84º dia de isolamento social (COVID-19)
Desconfinada mas isolada
Isolada? Fiz um pequeno intervalo.
Estava a sentir uma dor dentro de mim. Quando desconfinei, mudei para as buganvílias, a areia e os passeios longos pela areia. Sozinha, isolada é certo. Mas era uma novidade, e durante dias esqueci a dor.
Com o skype falava com os meus netos, com o WhatsApp escrevia com os filhos, frases curtas, fotografias, pequenos acontecimentos.
Mas os dias foram ficando todos iguais e a dor voltou.
Regressei à minha casa. E foi com prazer que contemplei os meus objectos, me sentei no meu sofá, meu, meus, ser filha única mantém-se nesta pertença.
E eis que o meu filho Martim me desafia para jantar, numa esplanada ou em casa. Não aguentei. Tinha mesmo de ir, sem abraços nem beijos, mas foi tão bom!
E hoje fui almoçar com os meus netos a uma esplanada. Foi o Duarte, o meu outro filho que sugeriu.
O primeiro momento senti-me uma emigrante que regressa a casa ao fim de quase 3 meses. Tinham crescido, o mais novo com a cara mais redonda, o mais velho mais alto. Contentes, simpáticos. Verbalizaram que tinham saudades minhas, rimos bastante mas também falámos do que passámos no confinamento.
Acabámos com um gelado, comido pela rua fora, com o prazer da boca a confundir-se com o do coração.
Agora recomeço outro período de maior isolamento. Mas para já, a dor desapareceu.