sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poema - Vinicius de Moraes

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CINEPOEMA
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O preto no branco
Manuel Bandeira
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O preto no branco
A branca na areia
O preto no banco
A branca na areia
Silêncio na praia
De Copacabana.
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A branca no branco
Dos olhos do preto
O preto no branco
A branca no preto
Negor absoluto
Sobre um mar de leite.
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A branca de bruços
O preto pungente
O mar em soluços
A espuma inocente
Canícula branca
Pretidão ardente.
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A onda se alteia
Na verde laguna
A branca se enfuna
Se afunda na areia
O colo é uma duna
Que o sol incendeia.
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O preto no branco
De espuma da onda
A branca de flanco
Brancura redonda
O preto no banco
A gaivota ronda.
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O negro tomado
Da linha do asfalto
O espaço imantado:
De súbito um salto
E um grito na praia
De Copacabana.
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Pantera de fogo
Pretidão ardente
Onda que se quebra
Violentamente
O sol como um dardo
Vento de repente.
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E a onda desmaia
A espuma espadana
A areia ventada
De Copacabana
Claro-escuro rápido
Sombra fulgurante.
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Luminoso dardo
O sol rompe a nuvem
Refluxo tardo
Restos de amarugem
Sangue pela praia
De Copacabana...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aconteceu...em viagem, nomes bons para jogos de palavras

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A auto-estrada São Paulo Rio de Janeiro, tem um rígido controle da velocidade, que no máximo é de 120, mas pode uns metros à frente passar a 80 e logo de seguida a 100 km/hora. Há frequentes postos da polícia. Funciona a "lei seca", um copo de cerveja já acusa no aparelho da polícia. Diz que houve franca diminuição de acidentes com estas medidas.
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Atravessam-se extensas zonas variadas, de serra e de pasto agora seco.
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O carro é sobrevoado por bandos de aves de rapina pretas, asas grandes. São urubus, aves necrófilas, que procuram cadáveres para se alimentar.
Nos pastos vêm-se muito gado. Chamou-me a atenção umas vacas brancas, semelhantes às sagradas indianas. Também estas estavam esqueléticas, o que me espantou. São de facto bois nelori, uma raça zebuína, a mesma das indianas. Gostam do calor e dão-se bem por aqui. O gado no Brasil alimenta-se de pasto, e não de ração, e o facto de se estar numa época "entre safra" faz com que agora não estejam prontos para a engorda. Parece que esta raça nunca ficará gorda como outras qualidades de bois, mas que a carne é muito saborosa.
O Brasil é um grande produtor de carne de vaca. Com os inúmeros puns das mesmas, contribui certamente bastante para o aquecimento global.
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Placas para sair da auto-estrada, com nomes de terras vão aparecendo, umas bem portuguesas como Queluz, Resende ou Penedo.
Outras de origem índia como Itaquaquecetuba, Caraguatatuba, Caçapava, Pindamonangoba, Guaratingueta.
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E pronto, toca a jogar à forca e ganhar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Aconteceu...arte urbana

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...................................Foto - Magda

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poema - Manoel de Barros

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EXPERIMENTANDO A MANHÃ DOS GALOS

... poesias, a poesia é

- é como a boca
dos ventos
na harpa

nuvem
a comer na árvore
vazia que
desfolha a noite

raíz entrando
em orvalhos...

floresta que oculta
quem aparece
como quem fala
desaparece na boca

cigarra que estoura o
crepúsculo
que a contém

o beijo dos rios
aberto nos campos
espalmando em álacres
os pássaros

- e é livre
como um rumo
nem desconfiado...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aconteceu...em viagem, ele há cada história!

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No avião rumo ao Rio de Janeiro, sentou-se a meu lado um homem de meia-idade, aspecto simples e rural.

Ainda estávamos em terra, e toca o telemóvel dele. Ouvi-o atender e surpresa, dar ordens sobre a rega dos tomates e dos pimentos, com pormenor de horário e quantidade de rega.

Manteve o telemóvel ligado e já no ar um novo telefonema e as ordens eram sobre a rega dos pepinos. Confesso que fiquei perdida de riso...e de curiosidade.
Como nenhum tripulante lhe deu nenhuma indicação directa sobre medidas de segurança como o desligar do telemóvel, disse-lhe eu. Ficou aflito e desligou-o, e aproveitou para me contar a sua aventura. Era a primeira vez que andava de avião.


Era de uma aldeia do centro do País e nunca tinha viajado mais do que uns quilómetros em roda da sua terra. Pequeno agricultor, tinha empregado para trabalhar consigo uma brasileira. Aqui falou de uma maneira especial, baixou a voz como se de um segredo se tratasse. Só que ela, na semana anterior, sem aviso prévio e sem que ele percebesse o porquê quis voltar para o Brasil. Disse-me que ela lhe fazia muita falta, tinha quase chorado, implorado para que ficasse, mas ela tinha partido.

Uns dias depois ela telefonou-lhe, arrependida, queria voltar para Portugal, pediu-lhe que ele a fosse buscar. Com o coração aos pulos, dispôs-se a ir, sem hesitar. Arranjou um vizinho que lhe ia tratar de regar as hortas durante a sua ausência. E lá estava ele, já com dois bilhetes comprados de volta para dois dias depois.
Não sabia onde ela se encontrava, só tinha o número do telemóvel. À saída desejei-lhe boa sorte.
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A brasileira tinha-lhe dado a volta ao coração...e à cabeça.
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Quanto aos tomates, pimentos e pepinos, esperemos que o vizinho tenha sabido cuidar.

domingo, 31 de outubro de 2010

sábado, 30 de outubro de 2010

Poema - Ferreira Gullar

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MEU PAI
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meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem

quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro