segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aconteceu...a propósito de saudades


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Ao ouvir uma entrevista a um jornalista português que viveu alguns anos no estrangeiro e perante a pergunta do entrevistador de como é viver longe de Portugal, oiço como resposta que nunca tinha gostado de fado.
Acrescenta no entanto, e que já depois de estar instalado lá longe, comprou um galo de Barcelos para pôr na cozinha e aprendeu a lenda sobre o mesmo.
Referiu os amigos estrangeiros que iam a sua casa achavam o galo uma peça muito curiosa.
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Chegado o fim da entrevista, não fiquei a perceber se o galo representara para ele simbolicamente Portugal de forma sentida, ou se fora mais uma espécie de folclore.

Quando se fala em saudades frequentemente é referida a comida.

Nas minhas visitas aos amigos que estão longe, comida e vinhos portugueses fazem sempre parte das encomendas. Vinhos tinto e branco, vinho do Porto, enchidos, queijo da Serra, pasteis de Belém, queijadas de Sintra, são algumas das coisas que são apreciadas.

Aqui há uns anos, mais de 20, fiz uma viagem para Bordeus de camionete. Para além de mim que ia passar uns dias de férias para um hotel, e não tinha lá ninguém conhecido, a camionete ia cheia de emigrantes ou familiares que iam visitar os parentes. Na fronteira de entrada para França os guardas fronteiriços mandaram-na parar e fizeram uma vistoria severa. Apareceram dezenas de garrafões, de azeite e vinho, bacalhaus, alheiras e outros enchidos, bolos reis, regueifas, um sem número de alimentos que ao saborear nos remetem para a nossa terra.

A alimentação é o protótipo da relação primária humana. Ainda antes de ser compreendida como mãe, pessoa diferente do bebé, que tem coisas que gostamos e outras que não gostamos, a mãe é "percebida" como uma mama, que é boa quando satisfaz e má quando o não faz. Ele não me come nada, dizem certas mães de filhos já crescidos, confundindo-se ainda elas próprias com a comida.
Certas crianças são um martírio para comer em casa. Fazem-no rápidamente se fora de casa como na escola ou na casa da vizinha, onde as relações conflituais não estão presentes.
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Percebe-se a importância do factor emocional na avaliação tão frequente de, pela vida fora, se poder achar que certas comidas nunca ficam a saber igual às que as mães faziam.
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Certos alimentos e paladares, podem refletir o recordar e reviver experiências afectivas agradaveis.
E coitado de quem não as tem.

6 comentários:

  1. Eu até acho que a etimologia da palavra "mamã" é mama, assim como a de "papá" é papa. São, em regra, as primeiras palavras dos bebés, todas com ligações emocionais e... gastronómicas! :-)

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  2. E a socialização e o cumbíbio à volta da mesa.
    Aniversários, comemorações, romances, amizades, "inimigos virtuais", o "fim" das histórias do Astérix, ........

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  3. Que engraçado Nicha, até andei à procura de uma foto de tampo de mesa do Cutileiro, para ilustar essa parte do assunto. Não encontrei nenhuma foto e depois devo ter esquecido o parágrafo dos convívios à mesa. Obrigada Nicha, era uma enorme lacuna.

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  4. Gostei. Do teu texto. De comida, quando era minúscula, não gostava, dizem. Eu não tenho memória sobre o meu 1º ano de vida, naturalmente. Desde que me conheço que gosto de comer, de conviver e de comemorar.

    O meu 1º cheiro a estrangeiro = Liberdade foi o dos croque-monsieur e das crêpes feitos nas ruas da rive gauche de Paris.

    E o Porto cheira-me sempre bem . . . a Porto da minha infância . . .

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  5. E as trocas de favas por peixe cozido, e vice versa?

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  6. Nicha, essa é uma boa história para um dia contar.

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