311º dia do recomeço do blog
Tenho bastantes amigos octogenários espectaculares. Com cerca de 20 anos a mais que eu, é com muito prazer que mantenho uma relação próxima mesmo que às vezes quase só pelo telefone, sobretudo desde o final de 2019.
Ontem recebi um telefonema de uma pessoa que tinha na sua mão uma carta a mim dirigida. Leu-me o remetente e pedi-lhe que abrisse. Era um cartão de Boas Festas que estaria há tempos na caixa do correio. Disse-me que era um cartão com um desenho, achava que não seria um original. E resolvemos o assunto deitando-o fora.
De seguida telefonei a esses meus amigos que o tinha enviado. Artistas ambos. Fiquei a saber que ela e o Pitum, o marido, continuam no Natal a fazer cartões, que desenham e imprimem para mandar aos amigos. Como há anos mudei de casa, nunca me tinham sido entregues. Curiosamente a tolerância deles é enorme e nunca falámos sobre o facto de eu nunca agradecer.
Uma graça a conversa com a Lira, de 83 anos e uma vitalidade enorme. Contou-me como há uns anos ia 2 ou 3 vezes por semana contar histórias ao lar de 3ª idade lá da terra onde mora. O estado de letargia e velhice dos utentes era enorme. Ela via-os a dormir enquanto animadamente, eu sei que ela é assim, falava. Até pensava se estariam com medicação para sedar. Alguns batiam palmas porque lhes era dada a indicação. Ao fim de 2 anos desistiu.
E dizia-me, isto dos mortos dos lares é a selecção natural, sabe Magda, uma coisa é estarmos vivos, animados, vivermos mesmo, outra coisa é aquilo que lá via. Bom, até parece que nós aqui não somos velhos, concluiu, somos mas ainda a aproveitar a vida!