domingo, 5 de maio de 2019

Ficando-me ainda com os mortos...


Minde, apesar de já ser vila desde 1963, talvez por ter crescido para fora da área inicial, mantém nesta zona antiga onde fica a casa que foi construída pelos meus bisavós, hábitos de aldeia. Aliás eu refiro-me sempre à aldeia, a minha casa da aldeia, coisa que já me criou uma situação complicada que talvez um dia conte.
Hoje de manhã, ao sair de casa, uma vizinha passa por mim. Vê muito mal e fui eu que lhe disse bom dia, como é uso nas terras pequenas. Quem fala, perguntou, lá lhe disse "sou a Magda". Ah, está por cá, desculpe vejo muito mal.
E explica-me que vai lá abaixo porque morreu uma mulher. Que mulher, pergunto, não sabe , ou melhor não é de cá mas vive aqui há muitos anos. Nem a conhece, diz-me.
Só mais tarde ouvi os sinos da igreja, bem pertinho de minha casa, tocarem a rebate.
A propósito lembrei-me de uma situação aquando do velório do meu Pai, em Lisboa. Manhã cedo, a capela mortuária tinha acabado de abrir, estou só eu. Uma senhora chega e senta-se perto, uns minutos de silêncio e pergunta-me quem é o morto. Fico surpreendida mas digo-lhe. Faz mais algumas perguntas até que sou eu que lhe pergunto se não o conhecia, porque está ali. Explica-me que mora ali perto e vai todos os dias ver quem morreu e está ali na casa mortuária.
Se calhar alguns bairros de Lisboa ainda têm alguns resquícios de aldeia, ou a morte é assunto que para algumas pessoas é tão inquietante que ver que outro morreu e ela continua viva é apaziguadora?