quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Poema - Ruy Belo

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O VALOR DO VENTO
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Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Aconteceu...na rua

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Os meus olhos pousaram nela.
Tal como um metal a ser atraído pelo íman, assim me senti. O meu olhar não descolava.

Levava um casacão com os botões apertados. Junto ao pescoço uma enorme flor vermelha, redonda como um cravo gigante, que abanava discretamente, movimentando-se em sintonia com ela.

Não olhei a cara da pessoa, atenta a tal pregadeira.

Eis que nos cruzámos, e pude ver que a dita flor era uma cabeça de bebé com um carapuço vermelho (passe-montagne?) que a mãe, encostando a si, protegia do frio e cobria com o casaco.

Bendito é o fruto do seu ventre... Mãe, linda é a flor ao teu colo!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto - A ver o que lá se passa

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......................................................Foto - Magda

domingo, 16 de janeiro de 2011

Poema - Alberto de Lacerda

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Inventaste-me
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Uma vez mais
Deixei-me ser inventado
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Só os teus lábios
Verdadeiramente suspensos
Dos meus
Me restituiriam
A quem eu fui
Antes do labirinto ardente de palavras
Onde me inventas
E onde me abandonas consecutivamente
Coberto de sangue
Sem dares por isso.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Aconteceu...Foto

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.......................................................Foto - Magda

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Poema - Manuel de Freitas

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ODE À NOITE (INTEIRA)
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Gosto do momento, exacto ou nem por isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
– ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
– como eu – insónia, pesadelo, golpe baixo).
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Existem, claro, raparigas louras um tanto
heterodoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita – o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógina.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.
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Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
– ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.
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O resto, a vida, fica para outra vez.