terça-feira, 12 de maio de 2020
61º dia de isolamento social (COVID-19)
Obviamente que a criança morta às mãos do pai continua na ordem do dia. Pelo facto em si e pela má consciência que todos temos com os actos que assistimos neste mundo.
Segui algumas crianças famílias em que a violência era a linguagem. Contra elas mas também por assistirem à violência entre os pais. Muito mais frequente do pai contra a mãe mas também em menor grau da mãe contra o pai.
As crianças assistem... lembro-me de algumas delas que me falavam de como se escondiam, tapavam-se com almofadas para não ouvirem as discussões, o medo das agressões que podiam levar a ferimentos graves e até a morte e a enorme culpabilidade por não poderem fazer nada. Outros tentavam meter-se no meio dos pais, separá-los, com gritos ou gestos, ficando muito inquietos e raivosos. Os pais que os deviam proteger, afinal desprotegiam.
Só segui um que viu o pai matar a mãe. Vimos que depois de ter assistido a muita violência. Não me esqueço do rapaz, aí com uns 8-10 anos, bonito, pele e cabelo claros, aloirado e olhos parados, olhar murcho, movimentos lentos e quase só se por insistência. Metido num mundo seu, qual não sabemos, apesar de todos os esforços terapêuticos que foram feitos, mais tarde ficou com um quadro de psicose esquizofrénica com deterioração cognitiva.
Há experiências traumática da infância que podem deixar marcas irreparáveis.
Uma pessoa viva mas perdida para a vida.
Portanto a prevenção é que tem de estar presente, ser desenvolvida, aumentados os técnicos e a sua formação nesta área trabalham.
O que teria acontecido à miúda assassinada se pequenos aspectos tivessem chamado a atenção estudados e tomadas medidas efectivas de afastamento e protecção?