10º dia de isolamento social (COVID-19)
Almeida Garrett é um escritor português do século XIX.
Uma das suas obras mais conhecidas é as "Viagens Na Minha Terra". Fazia parte do programa do liceu e nós, jovens, achávamos muito aborrecido.
E eis que nestes dias de isolamento, peguei nele e encontrei esta parte que cito:
"Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de Estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré".
Nestes 10 dias de isolamento os meus passeios também são por casa. Não é verão, não vejo o Tejo, que moro noutra zona de Lisboa, mas vou à janela, às janelas, que dão para duas paisagens diferentes.
Vejo vizinhos por detrás das vidraças, um ou outro carro, raros, alguém passeando um cão (uma das excepções para se ir à rua).
A torre perto de mim tem um jardim. De forma isolada já vi pessoas a lerem, pai a jogar à bola com filho, ali à sombra alguém joga com uma raquete, são certamente dois mas ao outro não o vejo.
O meu prédio é rodeado por um terraço, sem relva e quantas vezes já pensei ir-me lá sentar com uma cadeirinha de praia que tenho na arrecadação, chapéu de palha e um livro. Mas ainda não o fiz.
Certamente um dia...isto ainda está para durar.