segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aconteceu...o Ministério da Educação não EDUCA as crianças e os jovens no comer bem

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Cheguei só agora a casa, tarde, e acabei de comer um prato de sopa, que estava muito boa. Não fui eu que a fiz, mas sei que tinha vários legumes passados, entre eles abóbora (estava amarela), e sei que não tinha batata, porque cá em casa não é uso pôr. A nadar estavam espinafres, ou seriam nabiças? Que bem me soube!
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É um fenómeno curioso o facto das crianças a partir de certa idade, deixarem frequentemente de gostar de sopa e de fazerem uma fita para a comer.
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Também é curioso que uma boa sopa de legumes, sendo dos alimentos mais ricos, não seja uso em muitas casas.
Sei que os legumes são caros, mas por 8-10 € faz-se uma boa panela que dá para várias pessoas ou para vários dias se a freguesia for pequena. E se levar um punhado de feijão, grão, lentilhas e outros legumes que tais, até tem calorias que podem compensar a falta de carne e peixe.
Portanto, é um alimento muito completo, relativamente barato e que não dá assim tanto trabalho a fazer.
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Coitado do meu Pai, com as suas regras, que dizia "Quem não tem fome de sopa, não tem fome de mais nada", e depois corrigia para apetite, porque dizia ele que fome é de oito dias. E era pegar ou largar.
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Fiquei arrepiada com uma notícia de li um destes dias. O Ministério da Educação terá assinado contrato para máquinas dispensadoras de alimentos, a pôr nas escolas.
Parece-me que andamos para trás. Sei o que se pode comprar nessas máquinas, tínhamos uma no serviço, que para além de tudo, gerava cenas entre os pais e os filhos pedinchas. Ali se encontravam pães com aditivos, chocolates, leites com chocolate, bolachas cheias de calorias e garrafas de água, quando a água da torneira é, pelo menos em Lisboa, de muito boa qualidade.
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Quem quer inventar máquinas dispensadoras de sopa fresca e de saladas, leite simples e iogurtes, tudo produtos do dia?
Quem sabe se não fazia negócio.
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Ou, e porque não seguir o exemplo da Inglaterra, onde o Jamie Oliver anda a ensinar nas escolas como comer bem?

domingo, 10 de outubro de 2010

sábado, 9 de outubro de 2010

Poema - Filipa Leal

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ODE LOUCA
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Todos os homens têm o seu rio.
Lamentam-no sentados no interior das casas
de interior e como o poeta que escreve a lápis
apagam a memória como a sua água.
Os rios abandonam os homens que envelhecem
longe da infância, e eles choram
o reflexo absurdo na distância.
Por vezes enlouquecem os rios, os homens,
os poetas nas palavras repetidas
que buscam uma ode que lhes diga
a textura. Todos procuram o mesmo:
um lugar de água mais limpa
ou um espelho que não lhes negue
a hipótese do reflexo.
O rio sofre mais do que o homem,
o poeta,
porque dele se espera que nos devolva
a imagem de tudo, menos de si próprio.
Todos os rios têm o seu narciso, mas poucos, muito poucos,
o simples reflexo das suas águas.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aconteceu...que as formigas não eram almas do outro mundo

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Sentada à minha secretária, vejo um risco preto, oblíquo, móvel, que vai do chão até à janela. É um enorme carreiro de formigas.
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Aconteceu-me há uns anos uma situação caricata que vou relatar. Estava numa consulta a conversar com os pais de um rapaz que tinha umas alterações do pensamento e da percepção, via umas coisas que só ele via, e que o estavam a deixar perturbado e à família também. Acontece que pai e mãe tinham compreensão distinta da situação. Para a mãe, o filho estava doente, para o pai, homem rural, estava possuído e nem percebia que valesse a pena a consulta.
Por hábito, aceito sempre, inicialmente, as opiniões dos pais, e interesso-me por elas. Por isso estávamos a ter uma conversa sobre esses assuntos exotéricos, de almas, bruxedos, relacionadas com a cultura e a vida do pai.
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Lembro-me bem que foi o primeiro dia de frio desse ano, pelo que, a certa altura me levantei e arrastei o aquecedor para mais perto de nós.
Quase em simultâneo se vê um objecto estranho que estava debaixo do aparelho, branco e coberto de coisas minúsculas pretas que se puseram em movimento e encheram e coloriram de preto parte da parede. Não era um carreiro, era uma enorme mancha difusa, milhares de formigas, uma coisa como eu nunca tinha visto.
Abri a porta e um chamei com urgência, quiçá um pouco alvoroçada, uma auxiliar, que veio e trouxe um spray dizimador. Pais e eu aguardamos o fim da operação em pé para continuar a consulta.
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E não sei se por hábito com as aflições do marido "crente", se por alguma inquietação minha, a mãe tocou no meu braço, agarrou-me e disse-me "Calma doutora, são só formigas!".
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E eu fiquei. Mas parece que preciso outra vez do spray.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Poema - Casimiro de Brito

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MEUS PENSAMENTOS SÃO NÓMADAS
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Meus pensamentos são nómadas
e vagarosos
como a água que vem da montanha
e não sabe nada
do coração dos homens. O meu, por exemplo,
tem a leveza do vento
e corre para casa como se fosse
um cão que precede
os passos do dono.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Aconteceu...muitas rotundas para os carros e uma escola quase sem recreio para as crianças

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Dizia-me ontem um habitante da cidade de Viseu, com orgulho franco e sorriso rasgado, que a cidade já tinha 170 rotundas. Percebi que o progresso se mede em redondéis, prédios altos, centros comerciais e outros que tais.
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No mesmo distrito, em Tarouca, levaram-me a visitar por fora a nova escola primária, edifício de boa construção e grande. Gradeamento à volta, mas... onde é que está o recreio? Lá me mostraram um bocadinho de terreno que ficava ali até ao portão. E que, como as crianças não cabem lá, o recreio é faseado.
Mesmo assim não dá para correr ou jogar à bola.
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Diariamente ouvimos as senhoras professoras, a queixarem-se das crianças turbulentas, hiperactivas. Muitas vezes encaminham as crianças para o médico especialista na esperança que saia de lá com um remédio que o torne mais quieto.
Depois de ver aquele espaço minúsculo, fiquei com vontade de sugerir a construção de uma rotunda sem carros mesmo ao pé da escola. E sem escultura, só aplanada, com uns apetrechos de brincar, umas balizas, uns cestos de basquetebol, marcas no chão para se jogar à macaca ou ao avião, e espaço, espaço para que as crianças possam brincar, correr e gastar de forma satisfatória as suas energias nos intervalos escolares!
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Virá daí mal ao mundo se transferirem uma das rotundas de Viseu, e a cidade ficar só com 169?