Um psicólogo brasileiro trabalhou durante oito anos como funcionário da recolha de lixo para escrever uma tese de Mestrado. Misturou-se, tentou ser igual aos outros mas não conseguiu. Desde logo os colegas perceberam que ele não era exactamente igual a eles e tratavam-no com uma deferência diferente, protegendo-o de certos trabalhos mais pesados ou sujos.
No entanto, verificou que as pessoas que passavam pela rua não reparavam nos homens da limpeza, nem nele nem nos outros, passando sem olhar. E mais, que pessoas que o conheciam na Faculdade, passavam por ele homem do lixo sem o reconhecer.
"Em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social".
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Ao ler o artigo, lembrei-me de como cumprimento sempre que o vejo o jardineiro africano que cuida dos jardins da casa onde passo as férias, sempre bem fardado com as suas jardineiras verdes e o seu chapéu de palha. Trato-o pelo nome, já troquei algumas palavras com ele, que trabalha ali há mais de uma dezena de anos. Há tempos, estando eu no supermercado, vejo um homem bastante bonito, muito bem vestido de fato e gravata que lhe caíam na perfeição, olhar para mim e sorrir. Pensei, mas de onde é que este senhor, me conhece para me estar assim a fixar? Desviei o olhar, mas ele continuava a sorrir-me. Lá olhei com mais cuidado para ele. Acho que demorei uns longos segundos e até exclamar, oh Semedo, eu nem o estava a reconhecer, leia-se nunca o tinha visto assim desta perspectiva! Ele riu e penso que sentiu a minha deixa como um elogio.
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Depois de ler o artigo atrás referido, fiquei a pensar que até ali ele, homem , tinha sido mesmo invisível para mim.
Nota - o maior intervalo de tempo de sempre entre crónicas. Acontece!
Nota - o maior intervalo de tempo de sempre entre crónicas. Acontece!
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