.
CALÇADA DE CARRICHE
.
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,sobe que sobe,
sobe a calçada.
quinta-feira, 8 de março de 2012
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Poema - David Teles Pereira
.
PARÁBOLA DA CULINÁRIA MEDITERRÂNEA
.
A poesia é como as ovas de ouriço-do-mar
sabe melhor com um pouco de acidez
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Acontece...que as memórias têm de ser regadas.
.
Numa moradia recuperada, discreta, bonita e muito,agradável para o visitante, está situada na cidade da Horta a Casa Museu Manuel de Arriaga de onde o que veio a ser o 1º Presidente da Republica portuguesa era originário.
Fotos, vídeos, material impresso, depoimentos visionados, ali se fala da queda da monarquia, da implantação da Republica e da história da 1ª Republica.
Nada mais oportuno para se visitar nesta altura, aberta em Novembro de 2011, poucos meses antes do Governo abolir o feriado comemorativo do 5 de Outubro 1910, e nesta altura de crise.
Discordo destas atitudes restritivas como a abolição dos feriados comemorativos de datas importantes. São empobrecedoras da memória colectiva. Se mesmo agora com o feriado há quem não saiba nada da nossa história passada, com a abolição dos feriados, dias de descanso ou de festejo, imagino que a situação agravará ainda mais.
É bom não esquecer a importância das marcas na organização do pensamento. E das festas, como função terapêutica antidepressiva.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Poema - Manuel António Pina
.
RESPOSTA
.
Algo mais elementar que o espaço e o tempo,
e a escuridão luminosa do Areopagita,
uma hipótese ilegível, antes do pensamento,
uma sílaba só de uma palavra não dita,
.
sem sentido e sem finalidade, apenas uma ocasião,
como um olho único e cego que vê
do fundo da sepultura da razão,
vaste comme la nuit et comme la clarté.
.
Um sonho
de uma sombra de quê?
RESPOSTA
.
Algo mais elementar que o espaço e o tempo,
e a escuridão luminosa do Areopagita,
uma hipótese ilegível, antes do pensamento,
uma sílaba só de uma palavra não dita,
.
sem sentido e sem finalidade, apenas uma ocasião,
como um olho único e cego que vê
do fundo da sepultura da razão,
vaste comme la nuit et comme la clarté.
.
Um sonho
de uma sombra de quê?
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Acontece...que estamos mais pobres no bolso e no património
.
Desde que começaram estes tempos difíceis, tem sido impressionante a quantidade de lojas de compra de ouro que têm aberto.
.
No sábado, indo de táxi, pude olhar despreocupada que estava da condução, e num muito curto percurso, nada menos que 4 lojas.
.
Comentei isso com o taxista que remeteu logo para o Salazar, que só queria barras de ouro e as pessoas viviam na miséria.
Não contestei mas não era esse o meu incómodo no momento.
.
Praticante amadora de joalharia que sou, é uma arte a que estou razoavelmente atenta.
A parte reservada a jóias que existem nos museus faz parte dos meus roteiros.
Jóias desde os primórdios dos tempos até aos nossos, passando pelos vários séculos que se intervalam, mostram-nos aspectos muito interessantes e esclarecedores desta arte.
.
Esta semana, estando numa aula de um curso livre de História da Joalharia, dei por mim a beber com olhos e ouvidos, os ensinamentos do professor e as imagens projectadas de objectos artísticos de há muitos séculos.
.
Tal como qualquer arte, também a joalharia tem modas, o que permite classificá-las e compreendê-las atendendo à sua época.
Os metais nobres são materiais com qualidades especiais, nomeadamente a capacidade de serem fundidos e transformados em matéria original para serem reconstruídos mais ao sabor da moda. Assim muitas coisas se perderam. Mas não todas, felizmente.
.
Não sabemos o que está a ser vendido nesta época de crise. Eventualmente muitas peças representativas de épocas, estilos, estéticas. Penso sabermos que quase tudo é fundido e transformado em lingotes, transportados para países compradores.
.
Não sabemos que património português se está a perder.
As autoridades deveriam estar atentas. Todos os dias ficamos mais pobres, nos bolsos e no património.
Etiquetas:
história da joalharia,
jóias,
lojas de compra de ouro
Subscrever:
Mensagens (Atom)