Entro no taxi e ele nem se vira. Apercebo um boné à Americana, um cabelo pouco espontado, homem muito magro.
Sou eu que tenho de meter conversa, a propósito do trânsito, cansaço de guiar na cidade. Não foi necessário mais, daí e ficar conhecedora de muitos factos da sua vida, emigração nos EUA, no Canadá, todos os irmãos com cursos mas ele que nunca gostou de estudar, as suas dificuldades de adaptação aos vários sítios, enfim, pouco mais tive de intervir.
Mas dois apontamentos vos deixo.Conta-me que de dia é motorista de taxi, de noite vigilante no Ministério da Educação. Comento "Então, não dorme?" "Claro que sim, acha que os 500€ que recebo como segurança é para estar acordado? Para isso tinham de me pagar muito mais!"
Explica-me que não tem casa. A mulher não o quis mais e pô-lo na rua.
Estamos a chegar ao meu prédio. Pára o carro, vira-se para trás e diz-me "sabe minha senhora, o que me faz falta? Arranjar uma senhora para me fazer companhia".
Aqui há tempos conheci 2 crianças com o pai e a madrasta. Fiquei a saber que a mãe das crianças abandonou o marido e os filhos. O homem, taxista, é dias depois mandado parar por uma senhora que lhe pede para o levar à rua X; só que antes de lá chegar conta-lhe que está a vir de assinar o divórcio e pede-lhe que páre o carro e beba um café com ela antes do fim da viagem, que ela precisa de se acalmar. Bebem o café e ele cumpre o resto da viagem. Chegados à morada do destino ele sobe com ela e nunca mais de lá sai. Foi esse casal que tive à minha frente.
E eu pago e saio apressadamente, não vá o diabo tecê-las!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Convido a comentar quando lhe apetecer.