Há uma década ou um pouco mais, fui à Índia. O pretexto foi um congresso mas inscrevi-me em viagens-tours antes e depois do dito. Foram 17 ou 17 dias ali mergulhada num vendaval lindo de cores, aromas, e ao contrário do que se possa pensar muita limpeza.
Eu disse aromas? mas não se aplica esta palavra a Varanasi ou Benares como é conhecida entre os hindus. Cidade mágica para eles, encostada ao rio Gangues, e à qual todos os fieis gostam de ir e mesmo de morrer.
Ainda longe da cidade o cheiro a carne assada é insuportável. Os mortos ardem em piras de lenha e as suas cinzas são depois atiradas ao rio...onde os fieis são banham, gargarejam, se purificam. De vez em quando um cadáver passa a flutuar, na altura explicaram que talvez não tivesse ardido na pira de madeira por falta de dinheiro ou outra razão mais espiritual.
Mas voltando à minha estadia lá, de um dia, foi péssima, impressionou-me imenso, cruzar-me nas ruelas com leprosos, doentes à beira da morte e outros. E o cheiro, caramba, o cheiro de carne assada não me saía do nariz. Tanto quanto me lembro não comi enquanto lá estive.
Lembrei-me hoje ao ver imagens das piras para queimar os cadáveres vítimas do Covid-19 na Índia. É possível, está em estudo, a existência de uma nova variante, indiana.
A Índia é um país de enormes desigualdades, há os ricos muito ricos e os pobres que nunca viveram numa casa, nascem e morrem nas ruas. Os serviços de saúde, os públicos, são poucos e incompletos, não aguentam, falta tudo, camas, medicamentos e até oxigénio. A Índia que tem fábricas de medicamentos, tem técnicos de qualidade - muitos dos relatórios de radiologia são enviado por outros países como o nosso, é mais barato que fazer horas extraordinárias - não está a ter meios para parar esta pandemia. Preocupante e triste!