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Terá sido o dia maior do ano,
O dia em que o pôr-do-Sol foi mais tardio,
Mas eu não tive tempo para vir por aqui.
terça-feira, 21 de junho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Poema - Manoel de Barros
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O FOTÓGRAFO
Difícil fotografar o silêncio
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem da calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a nuvem na calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
domingo, 19 de junho de 2011
sábado, 18 de junho de 2011
Aconteceu...a estética ou o gosto das massas
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Por vezes duvido se podemos ignorar certos fenómenos de massas. A minha estética, a minha doutrina é sempre melhor que a outra, pensamos todos e eu também. Tenho princípios que mantenho! Muitos dirão que sou uma snob. Ok, assim seja!
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Assim morando há perto de 60 anos na cidade de Lisboa, digo com algum orgulho, eventualmente completamente idiota, que nunca fui ao Cacém, como se isso me diferenciasse dos suburbanos. Também considero a música e os espectáculos que gosto os melhores.
Hoje liguei a RTP1. Vi a Avenida da Liberdade transformada em horta. Achei giríssimo!
Haverá alguém que se lembre aqui há uns anos de uma entrevista à porta de um ciclo preparatório, em que o jornalista perguntava aos alunos se já tinham visto campos de esparguete? Pois a grande maioria respondeu que não, que eram da cidade, raramente iam ao campo... Será que esta horta pode abrir horizontes às pessoas?
Até porque eu acredito que um dia próximo será feliz quem tiver um bocadinho de terra onde possa plantar umas batatitas...
Haverá alguém que se lembre aqui há uns anos de uma entrevista à porta de um ciclo preparatório, em que o jornalista perguntava aos alunos se já tinham visto campos de esparguete? Pois a grande maioria respondeu que não, que eram da cidade, raramente iam ao campo... Será que esta horta pode abrir horizontes às pessoas?
Até porque eu acredito que um dia próximo será feliz quem tiver um bocadinho de terra onde possa plantar umas batatitas...
Mas isto vinha a propósito do pai Carreira, o Tony. Talvez seja a primeira vez que assisti a uma parte do espectáculo, via RTP1, da sua actuação.O público ocupou toda a praça dos Restauradores e subiu pela avenida. Não me lembro de uma tão grande densidade de pessoas nos discursos actualmente no 25 de Abril ou outros dias importantes.
Milhares de pessoas, predominantemente mulheres, ouviam e cantavam música a música. Ouvi e não consigo gostar. Mas tantas gostam! Talvez não conheçam outros artistas que admiro, mas este muda vidas.
Ficamos por assim ou devemos fazer alguma coisa em termos da educação da estética? (novamente snobismo, arrogância e outras que tais?)
Etiquetas:
estética,
estratégias,
gosto de massa,
publico
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Poema - Ana Hatherly
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AS IMPENSÁVEIS PORTAS DA ILUSÃO
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O que é que leva o meu barco
para esta praia
onde um poder esquivo
se contenta
com a ambígua oferta de palavras?
.
Estamos aqui
no exíguo barco do desejo
exibido
na frágil singularidade do verbo
.
Insatisfeitos sempre
aguardamos
que se abram
as impensáveis portas da ilusão
AS IMPENSÁVEIS PORTAS DA ILUSÃO
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O que é que leva o meu barco
para esta praia
onde um poder esquivo
se contenta
com a ambígua oferta de palavras?
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Estamos aqui
no exíguo barco do desejo
exibido
na frágil singularidade do verbo
.
Insatisfeitos sempre
aguardamos
que se abram
as impensáveis portas da ilusão
quinta-feira, 16 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Poema - José António Almeida
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FLOR
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Algures por esses campos em volta
desta mesquinha vila da província
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deve haver ao menos uma flor.
Agora vou falar acerca dela:
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não é necessário ter muita fé
para saber que essa pequena planta
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existe, tem o caule débil, pétalas
de vermelho, mede poucos centímetros.
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É mais do que provável que no vento
ondule sob o sol cor de açafrão.
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