terça-feira, 17 de março de 2020

3º dia de isolamento social (COVID-19)

Já há bastante tempo deram-me o CD de Arvö Part, Orient Occident. Composto em 2000. 
Hoje resolvi começar o dia a ouvi-lo.

Enquanto retirava o pequeno livro que o acompanhava, a música começou a tocar. Senti um enorme incómodo, uma melancolia que me invadia e assustava.
Podia estar no cinema. Um filme estranho, uma cena inquietante e triste...como este período que agora estamos a viver.

A música de Arvo acompanha-se de um texto místico que a situa. Este o começo, que ponho em francês porque é a língua que domino melhor. 

Je lève les yeux vers les montagnes:
d´où le secours me viendra-t-il?
Le secour me vient du Seigneur,
l´auteur des cieux et de la terre.
-Qu´il ne laisse pas chanceler ton pied
Que ton gardien ne somnole pas!-
Non! il ne somnole ni dort,
Le gardien d´Israël.
Le Seigneur est ton gardien.
Le Seigneur est ton ombrage. Il est à ta droite.
De jour, le soleil ne te frappera pas,
ni la lune pendant la nuit.
Le seigneur te gardera de tout mal.
Il gardera ta vie.
Le Seigneur garderates allées et venues,
Dès maintenant et pour toujours.

https://youtu.be/FJ1WPNJz6ps





segunda-feira, 16 de março de 2020


2º dia de isolamento social (COVID-19)


Em 2007 fui integrada numa viagem organizada pela Cooperativa Árvore à Turquia. Foi muito interessante, bem organizada, com uma grande volta pelo país. 
Em Istambul ao visitar o Palácio Topkapic, o meu primo Paulo disse-me que havia um filme muito giro que tinha sido filmado ali. Fiquei com o bichinho atrás da orelha, como se costuma dizer.
Pois ontem vi que tinha passado num canal de cabo há dias. Resolvi ainda antes do almoço vê-lo.
Trata-se de um roubo de um dos tesouros aí depositados, no caso uma faca cujo punho e bainha cravejadas de esmeraldas. Podia ter sido o Arsène Lupin mas aqui foi um grupo de 5 pessoas. Uma história muito bem contada e um final delicioso.
Filme de 1964, prende-nos ao écran, uma dinâmica, um suspense, imagens bonitas de Istambul, do Palácio e do tesouro e boa representação.
Dirigido por Jules Dassin, com um elenco de peso, cito dois, Peter Ustinov e Melina Mercuri. 

O mais importante na área da solidariedade foi ter posto no Facebook, tal como muitos outros colegas, a minha disponibilidade para responder por mensagem a dúvidas que as pessoas possam ter perante sintomatologia que não seja claramente do Covid-19.
Ainda nesse dia respondi a 3 pessoas que com facilidade e através da história contada se excluía essa possibilidade. 




domingo, 15 de março de 2020


1º dia de isolamento social (COVID-19)

Como de costume acordei e abri o tablet. Ouvi as notícias da TSF, li o jornal, passei os olhos pelo FB,  e levantei-me.

Para manter as articulações funcionais e porque o ginásio está fechado (já há 1 semana que por precaução não ía), procurei no youtube uma aula de alongamentos. Encontrei, 10 minutos, serve. Estava eu a cumprir as indicações da professora quando oiço o tlim do WhatsApp, uma foto da minha nora e o meu neto a fazerem uma aula de Pilatos pelo skype. Outra que está a querer manter a rotina. 

É hoje que irei acabar o artigo para a exposição das obras do meu Pai? Estava quase acabado mas estava com dúvida onde colocar no texto dois agradecimentos. 
Demoro sempre muito a pensar no que escrever.  Saindo da ordem telefonei à artista. Ela fez uns fechos para uns colares. Uma pequena conversa, julgo ter entendido que outro artista pode trabalhar por cima de uma obra já feita. 

Tinha pensado que poderia ver um filme por dia, ouvir um disco, ler. Mania de programar!

A seguir ao almoço acabei o livro do Chico Buarque "Essa Gente". É um livro quase escrito como diário, que se lê tão bem! Dei por mim a pensar o que é escrever bem. Todos os livros traduzidos que comprei no Brasil irritaram-me imenso. Mal escritos, ou melhor mal traduzidos. Há muito que li clássicos brasileiros sem ter sentido esse incómodo. 
Chico ganhou com este livro o Prémio Camões que lhe seria entregue a 25 de Abril 2020. Mesmo sem a assinatura do Bolsocoiso.
Ninguém estava à espera do Covid 19, não vai haver nessa data.

Muito telefonam as pessoas, muito mais do que nos dias banais, que se passam vários  seguidos sem que só fale com uma ou duas pessoas. 
Dou-me conta que esta situação de ficar em casa, que a mim não me incomoda nada, não é vivida da mesma forma por muita gente.

Uma ida ou outra ao FB. Tinha-me prometido a não ouvir mais notícias durante a tarde. E foi ao fim do dia que liguei a televisão. Parece-me que será necessário mão mais forte nas limitações impostas para tentar limitar a pandemia. Veremos...

Uma série que gosto de "Cândice Renoir", um espectáculo que o Salvador Sobral e o André emitiram via FB  e  um excelente bailado Y Olé! Coreografo José Montalvo, que revisitou a sua infância em Espanha, fazendo uma viagem do flamengo ao hip hop na RTP2, fez o serão.

Era suposto bater palmas aos técnicos de saúde  à janela às 22 h E não é que me esqueci?  




REABERTURA


Vou reabrir este Blog.

Em 2010 abri-o numa altura em que tinha partido o pé e tive um período de prisão caseira que ainda durou uns meses.
Agora que estamos em isolamento social forçado pela pandemia Covid-19, vai-me ajudar a ocupar o tempo e guardar memórias. Quanto tempo durará esta situação?

Quando parti o pé, pretendi ser o mais autónoma possível, para além das muletas aluguei uma cadeira de rodas para usar na cozinha. Só nessa altura me dei conta das dificuldades de quem tem as mãos ocupadas, no meu caso com as muletas e que não pode pousar o pé no chão. Nessas alturas faz mesmo falta termos 3 mãos ou até 4! A cadeira servia para poder cozinhar e pegar nos objectos, pratos, talheres etc. Bom, isto já ultrapassei, felizmente e sem sequelas.
O Blog serviu para eu construir uma rotina, na qual escrever era uma delas, para pensar e organizar pensamentos e muito importante sentir-me acompanhada...por mim.

Desta vez é o "isolamento social" decretado por causa do Covid 19.
O ficarmos encerrados nas nossas casas é uma necessidade por nós e pelos outros. Faremos!
E eu decidi, se tiver vontade mantida, tornar a escrever aqui.
Mais do que para ser lida, é por mim que escreverei.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Documentário O Processo


Li agora no FB que terá passado ontem na TVC2 o filme documentário O Processo, sobre a destituição da Presidenta Dilma Rouseff.
Nele são apresentados os meandros que levaram à sua destituição, resultantes de meses que a realizadora, Maria Augusta Ramos, passou no Planalto e na Assembleia Nacional, ouvindo as discussões e filmando. 
É fabuloso como se vê toda a podridão política contra ela e obviamente contra Lula da Silva que culminaram, injustamente, no impeachment.
Maria Augusta Ramos veio a Lisboa apresentar no Festival Indie. Sem ter estado com a sua presença vi o documentário. Realizadora corajosa demonstra bem a injustiça política, daquela decisão.
Estive em 2018 no cinema São Jorge, sala cheia, com muitos brasileiros a assistir. Culminou com uma enorme ovação.

Filme - Três Rostos


Ontem, fui ver o filme 3 Rostos de Jafar Panari, o cineasta Iraniano que está proibido de sair do Irão e de fazer filmes.
Se sai, não sei, mas vai continuando a filmar. Já tinha anteriormente visto Táxi, onde, sempre em marcha, vai ouvindo e falando com pessoas. 
En 3 Rostos, numa paisagem pelo interior do Irão, fazendo lembrar Abbas Kiarostami, vai de jeep com uma artista de cinema iraniano à procura de uma jovem proibida de seguir o seu desejo, entrar no conservatório em Teerão. Jovem que tinha enviado um vídeo com as queixas e que terminava numa cena em que se enforcava.
O filme leva-nos pelas terras montanhosas e arenosas, quase desérticas, mas que escondem muita vida, aldeias com cafés onde os homens se reúnem, mulheres tapadas, algumas postas de lado pela vida que levaram como uma artista, o diferente papel do homem e da mulher, etc
O realizador entra sempre nos filmes, neste, como em Táxi, é o condutor do carro.
É bastante interessante.

domingo, 5 de maio de 2019

Ficando-me ainda com os mortos...


Minde, apesar de já ser vila desde 1963, talvez por ter crescido para fora da área inicial, mantém nesta zona antiga onde fica a casa que foi construída pelos meus bisavós, hábitos de aldeia. Aliás eu refiro-me sempre à aldeia, a minha casa da aldeia, coisa que já me criou uma situação complicada que talvez um dia conte.
Hoje de manhã, ao sair de casa, uma vizinha passa por mim. Vê muito mal e fui eu que lhe disse bom dia, como é uso nas terras pequenas. Quem fala, perguntou, lá lhe disse "sou a Magda". Ah, está por cá, desculpe vejo muito mal.
E explica-me que vai lá abaixo porque morreu uma mulher. Que mulher, pergunto, não sabe , ou melhor não é de cá mas vive aqui há muitos anos. Nem a conhece, diz-me.
Só mais tarde ouvi os sinos da igreja, bem pertinho de minha casa, tocarem a rebate.
A propósito lembrei-me de uma situação aquando do velório do meu Pai, em Lisboa. Manhã cedo, a capela mortuária tinha acabado de abrir, estou só eu. Uma senhora chega e senta-se perto, uns minutos de silêncio e pergunta-me quem é o morto. Fico surpreendida mas digo-lhe. Faz mais algumas perguntas até que sou eu que lhe pergunto se não o conhecia, porque está ali. Explica-me que mora ali perto e vai todos os dias ver quem morreu e está ali na casa mortuária.
Se calhar alguns bairros de Lisboa ainda têm alguns resquícios de aldeia, ou a morte é assunto que para algumas pessoas é tão inquietante que ver que outro morreu e ela continua viva é apaziguadora?