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Ao sair do Restaurante Valenciana, faço sinal a um taxi com a minha canadiana no ar. Talvez não seja muito bonito, mas agora é um prolongamento das minhas mãos. Ele ía em sentido contrário e estranhei que não estancasse, como normalmente fazem. Parou já depois da rua de Campolide. Depois deu a volta.
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A Joana e eu entramos e dissemos para onde queríamos que nos levasse.
Ele estava a fumar e disse qualquer coisa sobre não estragar o carro, (as canadianas?), pelo que eu, que nem sou militante activista anti tabaco comentei que era bom que ele não estragasse os nossos pulmões. Sem grande vontade lá apagou o cigarro e deitou-o pela janela fora.
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Nitidamente a viagem tinha começado mal...mas isto ainda era só o princípio.
Logo nos primeiros minutos percebemos pela forma como guiava, às curvas, quase a bater nos passeios, que alguma coisa não estava bem. O diagnótico foi imediato, o homem estava completamente embriagado!
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Vi a Joana, em silêncio, a começar a mandar mensagens de telemóvel. Estranhei mas estava mais preocupada com o motorista e a nossa viagem.
Meti conversa...sobre as operações stop. Com voz arrastada e empastada, as sílabas a enrolarem-se na língua explica que não vai haver, em Lisboa é só às 5as e 6as feiras, ora estavamos num sábado. E se houvesse,arrisco, faziam teste ao alcóol? Sem dúvida, responde e eu estava feito, lixado, que estou cheio de vinho. Só vinho tinto, que não gosta de outras bebidas. Não sei se acredite mas...
Mais uma guinada e no banco de trás somos atiradas para o lado.
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Ai, ai a minha hérnia! gritava a Joana por cada guinada que o carro dava.
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E o homem continuava despudoradamente a falar, que tinha bebido uns copos, uns 4 precisa, e eu pergunto-lhe tamanho penalty? pode ser, sim desses grandes e mais uns tantos acrescenta.
E sabe, um destes dias a minha filha foi apanhada numa operação stop na 24 de Julho e ficou toda chateada comigo por não a ter avisado. Ía depressa, pergunto-lhe eu, não, você não está a ver bem, ela também ía com os copos.
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Somos novamente sacudidas e passamos uma tangente a uma paragem de autocarro.
.Ai, a minha hérnia, gritou novamente a Joana.
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A saída do eixo norte-sul para a 2ª circular foi um pesadelo. Parecia que o carro não iria dar a curva. Apontado ao separador lateral da curva, só mesmo no último momento e com uma guinada rápida a volta é dada.
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"Ai a minha hérnia!" .
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Já na Estrada da Luz novamente uma paragem do autocarro passa junto da nossa janela. Aproximamo-nos do meu bairro, um bairro classe média, é aqui neste buraco que mora comenta ele sem esperar resposta.
Saio ainda meia perplexa e a Joana continua viagem.
Ao chegar telefona-me logo. Conta que apesar de ser quase meia noite, e depois do taxi passar uma rasante a um autocarro, este terá apitado com força e longamente.
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Fiquei a perceber que as mensagens da Joana eram gritos de socorro para a Vera que tinhamos acabado de deixar.
Estamos loucas ou quê? Porque em vez de mandarmos parar e sairmos, ficamos e continuamos a viagem?
Quanto a mim não tenho dúvidas, senti-me uma jornalista em pleno campo de batalha,mesmo no meio de fogo cruzado, alheia aos perigos, à procura da melhor reportagem.
O que já me ri com esta vossa aventura! Ri-me, porque não a vivi, se calhar se lá estivesse, não tinha achado lá muita graça à buba do homem ;)
ResponderEliminarBeijas
Podes crer, MAC, e só de recordar tremo.
ResponderEliminarMeu Deus... Há um cavalheiro que está a sentir um peso na consciência...
ResponderEliminarFicamos sem saber se a Vera respondeu às mensagens)