas, queria-a. Comento ao miúdo, como que querendo-o acalmar, que amanhã ele poderia trazer uma bola para brincar. De forma afirmativa, a mãe diz que não vale a pena, "nunca quer nada do que lhe trazemos, só quer as coisas dos outros". E remata "É a minha sina", seguindo pela areia.
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Fiquei muito incomodada. Julgo que aquela díade, mãe e filho, precisariam de ajuda, mas num brevíssimo cruzamento esporádico de praia, que fazer?
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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Poema - Jorge Sousa Braga

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O VENTO
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Por mais que tente, o vento
não consegue adormecer
se não tiver nada para ler.
Seja uma folha de tília,
de bambu ou buganvília.

É por isso que o vento
arrasta as folhas consigo,
até encontrar um abrigo,
onde possa adormecer.
- arrastou até a folha
onde eu estava a escrever!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

sábado, 28 de julho de 2012

Acontece...nada é certo, joguemos com o imprevisto

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Há dados adquiridos, ou que julgamos ter, como um Inverno frio e chuvoso e de Junho em diante estar bom para a praia. São experiências antigas, hoje convicções quase delirantes. É que às vezes as contas saiem furadas, e parte do inverno deste ano postei o céu sempre azul. Estamos em Julho, que era suposto ter bom tempo, mas que tem oscilado entre temperaturas muito altas, com os inevitáveis incêndios, chuvas torrenciais com queda de granizo, ou temperaturas de início de Primavera.
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No Algarve, onde as pessoas procuram calor e águas mornas, há desde há uma semana um vento sud-oeste, temperaturas baixas para a época, a exigir um agasalho ao fim do dia como se na costa ocidental nos encontrássemos.
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Mais do que peixe grelhado, ou saladas frias, o que apetece é sopa de peixe bem quentinha, açorda ou xarém, comidas mais de inverno que de verão.
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Ontem começou a Feira da Serra em São Braz de Alportel, este ano dedicada ao medronho e seus diversos usos. Receio que com os incêndios de há 2 semanas nas serras de São Braz e de Tavira, para o ano não haja medronheiro algarvio pronto a dar fruto.