quarta-feira, 2 de março de 2011

Poema - Sophia de Mello Breyner Andresen

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O BRANCO
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Foi pelo pranto que te reconheci
Foi pelo branco da praia que te reconheci

terça-feira, 1 de março de 2011

Aconteceu...Beber é bom. Um apreciador não se embriaga. Mas é preciso ensinar os jovens a beber com lúcidez.

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Há cerca de 30 anos, durante o meu Serviço Médico à Periferia, na zona da Beira Alta - Alto Douro, tive de me confrontar com o consumo de vinho desde tenra idade, e que se mantinha pela vida fora, uma vez que um garrafão de 5 litros fazia parte da jorna.

.Com as "bonecas", chuchas feitas com açúcar enrolado em pano e posteriormente molhado em vinho tinto, as mães acalmavam os bebés e preparavam-lhes o sono. De uma maneira geral este "consumo" parava quando a criança largava a chucha, mas não raras vezes com a entrada para a escola e porque o frio apertava, um copinho de água com vinho e açúcar ajudava à viagem.
.Claro que havia adultos com alcoolismo crónico, às vezes mais visível nas análises ao fígado do que nos comportamentos. O organismo ia-se habituando a altas doses de vinho e na falta de dele apareciam os comportamentos patológicos daí decorrentes.
Não apanhei nunca, nem nas urgências, crianças ou jovens embriagados e/ou em como alcoólico.
Convivia-se com o vinho como uma coisa natural, diria até cultural. Mas maligno, de qualquer modo, com um consumo por pessoa maior que o de hoje.
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No colóquio "Os Jovens, o Álcool e Segurança Rodoviária", focaram que o uso e consumo do álcool mudou de padrão.
Jovens, procuram no uso do álcool associado por vezes a outros estimulantes, a alteração de consciência, a embriaguez rápida.
Fazem-no nas saídas de fim-de-semana com os amigos aos bares. E com a falta de lucidez resultante, correm graves riscos.
Constataram também que alguns iniciam o consumo antes de sair de casa, e chamaram a atenção para o papel das famílias, nem sempre atentas, contentoras e organizadoras.
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Pois, já aqui escrevi várias vezes sobre a comunicação intrafamiliar. Com uma boa comunicação, os pais estão capazes de falar com os filhos e eles com os pais, ambas as partes se conhecerem e poderem os pais, mais facilmente exercer as várias funções que lhes compete, educar, transmitir valores, proteger, orientar, criar limites, saber dizer não, coisa que hoje muitos pais não estão a conseguir realizar.
Os filhos ficam mais sós e portanto mais vulneráveis.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Poema - Ruy Belo - que faria hoje anos (1933-1978)

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NA PRAIA
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Raça de marinheiros que outra coisa vos chamar
senhoras que com tanta dignidade
à hora que o calor mais apertar
coroadas de graça e majestade
entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aconteceu...limitações, geográficas e do espírito

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Ilha é definida como um pedaço de terra rodeado por mar.
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Ninguém se lembra em Londres que estamos numa ilha. Mas quando estamos em ilhas pequenas, daquelas em que se vê o mar de quase todo o sítio é difícil esquecer.
É o caso das nove ilhas dos Açores, que sendo pequenas, são dos sítios mais bonitos que conheço.
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Os aviões não levantam sempre, há muitas vezes que o vento ou o nevoeiro os impedem.
Consegui estar cinco dias na Ilha das Flores, com o Corvo ali ao lado, e nunca houve avião nem barco para lá ir.
Foi muito curioso quando entrei para comprar lenços de assoar e não havia. A senhora da loja agarrou nuns guardanapos de papel e deu-mos. Não quis dinheiro, explicou-me que quando faltam coisas e o transporte tarda, a solidariedade existe.
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Um dia, estava em S. Miguel e ouvi que tinha havido uma fuga de presos. A notícia criou-me uma sensação de aperto no peito, fugir para onde?
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Conheci uma criança que veio com o pai ao Hospital onde eu estava. Ele era de outra ilha. A mãe tinha pavor dos aviões e dos barcos. Nunca tinha saído da ilha dela e não se via grande hipótese de alterar a situação. Tive também um aperto no peito, sentimento de claustrofobia.
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Em Santa Maria um dos sítios onde me levaram foi ver os restos de um avião que caiu e ao monumento que foi construído no local da queda. Uma visita quase macabra, mas que entendi como uma viagem obrigatória, uma espécie de peregrinação em que em vez de rezar se pensa lagarto, lagarto!
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Mas no fundo, não há quem morando a menos de cinquenta quilómetros de Lisboa nunca a tenha visitado?
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E as fronteiras que existem na nossa cabeça não serão as mais difíceis de transpor?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poema - Vitorino Nemésio

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Já uma vila dos Açores
Loze ligeira no horizonte.
Será num alto das Flores,
No Pico ou logo de fronte,
Espraiadinha num cume
Ou encolhida em Calheta?
O ser nossa é que resume
Seus amores de pedra preta.
Para vila da Lagoa
Falta-lhe a cidade ao pé,
A distância de Lisboa
Já não me lembro qual é.
Para Vila Franca ser
Falta-lhe o ilhéu à ilharga,
É airosa pra se ver,
Mais comprida do que larga.
Povoação não me parece,
Nos padieiros não condiz,
Aos camiões estremece,
Mas não aguenta juíz.
Pra Ribeira Grande falta-lhe
O José Tavares no quintal,
Rija cantaria salta-lhe
Dos cunhais, branca de cal,
Mas não é Ribeira Grande:
Essa merecia foral!
No dia em que haja quem mande
Será cidade mural.
Nordeste - só enganada
Na vista da Ilha Terceira,
Longe de Ponta Delgada,
Sua sede verdadeira.
Nem Vila do Porto altiva,
A mais velha da fiada,
Em suas ruas cativa
Como princesa encantada.
De cimento a remendaram,
Coroaram-na de aviões,
Mas eternos lhe ficaram
Os bojos dos seus tàlhões.
Se é a Praia da Vitória
Não lhe reconheço a saia:
Enchem-lhe a areia de escória,
Ninguém diz que é a mesma Praia.
Talvez seja Santa Cruz
Da Graciosa, ou a sua Praia,
Com o Carapacho e a Luz
Cheirando a lenha de faia.
De S. Jorge a alva Calheta
Ou a clara vila das Velas,
E o alto, alvadio Topo
Com um monte de pedra preta
Dando realce janelas.
As Lajes ou o Cais do Pico,
A escoteira Madalena
Vilas são de vinho rico,
Qual delas a mais morena.
Santa Cruz das Flores seria
Essa vila açoriana
Ou as Lajes de cantaria
Do bom Pimentel soberana.
Finalmente, só o Rosário,
Que do Corvo vila é,
Pequena como um armário
Ou um chinelinho de pé.
Mas não é nenhuma delas,
Nem Água de Pau, que o foi,
S. Sebastião, ou Capelas,
Da Terceira arca de boi
Como a nossa Vila Nova,
Que nem chegou a ser vila,
Tão branca na sua cova,
Tão airosa, tão tranquila.
Ah, já sei! É delas, fundo,
Que o muro alvo se perfila
Contra os corsários do mundo
Que invejam a nossa vila,
Nosso povo, na folia
De uma rocha de mar bravo,
Que o Guião da autonomia
Só por morte torna escravo.