57º dia de isolamento social (COVID-19)
- De manhã tive uma reacção vagal ao comer o pão do pequeno almoço. A 1º vez, há cerca de 20 anos, estava em pé na cozinha com o meu filho mais velho que, subitamente e sem aviso prévio, me viu cair no chão desmaiada, passando rente à pedra mármores do tampo da cozinha. Apanhou um susto enorme, eu também quando acordei, fiz todos os possíveis para aligeirar a situação. Como médica que sou fui fazer os exames todos possíveis na época, à procura de um "batatoma"( linguagem calão para dizer tumor cerebral). Não tinha e daí o diagnóstico que escrevi.
Há 10 anos estava sentada na cama, a tomar o pequeno almoço e caí para o lado. Fui amparada pela minha empregada.
Hoje, sozinha, a tomar o pequeno almoço (novamente um pequeno almoço!) sentada na mesa da cozinha, percebi que me ia acontecer o mesmo, como se o meu esófago estreitasse e não deixasse passar nada. Cuspi o leite e deitei-me na mesa. É uma sensação horrível de que vai morrer engasgada mas não na garganta, mais abaixo. Sei que, tal como das outras vezes, perdi os sentidos. E depois acordei. A comida foi para o lixo, sem mais. Mas o facto de estar sozinha e não ter de ajudar outro a acalmar fez-me falta e não fui capaz de o fazer para mim.
Todo o dia fiquei com dificuldade em me concentrar nalguma coisa, preocupada, esquisita.
- Hoje deveria ter estado no Porto. Era o dia da inauguração da exposição de homenagem ao meu pai. Esculturas, algumas pinturas e escritos. Demorei alguns meses a preparar o que deveria depois de escrito seria impresso, procurar fotos, os textos dele etc.
Depois foi o embalar das coisas, e entregar.
Entretanto veio o Covid-19 e lá está tudo embalado e também confinado.
- Ainda não me passeei desde que isto começou. Hoje fui desafiada para ir comer uma fatia de bolo do aniversário do meu neto a um jardim. Ar livre e espaço.
Acredito que estes dois assuntos que descrevi tenham interferido na minha recusa. Filhos, netos e noras que não vejo há pelo menos 57 dias.
Não fui capaz de sair de casa e apetece-me chorar.
- Melhores dias virão!