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A rua era feia, mas o nome é bonito.
Assim se chamava a minha Mãe.
Foto - Magda
terça-feira, 23 de abril de 2013
terça-feira, 19 de março de 2013
Aconteceu...Pai, só no meu pensamento existes enquanto tal
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Olá Pai
Chego onde chegar hoje só vejo falar de Pai, seja nas televisões, jornais ou redes sociais como o facebook. Isto não sabes o que é, quando eras vivo não havia e os computadores eram umas caixas gigantes que só os bancos tinham. Faziam muito barulho, estavam ao ar livre e vocês, tu e a Mãe, que tiveram esses monstros no pátio do prédio vizinho, tiveram de pôr janelas duplas, melhor vidros duplos, para conseguirem dormir. Eram do SottoMayor, olha já não existe, foi fundido com outros e nós temos sido f-didos por eles todos. Não, não vou entrar por aí, tinha de te explicar tanta coisa para tu entenderes o que nos está a acontecer... Pois, longe vai o tempo em que te vi, já doente e à Mãe, fazer a pé o cortejo do funeral dos vossos amigos Pedro Soares e Maria Luísa Costa Dias...mas também não te queria falar disto. Também não vou falar de quanto fora de tempo viveste, quer no aspecto artístico quer no avanço técnico da medicina.
Quero só dizer que me lembro de não deixares festejar este dia lá em casa, o chamado Dia do Pai. Dizias e eu achava horrível, que muitos filhos não sabiam quem era o pai. Pois não, reconheço agora, mas também sei que a bem da saúde mental todos têm direito a ter um pai e se não for o biológico será outro, um afectivo. Sem isso dentro da criança morre uma parte e arrastará esse sentimento de falha pela vida fora. E mais grave, com maior dificuldade saberá ser pai ou mãe "good enough", alterando um pouco mas parafraseando Winnicott.
Um beijo para ti, em pensamento. Sei que só nele, no meu, existes enquanto tal.
terça-feira, 5 de março de 2013
Acontece...que aprendi há anos que havia o "chuto" da mulher a dias
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Foi no início do meu trabalho em Lisboa. Alguns anos depois da escola, encontrei-a no hospital onde prestava serviço, eu médica e ela doente. Exuberante, ria em voz alta, esbracejava em movimentos largos, por onde passava era impossível não notar. Causava-me incómodo, tínhamos tínhamos feito o liceu juntas, eu segui no caminho mais ou menos esperado, ela...
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Lembro-me bem, ela a descer as escadas com mais uns internados, todos do mesmo "ramo", seguiam todos os dias de narinas e boca bem abertas, as empregadas da limpeza que usavam para a lavagem das escadarias de madeira ,detergentes, amoníaco e diluentes. Aprendi na altura que se dizia que ali, incapazes de encontrar outro"produto", procuravam com aquela inspiração, obter o "chuto da mulher a dias".
Eu tentava ser transparente, de tão aflita que ficava. Mas embora me cumprimentasse, brevemente, o fim que procurava era mais forte e eu ficava mesmo uma insignificancia ali.
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Voltei a encontrá-la uns anos mais tarde, discreta, a trabalhar muito abaixo da sua formação. Noutro encontro, a sua exuberância voltou a preocupar-me. Não nos víamos muito. Eramos amigas virtuais em duas redes mas raramente sabia dela.
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Morreu hoje, soube esta tarde. É um périplo perigoso, às vezes imparável, vão-se as drogas entra o alcool, vai-se o fígado, por fim os outros orgãos. Vão se os colegas, os amigos, a família. E depois...
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Sofrem os próprios (admito que já tinham sofrido antes disto tudo), mas fazem sofrer os outros. Deixam marcas de sofrimento na família, nos filhos, nos netos que são filhos dos filhos... É a transgeracionalidade, forma perigosa de perpectuar o sofrimento.
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Já se foi, não fiquei muito admirada, mas as imagens das escadas voltaram à minha memória...
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Aconteceu...piropo na cadeia, sem prisão
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O título desta fotografia é Piropo.
Català-Roca, fotógrafo espanhol (1922-1998) de quem eu nunca tinha ouvido falar até hoje, ao ir ver uma exposição dele no Centro Português de Fotografia do Porto.
Duas novidades num só dia, uma vez que este centro está situado na antiga Cadeia da Relação, recuperada pelos arquitectos Souto Moura e Humberto Vieira, onde eu também nunca tinha entrado.
Belíssimas obras, as fotografias e o espaço onde estão expostas!
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Não sei qual foi o piropo que este homem lançou à mulher. Mas lembrei-me que há muito tempo soube de um que ao cruzar-se com uma mulher muito bonita mas muito pequenina segredou: Gosto, vou mandar ampliar.
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Ainda se dizem piropos?
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Aconteceu...no meio de dias de chuva, haver um com sol
Merece a pena uma visita ao Parque Almorol de Escultura contemporânea.
Um parque grande junto ao rio Tejo, em Vila Nova da Barquinha ganhou um prémio de arquitectura paisagista em 2007.
Verde muito verde pelo tapete, ao lado do azul das águas do Tejo, tem espalhadas várias esculturas de grande porte.
Elegi esta, de José Pedro Croft, 2012. Três paralelipípedos de aço, reflectem o exterior, árvores, relva, céu e o que mais ao seu alcance estiver. Embora estejam fixas, o reflexo varia. Nesta primeira, no céu um avião que passava deixando um rasto recto branco, ganhou curvaturas no aço.
Um parque grande junto ao rio Tejo, em Vila Nova da Barquinha ganhou um prémio de arquitectura paisagista em 2007.
Verde muito verde pelo tapete, ao lado do azul das águas do Tejo, tem espalhadas várias esculturas de grande porte.
Elegi esta, de José Pedro Croft, 2012. Três paralelipípedos de aço, reflectem o exterior, árvores, relva, céu e o que mais ao seu alcance estiver. Embora estejam fixas, o reflexo varia. Nesta primeira, no céu um avião que passava deixando um rasto recto branco, ganhou curvaturas no aço.
Pela data da escultura, parece ser um parque que se vai construindo, acrescentando novas esculturas.
Muito bonito!
Muito bonito!
E para quem não leva pic-nic, umas enguias fritas com açorda de tomate ali num restaurante perto, foram um muito bom final.
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Poema - Manuel António Pina
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O PÁSSARO NA CABEÇA
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Sou o pássaro que canta
... dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça
Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não
Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada
E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão
e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.
O PÁSSARO NA CABEÇA
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Sou o pássaro que canta
... dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça
Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não
Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada
E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão
e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Aconteceu...que o homem era invisível!
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Um psicólogo brasileiro trabalhou durante oito anos como funcionário da recolha de lixo para escrever uma tese de Mestrado. Misturou-se, tentou ser igual aos outros mas não conseguiu. Desde logo os colegas perceberam que ele não era exactamente igual a eles e tratavam-no com uma deferência diferente, protegendo-o de certos trabalhos mais pesados ou sujos.
No entanto, verificou que as pessoas que passavam pela rua não reparavam nos homens da limpeza, nem nele nem nos outros, passando sem olhar. E mais, que pessoas que o conheciam na Faculdade, passavam por ele homem do lixo sem o reconhecer.
"Em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social".
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Ao ler o artigo, lembrei-me de como cumprimento sempre que o vejo o jardineiro africano que cuida dos jardins da casa onde passo as férias, sempre bem fardado com as suas jardineiras verdes e o seu chapéu de palha. Trato-o pelo nome, já troquei algumas palavras com ele, que trabalha ali há mais de uma dezena de anos. Há tempos, estando eu no supermercado, vejo um homem bastante bonito, muito bem vestido de fato e gravata que lhe caíam na perfeição, olhar para mim e sorrir. Pensei, mas de onde é que este senhor, me conhece para me estar assim a fixar? Desviei o olhar, mas ele continuava a sorrir-me. Lá olhei com mais cuidado para ele. Acho que demorei uns longos segundos e até exclamar, oh Semedo, eu nem o estava a reconhecer, leia-se nunca o tinha visto assim desta perspectiva! Ele riu e penso que sentiu a minha deixa como um elogio.
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Depois de ler o artigo atrás referido, fiquei a pensar que até ali ele, homem , tinha sido mesmo invisível para mim.
Nota - o maior intervalo de tempo de sempre entre crónicas. Acontece!
Nota - o maior intervalo de tempo de sempre entre crónicas. Acontece!
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