quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Aconteceu...caixas para pessoas vivas

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Um destes dias, do Derby de Lisboa como ouvi que chamavam ao jogo de futebol Sporting Benfica, ouvi um oficial da polícia falar sobre as medidas de segurança que iam ser tomadas.
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Ao referir-se à claque do Benfica, que ainda não tinha partido rumo ao estádio do Sporting, o polícia disse que eles seriam cerca de 3000 e iriam em caixas de 400. Caixas?
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A minha fantasia levou-me para aquelas camionetas de caixa aberta, onde animais são transportados, esborrachados uns aos outros. À chegada e quando os fazem sair, uns vêm mortos, outros moribundos, outros ainda com fracturas várias.
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Depois o meu pensamento divagou para as caixas de redes, quatro faces e uma abertura, que os pesacdores do mar usam para a apanha de peixe ou marisco ou para os pôr em viveiro. Mas isso são chamadas gaiolas.
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Já tive oportunidade de ver as claques dos três principais clubes serem encaminhadas para os estádios. Vi de perto, ali no passeio, parada, só para os ver. Curiosidade, que género de pessoas, homens, mulheres, qual o aspecto, e o comportamento.
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Por isso penso saber o que são as caixas que o polícia falava, cordões de polícia que envolvem a massa da claque, delimitando-a em grupos. E lá vão eles, fileiras serradas, presos entre os cordões de guarda. Todos os que vi naquelas viagens, iam mansos como carneiros.
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O aspecto das pessoas de algumas claques impressionou-me. Não são todas constituídas por pessoas semelhantes no estilo e aspecto social. Numa delas, gente com ar pobre, para não dizer quase miserável, quer na roupa, nos dentes podres ou até na ausência deles. Há marcas de infância sofridas e abandónicas que não se apagam, e ficam coladas à pele porque já lhes pertencem, só a morte as fará desparecer.
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Impressionou-me que por períodos não há cantos nem palavras de ordem, fazendo lembrar um cortejo fúnebre, que acompanha o morto à sua última morada. Impressionou-me o ar submisso com que se sujeitam a ser tratados assim como animais.
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Que, e em grupo, sabemos que agem muitas vezes como tal.
Mas dizer que vão em caixas de 400, ó senhor guarda, terá mesmo de se dizer assim?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Poema - Miguel Torga

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TRANSE
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Nem tudo é lei da vida ou lei da morte.
Há limbos onde o homem desconhece
Esse dilema hostil.
É quando ama, ou sonha, ou faz poemas,
E a própria natureza o não domina.
Então, livre e perfeito,
Paira no tempo como o pó suspenso.
Nem do céu, nem da terra, nem sujeito
Ao pesadelo de nenhum consenso.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aconteceu...Trop bavarde! Muito conversadora!

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Ainda voltando à comunicação que implica nos bons casos transmissão de pensamento e emoção, e perante um comentário da Nicha sobre o ensino da Filosofia até ao 12º ano, desculpem, sobre o não ensino, ontem liguei a rádio e ouvi...
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Em Portugal, neste momento, são seniores quem frequenta o curso. Reformados, desempregados à espera de reforma, ou pessoas que querem aprofundar estes campos do pensar.
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É muito triste e preocupante esta situação mas compreende-se. Se os jovens estudam e é suposto arranjarem lugar no mercado do trabalho, este curso não lhes interessa. Se não são precisos professores de filosofia, o emprego estreitou, e nem todos serão filósofos-investigadores.
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Esta situação é nova em Portugal. Há anos o curso era frequentado por jovens.
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Fiquei também a saber que em países estrangeiros, o ensino e a procura da licenciatura continuam como eram, a existir e interessar.
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É aliás curioso que a conversa nas escolas, mesmo dos mais pequenos, incluindo a pré, básico e as 2-3, nem sempre é bem vista. Perturba e é raramente aproveitado pelos professores para iniciar algum debate. Por isso são frequentes as anotações depreciativas que informam as famílias, trop bavarde, muito conversadora.
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Mas voltando às famílias, há quem não tenha mais que a 4ª classe ou o 6º ano e tenha uma enorme capacidade de pensar, tenha insight e facilidade de comunicar.
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Para isso, nem toda a gente precisa de ir à escola e tirar cursos para partilhar. As famílias deveriam ser a grande escola!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema . Jorge de Sena

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HUMANIDADE
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Na tarde calma e fria que circula
por entre os eucaliptos e a distância,
olhando as nuvens quase nada rubras
e a névoa consentida pelos montes,
névoa não subindo por não ser
fumo da vida que trabalha e teima,
e olhando uma verdura fugitiva
que a noite no céu queima tão depressa,
esqueço-me que há gente em cada parte,
gente que, de sempre, sofre e morre,
e agora morre mais ou sofre mais,
esqueço-me que a esperança abandonada,
a não ser de ninguém, é sempre minha,
esqueço-me que os homens que a renovam,
que o fumo dos seus lares sobe nos ares...
Esqueço-me de ouvir cheirar a Terra,
esqueço-me que vivo...E anoitece.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Acontece...comunicação, intimidade e limites são compatíveis e necessários

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Falava eu, um destes dias, de como é frequente a pouco ou nenhuma comunicação dentro das famílias. E, como esse facto pode dar origem a perturbações do desenvolvimento psicológico às crianças que crescem nestes ambientes.
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Mas também é complicado para o desenvolvimento infantil, as famílias que falam muito, com todos e de tudo. Refiro-me a famílias sem limites geracionais. É muitas vezes por bem, pais que tiveram umas educações rígidas, que pouco comunicaram entre si e cujo modelo era o da grande repressão e querem à força ser diferentes do que os pais foram para eles. Algumas crianças aguentam mas nem todas.
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Mas toda a gente, crianças ou adultos, têm necessidade de conversar, partilhar o que vai dentro deles. E não se partilha com qualquer pessoa. É preciso intimidade.
E há quem não tenha intimidade com a família, ou não a tenha perto de si.
Muitos construíram a família dos amigos. Pobre de quem não tem um amigo íntimo, daqueles que nos conhece a voz e percebe sem que lhe seja necessário dizer nada, que hoje eu preciso de ti, preciso de ficar em silêncio, ou falar e ser ouvida, precisar duma resposta compreensiva.
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Comunicar, partilhar, ser entendido, aprende-se, treina-se e ajuda uma pessoa a não se sentir só. Em criança ou já adulto. E isso é muito bom!
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De pequenino se torce o pepino...