318º dia do recomeço do blog
Hoje, sexagenária, aposentada e a viver sozinha, posso dar-me a pequenos prazeres que nunca pude porque estavam inscritos na educação que os meus Pais me deram. Coisas proibidas!
Apesar de uma educação pró-progressista, valorizando muito a cultura e a arte, havia uma enorme preocupação com as boas maneiras, a chamada etiqueta de classe média alta.
Uma das regras era a discrição, já ontem falei nisso, não mostrar muito os seus sentimentos, nada de falar muito alto, gesticular, sentar mal, ter regras à mesa e outras habituais nalgumas famílias.
Também havia coisas proibidas, andar pela casa sem se estar arranjado, cabelo penteado e bem vestidos. Um dia uma empregada lavou a cabeça e pôs rolos e veio lá dos seus fundos assim. Lá foi a minha Mãe dizer-lhe que não andasse assim pela casa. Os rolos era uma coisa que o meu Pai não queria ver. No fundo a mulher tinha de aparecer bonita e arranjada.
Ora hoje, esquecendo tudo o que aprendi, andei todo o dia de pijama e roupão. Que bem que me soube! Não apareceu ninguém, nesta época de confinamento quem havia de aparecer? Li, acabei de ler o livro que tinha em mãos e me entusiasmou menos do que tinha suposto, ouvi música, vi televisão mas pouca, almocei e jantei, este sempre frugal. Para mim, se estivesse cá alguém, um filho, um marido, eu não seria capaz de ter ficado assim. Mas não quero que isto se torne um hábito.
O confinamento deprime-nos um pouco e hoje de manhã fiquei triste quando soube que uma pessoa que admiro e de quem sou amiga está nos cuidados intensivos e mal.