344º dia do recomeço do blog
Hoje ouvi falar do cinema de Campolide de que não me lembro mas que ficava ao pé do mercado. Esse sim, descendo a rua quase a pique ficava do lado esquerdo. Era pequeno. Dito na minha dimensão de criança.
Entrei para o Lycée Français aos quatro anos. Por isso esta minha recordação foi antes dessa data ou nalgum dia sem aulas.
Já falei várias vezes na minha Mãe, super educada e discreta.
Uma manhã fui com a empregada (antigamente chamada criada) ao mercado. Na zona do peixe, uma peixeira exuberante no tom de voz e chamamento das clientes, estava cheia de ouro. Brincos vistosos, cordões de ouro, anéis, aquilo que o meu Pai chamaria uma ourivesaria ambulante. Certamente me chamou, quem sabe se cantou, seguramente me encantou.
E devo ter dito qualquer coisa como "gostava que fosse minha Mãe", que a criada transmitiu à minha Mãe.
A minha Mãe, a senhora sóbria, discretamente perfumada e enfeitada, não sei o que sentiu mas lembro-me do que me disse "e gostavas que eu chegasse a casa a cheirar a peixe?".
Não, não me traumatizou mas envergonhou-me. Tanta coisa que dizemos e que quem ouve deve calar. Mas a rapariga, não me lembro de qual, deu com a língua nos dentes. Vai na volta também ela gostou do festival da peixeira.