quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Aconteceu...tanta electrónica, bolas!

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Apesar da crise, li que os pagamentos feitos com os cartões de plástico mantêm valores altos.
As lojas parecem bastante vazias, mas os terminais não se devem enganar.
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Vejo crianças com brinquedos caríssimos, em famílias que certamente têm dificuldades. A sociedade de consumo e os sentimentos de inferioridade "obrigam" a estas "necessidades".
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Está a haver uma dificuldade de se criar brinquedos com as coisas simples que nos rodeiam. Estão desprezados face aos electrónicos. Mas não haverá lugar para todos?
As caricas que faziam de automóveis, e competiam em pistas feitas na terra, as bonecas feitas de trapos que eram tratadas com tanto desvelo como a mais sofisticada Barbie, as espadas feitas de bocados de madeira, caixinhas, molas de roupa, restos de objectos transformados e com os quais um mundo de fantasia era criado, e tantas outras coisas, não preenchiam e divertiam tanto?
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Em certas famílias parece haver uma diminuição do relacionamento e da criatividade. Os jogos que uniam e divertiam as famílias, juntando várias gerações, parecem estar esquecidos. Muitas famílias brincam pouco ou nada com os filhos, as conversas deixam de se fazer, algumas passam os serões e os fins-de-semana agarrados à televisão, e última das minhas descobertas, famílias em que há um computador por pessoa e que estando na mesma casa falam entre si por Messenger!
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Era bom que neste Natal, as famílias pudessem inventar com os filhos qualquer coisa que os junte sem máquinas, descobrir dentro de cada um e em conjunto as potencialidades escondidas, hoje tapadas pela tecnologia.
Gastava-se menos e seria muito melhor para todos!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Poema - Al Berto

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APAGA AS ESTRELAS

No centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a
vida me deixar e sei que cada palavra escrita é um dardo
envenenado. Tem a dimensão de um túmulo e todos os teus gestos
são uma sinalização em direcção à morte.
Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar.
Medito no meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi, e uma abelha pousa-me no
azul do lírio e no cardo que sobreviveu à geada. Bebo, fumo,
mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela
fechada. oiço-te ciciar: amo-te, pela primeira vez, e na ténua
luminosidade que se recolhe ao horizonte, acaba o corpo. Recolho o
mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho:
Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do
mundo que nos foge.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Aconteceu...alimentar pela boca e pelo coração

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É curioso e todos já dissemos ou ouvimos uma pessoa dizer, normalmente com funções maternas, que "ela não me come nada". A alimentação, o acto de alimentar é o protótipo da relação humana, a comunicação primeira que é suposto satisfazer a criança e fazer crescer.
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Conhecemos como às reuniões de amigos raramente falta comida, nem que seja um petisco acompanhado de uma bejeca ou um chá com umas bolachinhas.
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As mães preocupam-se quando os filhos não comem o que elas acham ser necessário. Isto do necessário varia muito com a pessoa, há os de grande alimento e os que se satisfazem com pouco. Curiosamente, de uma maneira geral, as mães preocupam-se menos com os filhos que comem demais, embora esteja bastante divulgado o problema da obesidade; e sabemos também que muitos comem para tapar o buraco afectivo que sentem. Sem nada que fazer? umas bolachas; aborrecido? mais outras; irritado? come-se qualquer coisinha que acalma. Mas isto do "apetite" do outro, satisfaz quem cozinha ou alimenta.
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Quase todos temos lembranças de comidas que alguém nos fazia e que sabia muito bem. Há quem tome isso à letra e tente satisfazer esse desejo, "cozinhando como a tua mãe", e se sinta frustrado porque, está bem de ver, não é só a comidinha mas a relação que a ela estava ligada.
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Isto vem a propósito da comida dos hospitais públicos e que é servida aos familiares e aos funcionários, a preços muito aceitáveis, certamente subsidiados, de cantina pública.
Está muitíssimo melhor do que era, eu que a conheço há décadas.
Não pensem que é alguma coisa do outro mundo, mas há sopa, um ou dois pratos fruta ou doce e um buffet de saladas à escolha que vejo ser muito apreciado. A comida é razoavelmente cozinhada e tem apresentação normal.
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E acho isso muito importante, é uma forma de receber e abraçar os familiares que, sabe-se lá com que desamparo, têm um seu filho internado.
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Com os 15% de poupança que a saúde vai sofrer este ano, desconfio que esta comida decente, pode ser uma das primeiras coisas a sofrer um corte.

domingo, 12 de dezembro de 2010

sábado, 11 de dezembro de 2010

Poema - Fiama Hasse Pais Brandão

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O MELRO

Tanto quanto eu, ele ama
as folhas secas, debica-as
e devora-as. Está a procurar
debaixo da face da folha
os vermes. Percorre com apuro
recessos, as nervuras.
Trabalha com amor
para a sua memória.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Aconteceu...memória do elevador dos pratos

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A casa dos avós era grande.
A cozinha era no rés-do-chão, a sala de jantar no 1º andar. Uma por cima da outra. Para não se andar escada acima escada abaixo, havia um pequeno elevador manual transportava a comida e os pratos da copa, junto à cozinha, para a sala. Cá em cima, uma empregada puxava ou segurava a corda, punha ou tirava conforme a tarefa necessária.
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Este elevador era um fascínio para nós, crianças, que com os nossos pais morávamos em andares.
De férias lá em casa, sonhávamos sermos nós os transportados. Imaginávamos um de nós podia ir lá dentro e os outros dois a puxarem ou segurarem o elevador.
Claro que certamente ele dispararia em velocidade e eventualmente bateria com força no chão. Com um de nós lá dentro, com propriedade deveríamos dizer "bater com os ossos no chão".
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Não teremos avaliado o perigo de forma consciente, mas tinhamos alguma noção dele e também do interdito, que não teríamos o apoio dos adultos. Fazíamos então os "preparativos" às escondidas, que não passavam de "preparativos", de fantasias aventurosas.

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Nunca chegamos a descer. Não sei se alguém falou, se foi adivinhação dos avós, mas a regra que o elevador era só para pratos foi explicitada e nunca tivemos coragem de desobedecer.