domingo, 17 de maio de 2020



65º dia de isolamento social (COVID-19)


Há 2 dias "desconfinei". No carro, sozinha, foram 110 kms para lá e outros tantos para voltar.
Há pessoas que julgam ter sorte por receberem umas heranças mas há algumas que são prendas envenenadas. Na terra da minha Avó, eu e as minhas primas temos uma pequena pipa de terrenos, alguns bonitos, mas que não só não nos servem para nada, como ninguém os quer comprar.
E têm de ser limpos por causa dos incêndios.
Ainda o ano passado foram cartas para a GNR e para a Câmara que me diziam que um terreno não estava limpo. Ora pelo telefone eu tinha mandado limpar e por transferência tinha pago. E embora tenha pedido expressamente ao vereador da Câmara que me desse resposta à minha carta explicativa, nunca recebi resposta nem mesmo uma multa.
No dia da minha saída fui ver o terreno. Terá sido limpo o ano passado? Custa a crer! Pinheiros encostados uns aos outros, enormes, copas a entrecruzarem-se, tudo o que não é permitido e não é seguro em caso de incêndio. Lá conversei com uma pequena empresa que irá fazer a limpeza. Parece que devia ter procurado vender a madeira mas não o soube fazer.
Quando estiver limpo vou desafiar a família a fazer um picnic com as devidas distância, claro.
Mas agora pergunto eu, que limpeza teremos andado a pagar estes últimos anos? 




sábado, 16 de maio de 2020



64º dia de isolamento social (COVID-19)

Ontem passou na RTP2 o filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick.
Um filme que foca um grupo de adolescentes marginais que pratica actos de grande barbaridade, pura violência gratuita. Vê-se como atacam 2 vivendas isoladas, pedindo para fazer uma chamada telefónica de socorro. Lá dentro destroem, violam, matam os proprietários. 
Trata também de outros aspectos sociológicos e psiquiátricos mas que salto.

Vi-o em 1973 em Londres, com a minha Mãe. 

Saímos do cinema de coração apertado.
Compreendo que estávamos fragilizadas, estávamos lá para diagnóstico por suspeita de doença incapacitante da minha Mãe. 

Os meus Pais  tinham uma casa linda, num terreno muito grande, maioria pinhal, perto de Lisboa e perto de uma praia, onde só íamos aos fins de semana e nas férias. Isolada com nenhuma casa em redor. Só pinhal. 
O filme preocupou-nos tanto que à chegada mandou-se logo instalar uma tomada de telefone na entrada para que se alguém que pedisse socorro não tivesse de entrar. Obviamente que fomos impregnadas emocionalmente pelo filme.
Mas houve sempre algum incómodo que ficou.

A casa foi vendida em 1980.

Como eu gostava de a ter hoje! 

sexta-feira, 15 de maio de 2020



63º dia de isolamento social (COVID-19)



Só mais uma vez sobre o problema da miúda assassinada pelo pai e depois não digo mais nada.

Está tudo muito preocupado de quem vai ficar a tomar conta das 3 crianças sobrantes, 1 filho da madrasta e duas filhas do casal, uma com menos de 2 anos e outra de 4 anos.
O que não ouvi ainda falar é de como vão ficar estas crianças com esta história traumática na sua vida.

Mesmo a mais novinha! 
Todos terão ouvido barulhos, tareias, gritos e mesmo agressões que também havia entre o casal.

A do meio certamente também viu e ouviu muitas coisas.
O mais velho ouviu as agressões na casa de banho, e foi ele que notou que a miúda, deitada num sofá não reagia às suas palavras e quando a viu a espumar, foi ainda ele que telefonou à mãe a avisar. 

Estas crianças têm de ser acompanhadas psicologicamente. Têm de ser ajudadas a elaborar este traumatismo. E esse apoio psicológico deveria ser durante anos, que estas crianças nas tarefas que a adolescência vão ter novamente esta situação para "trabalhar", reorganizar.

Sim, que saber que o pai e a mãe foram assassinos,  frios e sem arrependimento na altura, como se pode pensar nisso?
Esperemos que os técnicos não queiram fazer já uma reparação da imagem dos pais, têm direito a ficar zangados.

E acabei por aqui este assunto.

quinta-feira, 14 de maio de 2020



62º dia de isolamento social (COVID-19)


Abril foi o mês da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância. Terá servido para alguma coisa? A menina morreu em Maio às mãos do pai e perante nenhuma intervenção de socorro por parte da madrasta e até com alguma colaboração.


A infância é um conceito relativamente recente, historicamente falando. 
Só em 1959 foi criada a Declaração dos Direitos das Crianças. Portugal ratificou-a em 2000.

"É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança."
A miúda nunca terá tido. A família nuclear e alargada é um dos vectores da "aldeia". O Centro de Saúde e @ médic@ seria outro, médic@s especialistas a que tenham recorrido. A escola, @s professores, as colegas, vizinhos atentos e amigos (não com funcionamento policial) etc, etc, etc. 
Quando tudo isto falha as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo ou Risco alertadas e por último os Tribunais de Família e Menores. 

Tudo isto falhou, e só a morte e a descoberta do cadáver nos abriu os olhos para a desgraça desta criança.




terça-feira, 12 de maio de 2020



61º dia de isolamento social (COVID-19)

Obviamente que a criança morta às mãos do pai continua na ordem do dia. Pelo facto em si e pela má consciência que todos temos com os actos que assistimos neste mundo.

Segui algumas crianças famílias em que a violência era a linguagem. Contra elas mas também por assistirem à violência entre os pais. Muito mais frequente do pai contra a mãe mas também em menor grau da mãe contra o pai.

As crianças assistem... lembro-me de algumas delas que me falavam de como se escondiam, tapavam-se com almofadas para não ouvirem as discussões, o medo das agressões que podiam levar a ferimentos graves e até a morte e a enorme culpabilidade por não poderem fazer nada. Outros tentavam meter-se no meio dos pais, separá-los, com gritos ou gestos, ficando muito inquietos e raivosos. Os pais que os deviam proteger, afinal desprotegiam.

Só segui um que viu o pai matar a mãe. Vimos que depois de ter assistido a muita violência. Não me esqueço do rapaz, aí com uns 8-10 anos, bonito, pele e cabelo claros, aloirado e olhos parados, olhar murcho, movimentos lentos e quase só se por insistência. Metido num mundo seu, qual não sabemos, apesar de todos os esforços terapêuticos que foram feitos, mais tarde ficou com um quadro de psicose esquizofrénica com deterioração cognitiva.
Há experiências traumática da infância que podem deixar marcas irreparáveis.
Uma pessoa viva mas perdida para a vida.

Portanto a prevenção é que tem de estar presente, ser desenvolvida, aumentados os técnicos e a sua formação nesta área trabalham.
O que teria acontecido à miúda assassinada se pequenos aspectos tivessem chamado a atenção estudados e tomadas medidas efectivas de afastamento e protecção?





60º dia de isolamento social (COVID-19)

Há uma percentagem razoável de pessoas não muito espertas, para não dizer com debilidade ligeira, mas que fazem a sua vida normal. Normalmente trabalhos manuais, sem grande necessidades cognitivas, tarefas definidas, como limpeza, serventia de pedreiro etc. 

Lembrei-me disto quando ontem ouvi na entrevista a familiar da mãe da menina assassinada.
A pergunta da jornalista foi completamente parva.
- "E como estava a mãe quando soube?"
Resposta da senhora:
- "Estava sentada".

Por vezes têm treino social e pode até, à primeira vista passar despercebido.
Uma colega cuja mãe lhe tinha descrito a maravilhosa evolução de uma criança débil depois de um tratamento de origem brasileira, pediu-me para a observar no meu consultório. De início parecia muito bem, regras sociais, cumprimentos, forma de se sentar, onde pôr as mãos, a bolsa que trazia. Na conversa fiquei a saber que seguia uma telenovela que eu também conhecia, pedi-lhe para falar dela. Era uma compreensão muito superficial, não fazia relacionamentos das personagens, nem compreendia os não ditos e perdia-se na história. Mas sempre com um ar seguro, sem dúvidas. Simpática e boa pessoa com certeza. 
Pena que o tal tratamento só a tinha ensinado a estar.






segunda-feira, 11 de maio de 2020



59º dia de isolamento social (COVID-19)

Mais uma criança foi morta!

Desaparecida há 4 dias, uma menina de 9 anos  apareceu ontem mas morta. Foi o pai que acabou por confessar ter sido ele, com uma explicação inacreditável, ela ter caído na banheira e ele a madrasta da miúda terem ido esconder o corpo e tapá-lo com ramos.

Sabe-se ainda pouco, não há ainda o resultado da autópsia e o casal continua preso a aguardar ser ouvido pelo juiz.


Só vou falar numa entrevista ao tio materno. Entrevista longa e péssima! Há cada jornalista! Merece este nome?

Rapidamente, a miúda estava em casa do pai, onde há mais crianças, meios irmãos. Guarda partilhada, parece. Os pais da criança coabitaram ou nem isso.
O tio, irmão da mãe, está de candeias às avessas com a irmã, nunca conheceu o pai da criança, terá visto poucas vezes a sobrinha.
Ficamos a saber isto logo no princípio. Mas a jornalista insistiu, tornou a insistir, como se não tivesse ouvido, qual a impressão que ele tinha do pai, da relação dos pais da miúda, da relação da mãe com a criança, o que ele acha que a mãe estaria a sentir, etc. Não contei mas foram largos minutos.

Que a entrevistadora não sabe entrevistar fica provado. Mas e porque é que o tio não se veio embora? Aquilo para ele estar a ser transmitido pela televisão também eram uns minutos de glória?