quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A propósito de burros

 

228º dia do recomeço do blog


Fiz equitação em pequena, mas isso é história com cavalos. A que vou contar tem a ver com burros. 

Não é do meu tempo mas da juventude da minha Mãe e do meu Tio. Os meus avós tinham um quintal separado da casa mas na mesma terra. Numa parte mais alta tinha uma casa velha, e o jardim ficava num nível mais baixo. 

Não sei que utilidade terá tido o Quintal de S. João, excepto das histórias que ouvi. Festas, Santos Populares e outras. Serviu também para guardar um burro, parece que mais do que um. Os burros há 80 anos seriam as máquinas de trabalho e também da mobilidade, as bicicletas de hoje. 

Nas férias grandes o meu avô queria organizar burricadas para os filhos e os amigos deles.

Terá sido ele a comprá-los mas de burros ele não percebia nada e foi facilmente enganado pelos ciganos que os vendiam.

Ouvi falar do burro selvagem que só não deu coices junto do antigo dono. Na mão dos novos donos era um perigo. Outro que devia ter uma deficiência grave da visão, pelo que era quase cego. Tinha de ser puxado à mão para não bater nas paredes, coitado. E outros. Estes duraram pouco tempo na mão dos meus avós, que até viviam em Lisboa e isso era passatempo de verão.

Eu tenho uma enorme ternura pelos burros. Associo à leitura do Cadichon, Memórias De Um Burro escrito pela Condessa de Ségur. Um livro de capa dura azul clara que ainda deve existir na arrecadação. Cadichon, um burro muito humanizado que um dia se revolta contra os maus tratos dos donos. No entanto é bom e tem atitudes de gente responsável em certas situações. E, com uma certa moral de um livro escrito no século XIX 1860, acaba por dar lições aos humanos.

"Publicado pela primeira vez em 1860, este livro conta as aventuras de Cadichon, um burro sábio que escreve suas memórias. Por causa de sua esperteza e inteligência, ele acaba ensinando muito aos humanos e mostrando a importância de refletir sobre as próprias ações, de se arrepender e procurar corrigir os erros cometidos. E, sobretudo, de tratar bem os animais, de amá-los, respeitá-los, pois são grandes amigos nossos. Cadichon viveu num tempo em que a vida era completamente diferente da que levamos hoje e pertenceu a diversos donos. Com cada um, teve um tipo de vida: ora triste e sacrificada, ora feliz, tranquila, ora muito, muito engraçada e aventurosa... Uma vida cheia de movimento, de perigos e armadilhas, de dificuldades e também de alegrias e de aprendizados, que fez do simpático burrinho um herói – às vezes, desastrado, mas herói...".

E depois há tantos burros com que nos cruzamos na vida.