quinta-feira, 24 de junho de 2010

Aconteceu...que brincar é coisa muito séria.

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Fui à praia com o Vicente que tem 5 anos feitos recentemente. Maré baixa, ficamos na areia seca, bem longe da água que nestas marés não chegará certamente ali.
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Num afã enorme vai construíndo um buraco, que me explica ser uma represa para prender a água. À volta em círculo, envolvendo esse buraco vai construindo uma muralha. Eu estou sentada e vou ajudando a juntar a areia com uns empurrões que vou fazendo com os pés. Não contente com a segurança, diz-me que vai fazer um muro por fora. Tem torreões, que já alguma criança tinha construído com um balde e ali tinham ficado. No meio dos dois muros um espaço por onde a água poderá circular se vier.
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Lembro-me dos fossos dos castelos e pergunto-lhe se uns crocodilos ficarão bem ali no fosso como guardiões. Recusa a ideia, não aqui não vai haver crocodilos diz-me muito sério. A brincadeira-construção continua.
No filme do Shrek havia um dragão que prende a Fiona. Será que poderia haver ali um, talvez em cima de um torreão?
O Vicente pára, olha para mim e diz-me, Ó Avó Magda, nós não estamos a brincar, isto é a sério!
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Brincar e jogar são coisas muito diferentes. O jogo implica regras, nele pode-se perder ou ganhar. Mas antes de jogar, todas as crianças deviam ter tido oportunidade de brincar.
Brincar, que a história que contei ilustra bem, é uma construção saída da conjugação da realidade externa e da interna, sem ser uma nem outra. É uma actividade criativa completamente necessária ao desenvolvimento.
Que bom que certos adultos conseguem manter viva a criança que existe dentro de si!

3 comentários:

  1. Olá :) Hoje resolvi comentar, e gostei muito do post.
    Pensava cá com os meus botões: o brincar é a "actividade profissional" da criança, onde expressa, de forma regular, a sua vivência interior, a sabedoria e fantasia que a habitam. Um pouco como o adulto, que na sua profissão emprega os skills aprendidos anteriormente e a sua criatividade. A criança que não brinca é como um adulto desempregado. Privados de uma actividade fundamental na sua estruturação e construção. Se somos (também) o que fazemos, menos seremos se pouco produzirmos, se não tivermos gosto profissional, se não gostarmos de brincar. Já tive a experiência de não gostar de trabalhar, e era algo que me deprimia e fazia sentir inútil. Tento imaginar a criança que não gosta de brincar...e dá-me vontade de abrir um centro de emprego infantil.
    Bruno Figueiredo

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  2. um dia quando uma das minhas filhas era criança disse-me:-"agora faz de conta que eras a minha mãe..."

    Quanto ao centro de emprego infantil de que fala o Bruno, tem algo de semelhante com aquilo a que chamam hoje, com fundamento, mas com mais fundamentalismo que fundamento-" exploração de trabalho infantil"
    -adorava aprender a coser botões e fazer chapéus e cartão, fingir que fazia sopas de terra com pedacinhos de couves no jardim e ajudar a fazer bolos com a minha avó.Brincávamos a sério, sem termos de estar fechados em salas pré-primárias, nem em jardins infantis sem infâncias, nem jardins.
    «O drama de ser criança» da Alice Miller, é um livro que devia ser lido por todos que tentam lidar com crianças.

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  3. Para aprofundamento do brincar e do espaço potêncial, recomendo a leitura de Winnicott,pediatra e psicanalista inglês, no Playing and Reality . Ele fez uma muito interessante conceptualização. Há em português.

    A Alice Miller,Também psicanalista, escreveu vários livros sobre a infância de certas personalidades. Ela, que viveu maus tratos na infância, acabou por sa zangar com a psicanálise e a sua visão de fantasia e o valor excessivo na opinião dela de realidade interna, negligenciando a reslidade externa.

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