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terça-feira, 1 de março de 2011

Aconteceu...Beber é bom. Um apreciador não se embriaga. Mas é preciso ensinar os jovens a beber com lúcidez.

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Há cerca de 30 anos, durante o meu Serviço Médico à Periferia, na zona da Beira Alta - Alto Douro, tive de me confrontar com o consumo de vinho desde tenra idade, e que se mantinha pela vida fora, uma vez que um garrafão de 5 litros fazia parte da jorna.

.Com as "bonecas", chuchas feitas com açúcar enrolado em pano e posteriormente molhado em vinho tinto, as mães acalmavam os bebés e preparavam-lhes o sono. De uma maneira geral este "consumo" parava quando a criança largava a chucha, mas não raras vezes com a entrada para a escola e porque o frio apertava, um copinho de água com vinho e açúcar ajudava à viagem.
.Claro que havia adultos com alcoolismo crónico, às vezes mais visível nas análises ao fígado do que nos comportamentos. O organismo ia-se habituando a altas doses de vinho e na falta de dele apareciam os comportamentos patológicos daí decorrentes.
Não apanhei nunca, nem nas urgências, crianças ou jovens embriagados e/ou em como alcoólico.
Convivia-se com o vinho como uma coisa natural, diria até cultural. Mas maligno, de qualquer modo, com um consumo por pessoa maior que o de hoje.
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No colóquio "Os Jovens, o Álcool e Segurança Rodoviária", focaram que o uso e consumo do álcool mudou de padrão.
Jovens, procuram no uso do álcool associado por vezes a outros estimulantes, a alteração de consciência, a embriaguez rápida.
Fazem-no nas saídas de fim-de-semana com os amigos aos bares. E com a falta de lucidez resultante, correm graves riscos.
Constataram também que alguns iniciam o consumo antes de sair de casa, e chamaram a atenção para o papel das famílias, nem sempre atentas, contentoras e organizadoras.
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Pois, já aqui escrevi várias vezes sobre a comunicação intrafamiliar. Com uma boa comunicação, os pais estão capazes de falar com os filhos e eles com os pais, ambas as partes se conhecerem e poderem os pais, mais facilmente exercer as várias funções que lhes compete, educar, transmitir valores, proteger, orientar, criar limites, saber dizer não, coisa que hoje muitos pais não estão a conseguir realizar.
Os filhos ficam mais sós e portanto mais vulneráveis.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Aconteceu...no Serviço Médico à Periferia – 2

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Ao jantar, a auxiliar de acção médica pôs o tabuleiro na mesa de apoio e levantou a tampa do prato aquecido para eu ver o bom aspecto da comida. Pergunto-lhe com alguma ironia se não há vinho para acompanhar o piteú, ao que ela me responde com um ar muito sério que “no hospital não se serve vinho” e aponta-me para a garrafa de água de Fastio que está a meu lado na mesa-de-cabeceira.

O meu pensamento transporta-me de imediato para o meu Serviço Médico à Periferia.

Uma vez que Moimenta da Beira não tinha hospital, as urgências eram feitas em Armamar, vila situada bem em cima do rio Douro. O hospital, oferecido por um “brasileiro” da terra era um bom edifício e razoavelmente equipado. Enfermarias para cerca de 50 doentes, homens e mulheres, salas de cirurgia, de dentista, de radiologia, e maternidade.
As enfermeiras eram religiosas. Havia também um funcionário sem formação específica que às vezes era porteiro, outras vezes auxiliar de acção médica e que também conseguia fazer radiografias a ossos longos em pessoas magras. Médicos seniores, nenhum, só nós os policlínicos, P3 como nos alcunhávamos, no 3º ano depois de ter acabado a licenciatura e no 1º com autonomia clínica.
Como devem perceber, não eram usadas parte das potencialidades existentes no hospital.

No meu 1º dia de urgência, tive de internar 5 doentes. Nenhum dos casos que internei era grave, mas as distâncias e os poucos transportes levava-nos a deixar no hospital estes casos com a finalidade de fazer algum tratamento que noutras condições se faria em ambulatório.

E ao recolher os dados clínicos, a todos perguntei sobre os seus hábitos alcoólicos. Bebiam todos um garrafão por dia. Perante tal coincidência e mais uma vez pela minha falta de cultura local, optei por pensar que "garrafão" era um regionalismo. Longe de mim saber que da jorna faziam parte 5 litros de vinho que eram bebidos durante o trabalho!

Essa noite não poderá nunca ser esquecida. Os tais doentes do garrafãozinho entraram todos em estado de privação, com agitação psicomotora, estado confusional, tremor, um deles teve mesmo alucinações, enfim, quadros de delírium tremens. Um, grande e forte, tentava apavorado, em pé em cima da cama, apanhar bichos que só ele via na parede.E todos no mesmo quarto!

Eu e a minha colega, que embora não estivesse de urgência me fazia companhia, uma agarrada ao telefone a pedir indicações a um colega da psiquiatria, a outra a fazer cumprir as instruções, lá conseguimos sedar os doentes e resolver a situação.

Escusado será de dizer, claro está, que ficou instituído a partir desse dia “dieta alcoólica” para certas pessoas, um copo de água cheio de vinho a cada refeição.