sábado, 31 de dezembro de 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Aconteceu...na esteira do filme "O Miúdo da Bicicleta"

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Poucos minutos depois de começar o filme lembrei-me dela. Que será feito daquela miúda, hoje adolescente crescida?
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A mãe, toxicodependente e prostituta, tinha morrido de SIDA. O pai, imaturo e sem laços seguros com a filha, rejeitou-a colocando-a em casa dos avós. Tentaram os maternos e os paternos mas ela fugia sempre à procura dos pais.
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Foi então colocada em várias instituições, e de todas fugia. De camionete ou de comboio, era sempre encontrada só, mas em sítios onde estivera com os pais, a quem, idealizando, tudo perdoava.
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Ao contrário de Samantha, personagem do filme "O Miúdo da Bicicleta", que lutou por criar vínculo, dando amor e contenção, ela andou em vários centros de acolhimento, cortando quaisquer laços criados.
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Acompanhei-a ao longo deste atribulado percurso, tentando ser uma âncora. Mas o caminho deixou de ter retorno e a entrada no perigo foi inevitável..
Absentismo escolar, integração em grupos de jovens da rua, esse foi o seu destino. Era encontrada em muito mau estado, levada de volta para a instituição, mas nesse mesmo dia conseguia fugir.
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Terá sido essa a forma de "se encontrar" com a mãe?
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O fim do filme permite imaginar um final feliz...será?.
O filme não nos dá a conhecer as motivações da Samantha, que o acolhe e mantém, mesmo que para isso tenha de se separar do seu namorado.
E já agora, quais as motivações dos Irmãos Dardenne, que têm vários filmes deste teor?

domingo, 25 de dezembro de 2011

Poema - Álvaro Feijó

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NATAL

Nasceu.
Foi numa cama de folhelho
entre lençóis de estopa suja
num pardieiro velho.
Trinta horas depois a mãe pegou na enxada
e foi roçar nas bordas dos caminhos
manadas de ervas
para a ovelha triste.
E a criança ficou no pardieiro
só com o fumo negro das paredes
e o crepitar do fogo,
enroscada num cesto vindimeiro,
que não havia berço
naquela casa.
E ninguém conta a história do menino
que não teve
nem magos a adorá-lo,
nem vacas a aquecê-lo,
mas que há-de ter
muitos Reis da Judeia a persegui-lo;
que não terá coroas de espinhos
mas coroa de baionetas
postas até ao fundo
do seu corpo.
Ninguém há-de contar a história do menino.
Ninguém lhe vai chamar o Salvador do Mundo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Poema - José Alberto Oliveira

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A INOCÊNCIA tem um preço.
A maioria recusa pagá-lo.
Lá em cima, cortejando o sol, o milhafre vigia.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poema - Aníbal Raposo

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AUSÊNCIA
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É estranho...
Quando deixas a ilha
Sinto os meus dias prenhes
Do imenso vazio da tua ausência

Resta o teu cheiro...
No quarto, na almofada da cama
Em cada canto da casa...

Confesso que nunca o sinto assim tão à flor da pele
No compasso
voraz do nosso dia-a-dia

Só então me apercebo
Como a usura do tempo
Traça, sem darmos conta, superfícies planas
Esbate, sem piedade, as vivas arestas
Da cor dos nossos sentimentos

Amo-te em fogo juvenil quando estás longe

Habituo-me a ti
Se estás por perto.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aconteceu...dolorosa descida à terra

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Conheço-a há muito tempo. Anda quase sempre bem disposta, ri, fala, é frequentemente o centro da festa. A alegria e a vivacidade, com um humor mais para o eufórico, tudo são facilidades, dona de tudo, cheia de entusiasmo, numa roda viva que ocupam o tempo quase todo. Tanto, tanto, que quase cansa de estar com ela. Com uma pequena curiosidade, ela...nunca se cansa.
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Um dia parece que aterrou no chão, pés assentes na terra e a cabeça só pensava...que não tinha tantas razões para andar tão satisfeita, que a vida é difícil e o futuro preocupante, que há situações que nem sempre se dominam. As cores brilhantes que povoavam a sua cabeça mudaram, tudo era a preto e branco.
Ficou cabisbaixa, triste, sempre cansada. 
Adormecida entrava logo nuns sonhos tristes, em que não se vislumbrava uma saída para a história interna por ela inventada a dormir. Até os sonhos contribuíam para aumentar o desânimo.
Começou a isolar-se. Foi preciso pedir ajuda médica e psicológica.
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Eventualmente ambos os estados pertencem à mesma moeda. Mas quem não gosta mais da euforia que da tristeza?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Poema - Nuno Júdice

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RECEITA PARA FAZER O AZUL
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Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de ouro da areia
do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.
Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez
ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre
na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes, sem que
possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Aconteceu...no dia em que Gonçalo Ribeiro Telles foi homenageado

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Lisboa, 2ª circular, o dia a despedir-se e a cruzar-se com a noite que desce.
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Velocidade do carro 30 km/h. Mais uns metros e o carro começa a andar mais devagar, e ainda mais até que pára juntando-se à fila da qual se já não vê o fim.
É assim todos os dias e quase a todas as horas.
Podia ser uma maçada estar ali parada. De manhã, atarefada e com horas a cumprir é aborrecido. Mas agora...
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Estou virada para Monsanto. Ao longe , os edifícios das Torres de Lisboa e de Benfica ficam uns paralelepípedos negros. Ao fundo um céu a escurecer, e umas nuvens discretas como se fossem manchas de aguarela.
As luzes dos faróis traseiros, vermelhas, enchem as várias faixas de automóveis, criando riscos intermitentes. Do outro lado são as brancas dos faróis dianteiros.
Gosto de olhar as manchas que se vêem da cidade, as algumas poucas luzes já acesas nalguns prédios, gosto de olhar e fantasiar, imaginar histórias que se estarão a passar ou melhor poderiam estar a passar-se ou que até nunca poderão existir. Não dou pelo tempo.
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E sem me dar conta, envolta nos meus pensamentos-sonhos chego a casa.

E então pensei no Duarte e em tantos outros entusiastas da ecologia, do transporte em bicicleta, a pé, de comboio. Aquele meu tempo de sonho é poluente. Desculpo-me com o facto do percurso ser curto. 3 km de isolamento egoísta.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Poema - Álvaro de Campos

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"Já somos sisudos, tristes, e pobres. Como ficaremos?". Assim acabava o texto do feriado finado. Agora já sei na pele uma das respostas possíveis.
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TENHO UMA GRANDE CONSTIPAÇÃO
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Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem
espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Aconteceu...Paz à sua alma!

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Aproveito hoje o último feriado a 1 de Dezembro. O governo português assim o decretou.
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Nos próximos dois anos não se irá notar a ausência de feriados, pois quer em 2012 como em 2013, o 1º de Dezembro cairá ao fim de semana.

Claro que há sempre o risco de nos tirarem o fim de semana, ou um dos seus dias.

Um disparate se julgam que estas horas são preciosas para o trabalho/rendimento! (deixo de lado a importância de homenagear certos acontecimentos/datas)

Mas, o mais importante para mim, é o incentivo de trabalhar e depois poder descansar, desintoxicar, libertar e tentar lutar contra a depressão que nos invade dia a dia.

Dizem que há muitos feriados, o que não é verdade comparado com outros países da Europa.
Já somos sisudos, tristes, e pobres. Como ficaremos?

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

Poema - Ricardo Reis

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CADA COISA A SEU TEMPO TEM SEU TEMPO

Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E casuais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do Sol) —

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.


E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõe roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Aconteceu...regresso à lareira

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Há épocas da vida em que gostamos de certas coisas. Depois deixamos de gostar e mais tarde, muitas vezes gostamos de novo.
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Estava a pensar nas casas de aldeia onde moraram bisavós e onde em crianças gostávamos de ir.
Há décadas eram as experiências de brincar com as bonecas de pano que as vizinhas tinham, fazer cozinhados para as alimentar com aquela erva que tem uns grãos e cresce nos telhados. O ir aos figos, andar no carro puxado a animais e que partilhávamos com os recipientes que nas vindimas iam vazios e vinham cheios a caminho da adega.
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Só que estas brincadeiras, na puberdade e adolecência Deixam de ter piada. Os interesses são outros.
E um grande interregno se fez.
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Igual história se repetiu com os filhos. O automóvel já permitia passeios às praias, visitas e turismo que entusiasmavam os rapazes. Mas a idade avança e tal como à mãe na mesma idade, a aldeia desinteressou.
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E agora com os netos, recomeçará tudo de novo? A casa, triste de abandonada deve agradecer.

domingo, 20 de novembro de 2011

sábado, 19 de novembro de 2011

Poema - Alberto Caeiro

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Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aconteceu...água mole em pedra dura fura sempre?

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Numa certa fase da minha vida, no antigo 7º ano, tive umas explicações de física. Uma professora certamente sabedora, cumpridora e exigente. Mas quanto a psicologia, achei eu na altura, era péssima. Ou seria realista? pergunto-me eu agora. E ter-me-à feito algum mal o que me disse?
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Eu conto. Nessa altura da minha adolescência tive um período de grande interesse por muitas coisas. A aprendizagem escolar não fazia parte dos meus principais interesses dessa época. Havia outras tão mais importantes...
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Com o intuito de me ajudarem, puseram-me com explicações de física, matemática, e geometria descritiva.
Época de muita displicência, pouco empenho e responsabilidade, reconheço.
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Na véspera do exame de física, não sei bem como se passou a conversa, só que quando eu disse à explicadora que depois passava por lá para lhe mostrar o que tinha feito no exame, ela desatou-se a rir às gargalhadas e comentou:  " Mas a Magda vai ao exame? Não tem consciência de saber pouquíssimo?"
Podem imaginar como saí dali raivosa, e furiosa por me ter criado tal desânimo. Sim, porque certamente eu não queria reconhecer que não era eu que não sabia muito, era muito mais fácil pensar que a explicadora é que era bruta!
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Bom, exame feito tive nota muito pequena, exigindo a minha ida à oral. Não me vou alongar, dizer que o examinador foi o professor Rómulo de Carvalho, também poeta António Gedeão, a quem eu responderia muito melhor se  me tivesse mandado recitar e até cantar alguns dos seus poemas que eu tinha musicado. Mas não, o exame era de física e  saí com uma reprovação muito merecida.
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Talvez esteja aqui a contar este episódio, preocupada com a estratégia que o Ministério da Educação parece estar a perspectivar. Corre por aí que querem acabar com as actividades extra-escolares do ensino básico para encher as crianças com mais estudo.
Não saberão que há imensas razões para uma criança não aprender? Que no ensino básico muitas crianças apresentam falhas que são melhor colmatadas com actividades de grupo, expressivas e lúdicas paralelamente ao estudo, o qual tem de ter um tempo definido e adaptado, do que com explicações, aulas e insistência da matéria? Alguns miúdos vão aguentar, assim como aguentam bons e maus professores. Outros não. Alguma vez a imaturidade psico-afectiva se curou com explicações? As depressões infantis? As irrequietudes, os deficits de atenção?
Sinto que estamos em muitas coisas a retroceder. Preocupante!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

sábado, 12 de novembro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andressen

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O Velho abutre

O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o dom de tornar as almas mais pequenas

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Aconteceu... aventuras e desventuras de uma avó com os netos

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A chegada de uma avó do estrangeiro, neste caso eu,  mesmo que lá tenha estado só uns dias, é sempre motivo de grande expectativa. Trouxeste-nos alguma coisa? 
Os meus netos entusiasmados, foram saboreando antecipadamente a minha chegada. Ao telefone, o mais velho pergunta ansioso quando vou lá a casa. Será um dinossauro? Uma bola de futebol? uns cubos para fazer torres? 
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Não sendo uma consumista, há sempre qualquer coisa que trago. E tento sempre o que não há por cá, mesmo que insignificante, o que com isto da globalização é cada vez mais difícil. Mas tenta-se.
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Apesar de ter chovido durante parte do dia, e perante uma acalmia,  ao fim de tarde lá fomos nós à praia para tentar lançar um papagaio. Simples, um triângulo riscado com fitas coloridas que tinha visto esvoaçarem no ar quando puxado pelo vendedor. Com muito entusiasmo rodearam-me, suspensos no momento. Eis que devo ter sido enganada, ou será mesmo assim, não trazia fio para poder voar e ficar bem preso nas mãozinhas pequenas dos miúdos. Toca a guardar no saco e o lançamento ficou adiado.
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Vamos para casa. Novo entusiasmo, o DVD com o filme de animação Rio, giríssimo, que me encantou quando o vi durante a viagem de avião.
Para o comprar corri muitas lojas, parecia esgotado; e eis quando a descoberta de uns últimos exemplares me fizeram ficar contente.
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Os netos de banho tomado, cabelo penteado e trabalhos de casa feitos, e sentámo-nos frente à televisão para ver o vídeo. E eis que no écran aparece escrito "Fora da Região". Bolas!
Na loja nem me lembrei de ver se aquela gravação impedia que o DVD fosse universalmente visionado. Lá prometi aos miúdos que haveríamos de descobrir como resolver este problema, e passamos à descoberta da última lembrança.
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 Tinha-o visto ser lançado na rua. Trata-se de uma fisga que atira para o ar um led, que sobe brilhando na noite escura, quase chegando à altura de um 2º andar. Mas os pijamas vestidos já não davam para ir à rua, e lançámos a engenhoca mesmo ali na sala. O resultado foi mais um falhanço, o tecto é baixo e o efeito não teve graça nenhuma.
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Foi então que sorrateiramente desci ao supermercado que fica no prédio mesmo ao lado.
Que bem lhes soube aquela tablette de chocolate!
E ficou salva a minha honra perante os netos. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Poema - Ricardo Reis

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Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

domingo, 6 de novembro de 2011

Aconteceu...táxi já em Lisboa

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Aterro logo de manhãzinha no aeroporto da Portela, Lisboa.
Táxi! a fila, palavra brasileira que veio preencher a nossa bicha, maricas para eles, era pequena. Dou de caras com um taxista japonês mas alto. Bolas, que coisa mais estranha, japonês , taxista em Lisboa?!!
Digo a morada e ele não reconhece a rua. Percebe-se pelo sotaque que é brasileiro. Conversa-se um pouco, tanto quanto o cansaço permite. Que lá e cá é tudo uma questão de sorte, diz, e conta uma história dum cunhado que com o 12º ano conseguiu lá no Brasil um emprego muito bem pago. Mas que às vezes é preciso mudar de emprego, de terra, é preciso ir à procura, diz.
Eu já sabia. E só para falar de táxis, lá no Rio, um dos motoristas tinha sido chefe de cabine da Varig, outro topógrafo, outro tradutor. O trabalho tinha acabado e trabalhar como chaffeur de táxi tinha sido a saída.
É complicado, sim, a estabilidade já era. Há que descobrir novos modelos.

sábado, 5 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poema - Manoel de Barros - Parrrede!

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Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
- Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
- Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
- Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Aconteceu...menino da rua

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Já tive oportunidade de falar nisto noutra altura, mas cá vai um breve apontamento, e uma nova história de vida.

Resiliência, cada vez mais se aplica este termo da física ao desenvolvimento psicológico. Trata-se, na física, da capacidade que um metal apresenta de voltar ao seu estado anterior depois daquele ter sido alterado. Ou, na outra perspectiva, de uma criança poder ir superando os "azares" da vida e crescendo adequadamente.

" Face au malheur, un choix s'offre à nous. Ou bien nous retourner sur notre passé, et le sel des larmes alors nous pétrifie. Ou bien aller vers l'aventure de la vie", afirmou Boris Cyrulnik, médico e resiliente que se tem debruçado sobre a sua vida e esta característica/competência salvadora.

Ao passarmos em frente a Copacabana, o António, um negrão grande e gordo guia turístico brasileiro, diz que foi ali que cresceu. A volta seguiu, com muitas referências positivas aos portugueses, a quem para ele, o Brasil deve quase tudo. Mais para o fim da viagem, com muita conversa e aumento de confiança, ele conta-nos que foi um menino da rua. E que foi muito ajudado pelos portugueses, uma vez que havia um restaurante de portugueses que o alimentaram, nunca como esmola mas ensinando-lhe que o trabalho merece ser pago. E assim, em troca de uma varridela do chão, de um recado, a refeição era-lhe dada. Era o salário justo, dizia ele. 

António é um resiliente. Inteligente, com vontade de aprender e estudar, aprendeu linguas estrangeiras e acabou como guia a mostrar a cidade que ele conhece tão bem como cada pedra da rua. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aconteceu- dia D de Drummond de Andrade - Poema erótico

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Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!

Acontece...hoje, Dia D de Drummond (31-10-1902 - 17-08-1987)

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O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Aconteceu...carta ao Manuel com poema de Manuel Bandeira

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Sim, também eu vou partir...para Passárgada? Não! Partir o  pé? Salvo seja, mas foi quase em frente da  estátua do Carlos, mesmo ali num banco do calçadão de Copacabana que o parti há dois anos, não, não tive culpa, não me distraíu embora tenha pensado nos seus poemas, em Minas a sua terra natal, olhar a casa onde morou do outro lado da rua, mas foi só um sapato com uma borracha demasiado aderente, ou que aderiu naquele momento sabe-se lá porquê. Para me prender aí? Difícil, muito difícil, a minha vida é aqui, o meu País com letra grande, pobre País da forma que está, mas já começa a morder as palmas das mãos a quem sente. Olha Manuel, amanhã já, vou revisitar-te.  Inté, como  vocês dizem.


Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenquente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente d
a nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der

Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

domingo, 23 de outubro de 2011

Poema - César Vieira Dinis

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FORMA PERFEITA
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O que hoje sou?
Lembro-me, então,
daquilo que eu era,
o que quis, em vão,
o que julguei sonhar ou
fingir-me de quimera.
Descubro-me bola de sabão
que logo rebentou
ao pretender-se esfera.

sábado, 22 de outubro de 2011

Aconteceu...o rapaz que quer ser mendigo

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"Graças aos seus dotes naturais, Stepane Arkadievitch fizera bons estudos, mas como era preguiçoso e travesso, saíra do colégio entre os últimos da sua classe. No entanto, apesar da vida dissipada que levara, da baixa classificação que obtivera e de ser ainda muito jovem, ocupava o lugar, bem remunerado, de presidente de um tribunal de Moscovo.
Conseguira esse emprego graças ao marido da Ana, sua irmã, (...) que desempenhava um dos mais altos cargos do Ministério, a que se subordinava o tribunal de que era funcionário."

Pode-se ler este bocado de prosa em Ana Karenina, de Leão Tolstoi.

Não sei qual era o projecto de vida que Stefane tinha para si, ou se tinha, mas arranjaram-lhe este emprego e ele adaptou-se.

Já o Ruben, de 13 anos, não tem um cunhado importante. Anda muito aborrecido com a escola que tem. Não se adapta, aprende pouco, é-lhe oferecido o que não é capaz de realizar e por isso não lhe interessa. Tudo na sua vida escolar é sentido como uma obrigação e um falhanço.
Talvez por isso tem um projecto de vida, "ser mendigo". Para ele isso significa, disse, ser livre.

Este rapaz é um candidato a abandonar a escola. E como ela não o preparou para a vida, talvez ele tenha razão, no mundo de hoje talvez venha a vagabundar, mendigar e quem sabe, entrar em caminhos tortuosos, de risco.
Em vez de liberdade desejada, arrisca-se a que se veja ainda mais preso.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andressen

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EM NOME
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Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei

sábado, 15 de outubro de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andressen

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BEIRA-MAR
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Mitológica luz da beira-mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes decresce o seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Aconteceu...viagem de taxi com versos

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A propósito do clima nas ilhas dos Açores, dizem, que todos os dias têm as quatro estações do ano. E talvez assim tenha sido hoje, muito inverno, algum outono, pouco verão e primavera.

A chuva, o vento hoje tornavam a descida desagradável. Aquilo que normalmente é um passeio, rua abaixo, lentamente, deixando o olhar espraiar e ir namorando o mar azul e a ilha do Pico ao fundo, seria hoje pouco apetecível.Por isso, em vez de ir a pé chamei um taxi.

Chegou. O motorista com ar envelhecido precocemente, parecia um pescador, tez queimada, com grandes sulcos verticais. Falador, meteu logo conversa. E como se soubesse que eu gostava de histórias nos taxis, começou a debitar versos.

Não vale a pena correr na vida

Porque a nossa vida é vindimada
Cada casa é uma latada
Vem a morte leva tudo
E a gente fica sem nada.

O senhor Carlos Alberto Miguel é um poeta popular. Durante a curta viagem foi versejando, já parado junto ao hotel onde estou fez várias adivinhas, construídas por ele em verso. E suponho que teria todo o tempo do mundo perante uma ouvinte curiosa como eu sou, não fosse a central de taxis chamá-lo.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Poema - Natália Correia

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Sou filha de marinheiros
Pelo mar que também quis,
Pela linha da poesia
Sou neta de D. Dinis.
Aquilo que nunca fiz
É a minha bastardia.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aconteceu...a cultura serve para alguma coisa?

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Escrevi eu a 9 de Janeiro deste ano que "Ao domingo os museus são gratuitos". São, ainda, mas parece que vão deixar de ser.
Sei, a crise. Mas receio que com o pagamento do bilhete, muita gente altere o programa e deixe de ir "passear" pelos museus, criar proximidade com eles e com as obras de arte.
Mais tarde haverá mais gente menos sensibilizada, mais bruta, analfabeta e outras coisas que só empobrecem um povo.

Não tenho a certeza de qual o país em que estive e cujos museus visitei, em que os visitantes do país tinham entrada grátis. É chato, também achei isso uma vez que paguei, mas é uma defesa dos seus habitantes e do seu nível cultural.
É só uma sugestão, ok?

domingo, 9 de outubro de 2011

Aconteceu...formato médio

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            Foto - Magda

sábado, 8 de outubro de 2011

Poema - Nuno Rocha Morais

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aconteceu...mas afinal quem é o adulto?

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Uma onda mais forte, e o puto foi enrolado. Não houve perigo, o pai estava lá, mas o miúdo, pequeno de uns 5 anos, braçadeiras coloridas nos braços, assustou-se e chorou.
Depressa o colo do pai o consolou e ambos continuaram o banho.
Até o pai decidir que já chegava, tinha de ir apanhar sol na areia seca. O pai, que a criança não estava pelos ajustes.
Junto às toalhas e à mãe que estava deitada a bronzear-se ouço o pai a proibir, ele a insistir, o pai a querer que ele brinque com o balde e a pá, a mãe a ajudar o pai, sem efeito. O miúdo desceu para a borda de água como se ninguém estivesse a dizer-lhe que não.
Foi então que ouvi o pai dizer-lhe com o seu sotaque brasileiro, olha vai, vai que eu não vou, e sabe que mais, se vire sozinho!
E assim foi.

Passado algum tempo a mãe vai ao banho e o rapaz aproveita a boleia, dando-lhe a mão e avançando um pouco mais pela água dentro.
Pouco depois saiem e sobem para a toalha, enquanto a mãe explica ao filho que a água está a puxar muito e que ela não pode continuar lá. O miúdo ouve-a e comenta para o pai "coitada da mamãe, ela tem medo, apanhou um sustão!"

E lá voltou ele para a água.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Poema - Manoel de Barros

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Idiotas de estradas gostam de urinar em morrinhos de
formigas.
Apreciam de ver as formigas correndo de
um canto para o outro, maluquinhas, sem calças, como
crianças.
Dizem eles que estão infantilizando as
formigas.
Pode ser.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

Aconteceu...lembrando Sidónio Muralha

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Pareceu-me ouvir um barulho, não não foi a campainha mas veio da porta. Tenho a certeza, segunda vez, lá está, parece um arranhar.
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Levanto-me, confesso com má vontade, estava tão bem no terraço a apanhar um banho de sol, dirigo-me à porta e abro-a. 
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À minha frente ninguém. Mas olhando para baixo, rente ao chão, lá está ele, preto, com o fato de gala com que anda normalmente, excluindo a camisa branca que nunca põe, mas com as abas da casaca impecavelmente no sítio. Dou um passo para trás e ponho-me em guarda, o que quer da minha casa, pergunto. Não me responde, mas avança. Fecho a porta com estrondo, assustada.
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Que fazer, agora que estou cá só? Ele continua à porta e arranhá-la. Volto a abri-la e sem que eu tenho tempo para dizer alguma coisa, eis que entra sala fora, arrogante, encostado à parede e a dirigir-se para os maples.
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Fico inquieta mas lúcida. A correr vou buscar uma vassoura, das de cabo comprido e tento vassourá-lo nas pernas para que saia.
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Parece que estou a conseguir. Atiro-o para as escadas. Nem quero pensar o que seria deixá-lo entrar, e ele a falar noite fora, com o eco esperado e quem sabe, escondido, para que eu não o possa encontrar nem conciliar o meu sono.
Caí de costas e desce desamparado mais um degrau.
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E então oiço-o gritar:
«Ó senhor, senhor que passa/ eu sou um grilo de raça/ não sou um grilo banal.»

sábado, 1 de outubro de 2011

Poema - António Aleixo

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NÃO DÊS ESMOLAS A SANTINHOS - MOTE

Não dês esmola a santinhos,
Se queres ser bom cidadão;
Dá antes aos pobrezinhos
Uma fatia de pão.

GLOSAS

Não dês, porque a padralhada
Pega nas tuas esmolinhas
E compra frangos e galinhas
Para comer de tomatada;
E os santos não provam nada,
Nem o cheiro, coitadinhos...
Os padres bebem bons vinhos
Por taças finas, bonitas...
Se elas são p'ra parasitas,
Não dês esmola a santinhos.

Missas não mandes dizer,
Nem lhes faças mais promessas
E nem mandes armar essas
Se um dia alguém te morrer.
Não dês nada que fazer
Ao padre e ao sacristão,
A ver para onde eles vão...
Trabalhar, não, com certeza.
Dá sempre esmola à pobreza
Se queres ser bom cidadão.

Tu não vês que aquela gente
Chega até a fingir que chora,
Afirmando o que ignora,
Assim descaradamente!?...
Arranjam voz comovente
Para jludir os parvinhos
E fazem-se muito mansinhos,
Que é o seu modo de mamar;
Portanto, o que lhe hás-de dar,
Dá antes aos pobrezinhos.

Lembra-te o que, à sexta-feira,
O sacristão — o mariola! —
Diz, quando pede a esmola:
«Isto é p'rà ajuda da cera»...
Já poucos caem na asneira,
Mas em tempos que lá vão,
Juntavam grande porção
De dinheiro, em prata e cobre,
E não davam a um pobre

Uma fatia de pão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Poema - Alberto de Lacerda

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O frio
Volve lamento


A tua ausência
Brilha
Cega -
Cada vez mais perto
Do sangue
Invisível como as lágrimas
Sacudindo
O inteiro ser


Quem me vê
Vê apenas
Um vulto enregelado
Inteiramente     imóvel

domingo, 25 de setembro de 2011

Aconteceu...quem define o que é SPAM?

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Tempos modernos. Informação, informação e informação!
Somos bombardeados por quem não conhecemos todos os dias. Ele é pelo telemovel, ele é pela internet. As nossas caixas de correio ficam cheias de mensagens publicitárias, sem que tenhamos autorizado qualquer envio. Às vezes com consequências bem aborrecidas!

A minha caixa de correio electrónica é do SAPO. Recebo e imediatamente mando para SPAM imensas mensagens. Algumas, e sem que eu perceba como, reincidem, como se o filtro do SPAM não tivesse sido accionado.

Quis-me inscrever para participar no Orçamento Participativo da Câmara de Lisboa. Preenchi um formulário e fiquei à espera da senha na caixa de entrada. Nada.
Na página da Câmara leio que as mensagens camarárias são muitas vezes classificadas como Spam, para ir procurar. Lá estava!

Acho isto completamente insólito! A quem pedir responsabilidades? Porque a máquina só faz aquilo para a qual foi programada...

sábado, 24 de setembro de 2011

Aconteceu...pôr-do-sol no Outono

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Foto - Magda

Acontece...faz falta a clareza nestes tempos que correm

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Há a mesa. Aquilo é uma mesa. Há a cadeira. Aquilo é uma cadeira. Aquilo é uma taça de fruta. Há a toalha de mesa. Há as cortinas. Não há vento. Há o balde de carvão.  (Harold Pinter)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Acontece..."isto é só no 1º dia de escola, depois ficam todos iguais"

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Uma casa apalaçada e velha, onde hoje é a junta de freguesia. Manhã cedo, primeiro dia de aulas. Muitas mães, nenhum pai. Crianças algumas com batas brancas e cabelos penteados com pente molhado, deixando sulcos no penteado. De mãos dadas com as mães, sérios e um ar espectante, um pouco assustados. A maioria das mães com aspecto humilde, quer nas roupas quer no arranjo pessoal, ali estavam elas, lutadoras, que puxavam e empurravam sem dó para que os seus filhos ficassem na fila da frente.
Dei por mim assustada. Era ali que eu ia deixar o meu filho? Naquela escola e durante quatro anos?

Os meus olhos encheram-se de lágrimas. E eis senão quando senti uma mão que pousava no meu ombro. Era uma vizinha que só conhecia de vista. Vim depois a saber que era minha colega. Vinha com o 2º filho, que por acaso ficou na mesma turma do meu.
Já tinha experiência disto e disse-me de uma forma que me sossegou "Isto é só no 1º dia, olha que depois ficam todos iguais".
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Nunca mais me pude esquecer daquele dia. Cheia de preconceitos, eu, uma antiga aluna do Lycée Français Charles Lepièrre, tinha um filho na escola pública.
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Tive um filho e depois dois. Se houve algum contratempo, o saldo foi positivo. As línguas, foram reforçadas por fora, o inglês, mais actual, mas também o francês. O desporto também, cá fora. Mais as artes e durante pouco tempo a música. Em casa, a presença e a estimulação possível.
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Ontem fui buscar o meu neto mais velho à saída do seu primeiro dia de escola pública.
Uns trinta anos medeiam estas duas gerações. À vista, superficialmente, muita coisa mudou. 
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Os meus filhos tiveram a sorte de ter na escola pública estabilidade, um ensino adequado.
Como será agora, neste país em crise?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Aconteceu...a visita

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"Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua... "

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----------------------------Foto - Magda

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Poema - José Gomes Ferreira

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Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.

domingo, 11 de setembro de 2011

Aconteceu...artistas sem nome

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....................................Foto - Magda

sábado, 10 de setembro de 2011

Aconteceu...esqueléticos, magros, gordos e anafados.

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Completamente baralhada! Nos últimos tempos tem-se ouvido o governo falar na necessidade de cortar as gorduras.
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Começaram os cortes nos ordenados dos funcionários públicos, pensei que a gordura eram os vencimentos.
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Depois houve o aumento dos impostos. Tive de fazer ginástica mental, e lá consegui encaixar que a gordura era o dinheiro que sobrava às pessoas do seu vencimento.
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Depois foram os aumentos dos transportes público, aqui percebi, porque a malta vai a pé ou de biciclete para poupar nos bilhetes e assim perde gordura.
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Depois foi a subida do preço da água. Haverá menos banhos e portanto a água também será uma gordura.
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Por último o corte nos descontos da pílula anti contraceptiva nas farmácias. E aqui baralhei-me toda.
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Ora eu sei, tenho a certeza, eu que tão poucas tenho, que muitas mulheres não vão poder ir aos centros de saúde para obter o comprimido. Com os empregos de hoje, precários, faltar para ir ao centro de saúde, deslocação, taxa moderadora, o mais certo é não tomarem a pílula. Como resultado vai haver mais gravidezes indesejadas. De forma errada, que o aborto não deveria ser um método de planeamento familiar, haverá quem a ele recorra, apesar de todo o sacrifício que uma interrupção involuntária da gravidez causa à mulher, aumentando o número das que tentarão abortar. Legalmente, felizmente que assim o é. Aumentarão a gordura dos serviços de obstretrícia e as consultas de ginecologia e de psis. Aqui não vejo o corte.
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Outras deixarão a gravidez continuar e isso sim, será realmente um aumento da gordura...no estado de grávida.
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Tal como no colesterol, sabe-se hoje que há o bom e o mau.
Desconfio que estão enganados nesta escolha para os cortes de gordura. É que a pior parece intocável! Quanto aos outros, a quem andam a obrigar a fazer dieta, vão ficar mal.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Aconteceu... trabalho artesanal

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...................................Foto - Magda

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poema - António Dacosta

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Tuas coisas de mulher
O pente
Os sapatos
A escova
As meias naturais
A camisa ingénua
Os seios despertos
A desordem dos restos fúteis
Do teu corpo nu

domingo, 4 de setembro de 2011

Acontece...que também detesto o cheiro dos coiratos!

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Eu até gosto de feiras. Mas ter uma perto de casa durante um mês tira todo o gosto. Ele é barulho, cheiros, engarrafamentos, gente...

Mesmo assim, hoje à hora do almoço, hora morta para uma que abriu ontem, lá fui eu, mais duas amigas dar uma volta. 
Ocupa um jardim e algumas barracas tapam a via ciclável despudoradamente.
Este ano houve uniformização das tendas. Já estão montadas mas ainda não todas ocupadas, do lado dos ciganos da roupa ainda estão vazias. Talvez ainda estejam numa feira de Cascais, ou outra parecida.

Não sei porque não lhe mudam o nome. Devia passar a chamar-se Feiras das Farturas, já noutros anos tem sido assim, haverá clientes para tanta barraca? Farturas e churros, recheados de cremes coloridos, que dão a volta à barriga só de olhar!

Mas o pior de tudo são os coiratos! Grelhados, são de vómitos. Coiratos é a pele do porco, retirada da entremeada, assim uma coisa que se põe na brasa com sal, larga muita gordura, fica à mesma muito gorda, mas encaracolada, com uma côr clara e translúcida. Tem ar de ser mole e raimosa. Retirada do grelhador é servida em sanduiche, enfiada numa carcaça aberta ao meio.

Terá apreciadores, encontrei no Facebook uma página que lhe é dedicada. Mas pelo número de aderentes, desconfio que o grosso dos coirateiros é infoescluído.

Fumos saem das brasas das sardinhas, dos frangos e dos coiratos coiratos, dos fritos de farturas e dos churros, um minuto que vou ali fechar as janelas!

sábado, 3 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Poema - Adília Lopes

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A tua carta
é palpável
cheirável
e beijável
tu não
porque estás
muito longe
de mim
(tenho pena
que seja
assim)