terça-feira, 5 de março de 2013

Acontece...que aprendi há anos que havia o "chuto" da mulher a dias

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Foi no início do meu trabalho em Lisboa. Alguns anos depois da escola, encontrei-a no hospital onde prestava serviço, eu médica e ela doente. Exuberante, ria em voz alta, esbracejava em movimentos largos, por onde passava era impossível não notar. Causava-me incómodo,   tínhamos tínhamos feito o liceu juntas, eu segui no caminho mais ou menos esperado, ela...
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Lembro-me bem, ela a descer as escadas com mais uns internados, todos do mesmo "ramo", seguiam todos os dias de narinas e boca bem abertas, as empregadas da limpeza que usavam para a lavagem das escadarias de madeira ,detergentes, amoníaco e diluentes. Aprendi na altura que se dizia que ali, incapazes de encontrar outro"produto", procuravam com aquela inspiração, obter o "chuto da mulher a dias".
Eu tentava ser transparente, de tão aflita que ficava. Mas embora me cumprimentasse, brevemente, o fim que procurava era mais forte e eu ficava mesmo uma insignificancia ali.
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Voltei a encontrá-la uns anos mais tarde, discreta, a trabalhar muito abaixo da sua formação. Noutro encontro, a sua exuberância voltou a preocupar-me. Não nos víamos muito. Eramos amigas virtuais em duas redes mas raramente sabia dela.
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Morreu hoje, soube esta tarde. É um périplo perigoso, às vezes imparável, vão-se as drogas entra o alcool, vai-se o fígado, por fim os outros orgãos. Vão se os colegas, os amigos, a família. E depois...
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Sofrem os próprios (admito que já tinham sofrido antes disto tudo), mas fazem sofrer os outros. Deixam marcas de sofrimento na família, nos filhos, nos netos que são filhos dos filhos... É a transgeracionalidade,  forma perigosa de perpectuar o sofrimento.
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Já se foi, não fiquei muito admirada, mas as imagens das escadas voltaram à minha memória...
 
 

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