A propósito do clima nas ilhas dos Açores, dizem, que todos os dias têm as quatro estações do ano. E talvez assim tenha sido hoje, muito inverno, algum outono, pouco verão e primavera.
A chuva, o vento hoje tornavam a descida desagradável. Aquilo que normalmente é um passeio, rua abaixo, lentamente, deixando o olhar espraiar e ir namorando o mar azul e a ilha do Pico ao fundo, seria hoje pouco apetecível.Por isso, em vez de ir a pé chamei um taxi.
Chegou. O motorista com ar envelhecido precocemente, parecia um pescador, tez queimada, com grandes sulcos verticais. Falador, meteu logo conversa. E como se soubesse que eu gostava de histórias nos taxis, começou a debitar versos.
Não vale a pena correr na vida
Porque a nossa vida é vindimada
Cada casa é uma latada
Vem a morte leva tudo
E a gente fica sem nada.
O senhor Carlos Alberto Miguel é um poeta popular. Durante a curta viagem foi versejando, já parado junto ao hotel onde estou fez várias adivinhas, construídas por ele em verso. E suponho que teria todo o tempo do mundo perante uma ouvinte curiosa como eu sou, não fosse a central de taxis chamá-lo.
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