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sábado, 22 de outubro de 2011

Aconteceu...o rapaz que quer ser mendigo

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"Graças aos seus dotes naturais, Stepane Arkadievitch fizera bons estudos, mas como era preguiçoso e travesso, saíra do colégio entre os últimos da sua classe. No entanto, apesar da vida dissipada que levara, da baixa classificação que obtivera e de ser ainda muito jovem, ocupava o lugar, bem remunerado, de presidente de um tribunal de Moscovo.
Conseguira esse emprego graças ao marido da Ana, sua irmã, (...) que desempenhava um dos mais altos cargos do Ministério, a que se subordinava o tribunal de que era funcionário."

Pode-se ler este bocado de prosa em Ana Karenina, de Leão Tolstoi.

Não sei qual era o projecto de vida que Stefane tinha para si, ou se tinha, mas arranjaram-lhe este emprego e ele adaptou-se.

Já o Ruben, de 13 anos, não tem um cunhado importante. Anda muito aborrecido com a escola que tem. Não se adapta, aprende pouco, é-lhe oferecido o que não é capaz de realizar e por isso não lhe interessa. Tudo na sua vida escolar é sentido como uma obrigação e um falhanço.
Talvez por isso tem um projecto de vida, "ser mendigo". Para ele isso significa, disse, ser livre.

Este rapaz é um candidato a abandonar a escola. E como ela não o preparou para a vida, talvez ele tenha razão, no mundo de hoje talvez venha a vagabundar, mendigar e quem sabe, entrar em caminhos tortuosos, de risco.
Em vez de liberdade desejada, arrisca-se a que se veja ainda mais preso.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Aconteceu...Há rotinas boas

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Fala-se muito negativamente contra as rotinas, mas todos nós vamos criando algumas. Se a nossa vida não for completamente espartilhada por elas, podem ser úteis. Podem ser uma tentativa de defesa contra alguma desorganização ou algum vazio, quando os marcos da vida são poucos. Veja-se a abertura deste blog, diário, criado numa fase de "prisão" da minha vida. Os marcos que dão sentido ao tempo da vida, antes, depois, manhã, tarde, noite...
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A minha maior rotina é trabalhar diariamente, coisa que, apesar das dificuldades existentes nos serviços, com que todos se debatem, ainda me dá prazer. Para já é uma boa rotina.
Alguém me dizia um destes dias, comentando os intervenientes de um programa da manhã na rádio, que tenta ser alegre e livre até ao disparate, que eles trabalham mas divertindo-se.
No desenvolvimento infantil, há uma altura em que o prazer do trabalho substitui o prazer do jogo, não o excluindo, portanto pode-se fazer trabalho sério (sem muitos risos) e tirar prazer.
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Nos últimos tempos arranjei maneira de, sentada no carro à porta do serviço, só sair depois de ouvir a crónica do Fernando Alves, na TSF. São tão interessantes, de uma enorme cultura, mas também de poesia, pela forma como ele as escreve, as metáforas que emprega, os jogos de palavras. Alguém ouviu a de ontem? De uma enorme inteligência, pôs-nos a seguir os passos do 1º Ministro, sem nunca o nomear, para já no fim nos fazer crer que estava a falar de Harry Houdini, o grande ilusionista que ontem faria anos. Ilusionismos!
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Esta rotina matinal, é uma que adoptei sempre que me é possível e que recomendo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Aconteceu...síndrome do fim das férias- uma entidade nosológica?

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Achei mesmo graça ao ler ontem que tinha sido descrito um síndrome do qual se pode sofrer quando acabam as férias e temos de recomeçar o trabalho. O que eles inventam, para tentar organizar por sintomas, que é o que está a dar, versus compreender os fenómenos.

Para quem o trabalho é uma necessidade económica, de onde não se tira prazer, do qual nos sentimos pouco gratificados e reconhecidos, com cujos colegas não temos nenhuma relação afectiva, será esquisito gostar das férias e sentir o trabalho como um fardo que obrigatóriamente temos de carregar?

Nas situações actuais, a grande maioria das pessoas não faz o que gosta. Uns não estudaram, outros entraram para onde as notas lhes permitiu. E fora do horário de trabalho há outro, o de casa, da família, para quem às vezes já pouca disponibilidade sobra.

Luísa sobe,/sobe a calçada,/sobe e não pode,/que vai cansada.
Saiu de casa/de madrugada;/regressa a casa/é já noite fechada.
Na mão grosseira,/de pele queimada, leva a lancheira/desengonçada.
(...)
Chegou a casa/não disse nada./Pegou na filha,/deu-lhe a mamada;
/bebeu a sopa/numa golada;/lavou a loiça,/varreu a escada;/deu jeito à casa/desarranjada;/ coseu a roupa/já remendada; despiu-se à pressa,/desinteressada;/caiu na cama de uma assentada;/chegou o homem,/viu-a deitada;/serviu-se dela,/não deu por nada.
(...)
in Calçada de Carriche, de António Gedeão.

Duvido que algumas Luísas alguma vez tenham sido crianças, tido e vivido uma infância que seja digna desse nome. Duvido que alguma vez tenham tido férias, mas se as tivessem tido, seria estranho terem o tal síndrome e custar-lhe trabalhar de novo? Ah, mas que se fique descansado, parece que é de curta duração. Pudera, a pessoa habitua-se!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aconteceu...que hoje esteve um dia muito bom para estar de folga

Um psiquiatra americano fez uma investigação interessante, na segunda metade do século XX. Formulou como hipótese a provar que certas doenças mentais, nomeadamente a psicose, eram potêncialmente "contagiosas".
Numa casa residência de doentes mentais portadores de psicose, vários técnicos foram viver para lá, isolados do exterior durante um certo tempo.
Com regularidade iam fazendo relatórios-relatos da vida da casa. Os primeiros eram cheios de observações de comportamentos bizarros e descrições compatíveis com o esperado. Mas, e isso é o curioso, conforme o tempo ia passando, as observações relatadas eram cada vez com menos observações de coisas estranhas e quase tudo era vivido como uma terna "normalidade".
De certa maneira a hipótese foi provada. No fundo já se "sabia", que a psicose não só é invasora do próprio, como invade quem com ela convive sem outros modelos. Não que se fique com a doença, mas com uma adaptação a outras formas de funcionamento em deterimento do mais habitual.
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Talvez por isso dizia-se e se calhar ainda há quem pense que os psiquiatras são todos um bocado passados. O ditado aligeira e diz que de médico e de louco todos temos um pouco.
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Não trabalhando só com psicóticos, longe disse felizmente para todos, nos serviços pedopsiquiatria trabalhamos todo o dia com pessoas que nos procuram com os problemas dos seus filhos, de crianças sem pais , as suas dificuldades, angústias, seus comportamentos desajustados.
Ouvimos, falamos, relacionamos para procurar entender, ajudar o outro a perceber as suas dificuldades e a intervir conforme as necessidades e as possibilidades.
Certos dias trazemos na cabeça, ou no coração, as frases, o sofrimento que é vivido junto de nós. Acrescido de nem sempre temos os recursos necessários e necessitamos de, caso a caso, "inventar" soluções.
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Hoje tive um dia de descanso, que me soube muito bem. Foi o recarregar a bateria para amanhã continuar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Aconteceu...notícias

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1 - Há dias li no jornal que " A sala de fumo para deputados, funcionários e jornalistas já foi orçamentada e vai ser construída". O orçamento de 380 mil euros parece ter sido rejeitado.
Se em todo o sítio as pessoas vão fumar à rua porque se põe neste caso esta ideia tão dispendiosa?

2 - A Ministra da Saúde Dra. Ana Jorge, por quem tenho a maior consideração, vai querer baixar os gastos com algumas medidas. Uma delas será a de não se poder contratar novos técnicos.
No meu serviço hospitalar, há muito que não se contratam médicos, apesar de ter havido uma série deles que se reformaram. Tem havido também um emagrecimento das equipas multidisciplinares. Com franco prejuízo para as crianças e famílias que nos procuram.

3 - Amanhã, e depois de meses parada pelo meu pezinho, retomo o serviço.

4 - Já não fumo.

Nota - A fotografia do pé engessado vai-se manter. Foi ele o motivador da criação deste blogue.