sexta-feira, 15 de maio de 2020



63º dia de isolamento social (COVID-19)



Só mais uma vez sobre o problema da miúda assassinada pelo pai e depois não digo mais nada.

Está tudo muito preocupado de quem vai ficar a tomar conta das 3 crianças sobrantes, 1 filho da madrasta e duas filhas do casal, uma com menos de 2 anos e outra de 4 anos.
O que não ouvi ainda falar é de como vão ficar estas crianças com esta história traumática na sua vida.

Mesmo a mais novinha! 
Todos terão ouvido barulhos, tareias, gritos e mesmo agressões que também havia entre o casal.

A do meio certamente também viu e ouviu muitas coisas.
O mais velho ouviu as agressões na casa de banho, e foi ele que notou que a miúda, deitada num sofá não reagia às suas palavras e quando a viu a espumar, foi ainda ele que telefonou à mãe a avisar. 

Estas crianças têm de ser acompanhadas psicologicamente. Têm de ser ajudadas a elaborar este traumatismo. E esse apoio psicológico deveria ser durante anos, que estas crianças nas tarefas que a adolescência vão ter novamente esta situação para "trabalhar", reorganizar.

Sim, que saber que o pai e a mãe foram assassinos,  frios e sem arrependimento na altura, como se pode pensar nisso?
Esperemos que os técnicos não queiram fazer já uma reparação da imagem dos pais, têm direito a ficar zangados.

E acabei por aqui este assunto.

quinta-feira, 14 de maio de 2020



62º dia de isolamento social (COVID-19)


Abril foi o mês da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância. Terá servido para alguma coisa? A menina morreu em Maio às mãos do pai e perante nenhuma intervenção de socorro por parte da madrasta e até com alguma colaboração.


A infância é um conceito relativamente recente, historicamente falando. 
Só em 1959 foi criada a Declaração dos Direitos das Crianças. Portugal ratificou-a em 2000.

"É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança."
A miúda nunca terá tido. A família nuclear e alargada é um dos vectores da "aldeia". O Centro de Saúde e @ médic@ seria outro, médic@s especialistas a que tenham recorrido. A escola, @s professores, as colegas, vizinhos atentos e amigos (não com funcionamento policial) etc, etc, etc. 
Quando tudo isto falha as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo ou Risco alertadas e por último os Tribunais de Família e Menores. 

Tudo isto falhou, e só a morte e a descoberta do cadáver nos abriu os olhos para a desgraça desta criança.




terça-feira, 12 de maio de 2020



61º dia de isolamento social (COVID-19)

Obviamente que a criança morta às mãos do pai continua na ordem do dia. Pelo facto em si e pela má consciência que todos temos com os actos que assistimos neste mundo.

Segui algumas crianças famílias em que a violência era a linguagem. Contra elas mas também por assistirem à violência entre os pais. Muito mais frequente do pai contra a mãe mas também em menor grau da mãe contra o pai.

As crianças assistem... lembro-me de algumas delas que me falavam de como se escondiam, tapavam-se com almofadas para não ouvirem as discussões, o medo das agressões que podiam levar a ferimentos graves e até a morte e a enorme culpabilidade por não poderem fazer nada. Outros tentavam meter-se no meio dos pais, separá-los, com gritos ou gestos, ficando muito inquietos e raivosos. Os pais que os deviam proteger, afinal desprotegiam.

Só segui um que viu o pai matar a mãe. Vimos que depois de ter assistido a muita violência. Não me esqueço do rapaz, aí com uns 8-10 anos, bonito, pele e cabelo claros, aloirado e olhos parados, olhar murcho, movimentos lentos e quase só se por insistência. Metido num mundo seu, qual não sabemos, apesar de todos os esforços terapêuticos que foram feitos, mais tarde ficou com um quadro de psicose esquizofrénica com deterioração cognitiva.
Há experiências traumática da infância que podem deixar marcas irreparáveis.
Uma pessoa viva mas perdida para a vida.

Portanto a prevenção é que tem de estar presente, ser desenvolvida, aumentados os técnicos e a sua formação nesta área trabalham.
O que teria acontecido à miúda assassinada se pequenos aspectos tivessem chamado a atenção estudados e tomadas medidas efectivas de afastamento e protecção?





60º dia de isolamento social (COVID-19)

Há uma percentagem razoável de pessoas não muito espertas, para não dizer com debilidade ligeira, mas que fazem a sua vida normal. Normalmente trabalhos manuais, sem grande necessidades cognitivas, tarefas definidas, como limpeza, serventia de pedreiro etc. 

Lembrei-me disto quando ontem ouvi na entrevista a familiar da mãe da menina assassinada.
A pergunta da jornalista foi completamente parva.
- "E como estava a mãe quando soube?"
Resposta da senhora:
- "Estava sentada".

Por vezes têm treino social e pode até, à primeira vista passar despercebido.
Uma colega cuja mãe lhe tinha descrito a maravilhosa evolução de uma criança débil depois de um tratamento de origem brasileira, pediu-me para a observar no meu consultório. De início parecia muito bem, regras sociais, cumprimentos, forma de se sentar, onde pôr as mãos, a bolsa que trazia. Na conversa fiquei a saber que seguia uma telenovela que eu também conhecia, pedi-lhe para falar dela. Era uma compreensão muito superficial, não fazia relacionamentos das personagens, nem compreendia os não ditos e perdia-se na história. Mas sempre com um ar seguro, sem dúvidas. Simpática e boa pessoa com certeza. 
Pena que o tal tratamento só a tinha ensinado a estar.






segunda-feira, 11 de maio de 2020



59º dia de isolamento social (COVID-19)

Mais uma criança foi morta!

Desaparecida há 4 dias, uma menina de 9 anos  apareceu ontem mas morta. Foi o pai que acabou por confessar ter sido ele, com uma explicação inacreditável, ela ter caído na banheira e ele a madrasta da miúda terem ido esconder o corpo e tapá-lo com ramos.

Sabe-se ainda pouco, não há ainda o resultado da autópsia e o casal continua preso a aguardar ser ouvido pelo juiz.


Só vou falar numa entrevista ao tio materno. Entrevista longa e péssima! Há cada jornalista! Merece este nome?

Rapidamente, a miúda estava em casa do pai, onde há mais crianças, meios irmãos. Guarda partilhada, parece. Os pais da criança coabitaram ou nem isso.
O tio, irmão da mãe, está de candeias às avessas com a irmã, nunca conheceu o pai da criança, terá visto poucas vezes a sobrinha.
Ficamos a saber isto logo no princípio. Mas a jornalista insistiu, tornou a insistir, como se não tivesse ouvido, qual a impressão que ele tinha do pai, da relação dos pais da miúda, da relação da mãe com a criança, o que ele acha que a mãe estaria a sentir, etc. Não contei mas foram largos minutos.

Que a entrevistadora não sabe entrevistar fica provado. Mas e porque é que o tio não se veio embora? Aquilo para ele estar a ser transmitido pela televisão também eram uns minutos de glória?





domingo, 10 de maio de 2020


58º dia de isolamento social (COVID-19)


Saiu hoje!
Sou a 1ª de cima à esquerda. 


Quem vê isto não imagina o trabalho que isto dá depois de todos terem enviado o trabalho individual.





sábado, 9 de maio de 2020


57º dia de isolamento social (COVID-19)

- De manhã tive uma reacção vagal ao comer o pão do pequeno almoço. A 1º vez, há cerca de 20 anos, estava em pé na cozinha com o meu filho mais velho que, subitamente e sem aviso prévio, me viu cair no chão desmaiada, passando rente à pedra mármores do tampo da cozinha. Apanhou um susto enorme, eu também quando acordei, fiz todos os possíveis para aligeirar a situação. Como médica que sou fui fazer os exames todos possíveis na época, à procura de um "batatoma"( linguagem calão para dizer tumor cerebral). Não tinha e daí o diagnóstico que escrevi.
Há 10 anos estava sentada na cama, a tomar o pequeno almoço e caí para o lado. Fui amparada pela minha empregada.
Hoje, sozinha, a tomar o pequeno almoço (novamente um pequeno almoço!) sentada na mesa da cozinha, percebi que me ia acontecer o mesmo, como se o meu esófago estreitasse e não deixasse passar nada. Cuspi o leite e deitei-me na mesa. É uma sensação horrível de que vai morrer engasgada mas não na garganta, mais abaixo. Sei que, tal como das outras vezes, perdi os sentidos. E depois acordei. A comida foi para o lixo, sem mais. Mas o facto de estar sozinha e não ter de ajudar outro a acalmar fez-me falta e não fui capaz de o fazer para mim. 
Todo o dia fiquei com dificuldade em me concentrar nalguma coisa, preocupada, esquisita. 

- Hoje deveria ter estado no Porto. Era o dia da inauguração da exposição de homenagem ao meu pai. Esculturas, algumas pinturas e escritos. Demorei alguns meses a preparar o que deveria depois de escrito seria impresso, procurar fotos, os textos dele etc.
Depois foi o embalar das coisas, e entregar. 
Entretanto veio o Covid-19 e lá está tudo embalado e também confinado. 

- Ainda não me passeei desde que isto começou. Hoje fui desafiada para ir comer uma fatia de bolo do aniversário do meu neto a um jardim. Ar livre e espaço. 
Acredito que estes dois assuntos que descrevi tenham interferido na minha recusa. Filhos, netos e noras que não vejo há pelo menos 57 dias. 
Não fui capaz de sair de casa e apetece-me chorar.

- Melhores dias virão!