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Foto - Magda
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
Aconteceu...que ainda há quem queira ser perfeito, ou o taxista neurótico
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Mal entrei no táxi e disse numa voz quase sem som onde queria ir, ele comentou o meu estado lamentando-me. É que ele precisava de falar, mas comigo assim...
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Pedi-lhe que me levasse a uma rua antiga, num bairro popular de Lisboa. Ele conhecia-a de nome mas não tinha a certeza qual era. Eu não sabia mesmo, excepto que ficava entre a Graça e as traseiras do Castelo de S. Jorge. Estávamos relativamente perto.
Lá me explicou que apesar dos seus vinte oito anos de profissão nesta cidade, há muitas ruas para as quais tem dúvidas sobre a sua localização e que gostava de ter certezas.
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Quase afónica, eu não estava muito faladora. Lá emiti uns sons pouco satisfatórios de compreensão, não lhe dizendo no entanto que aprecio mais quem tem dúvidas do que quem não as tem e afirma que raramente se engana.
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Mas ele precisava mesmo de falar. Assim, teve de deitar os foguetes, fazer o barulho do rebentamento e apanhar as canas.
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Pelo caminho foi parando e perguntou a seis pessoas o caminho, sim seis, sempre com a mesma fórmula, fosse a taxistas ou a peões, novos ou velhos, ó jovem, sabe-me dizer onde é a rua de São Tomé? Dois dedos de conversa, um agradecimento, e lá repetia a pergunta uns poucos metros mais à frente.
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Sim, porque não gosto de andar a passear os clientes sem saber o caminho certo, explicava-me de cada vez.
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Para mim foi um trajecto muito curioso. Pelos bairros onde os mouros deixaram a traça, ruas e vielas estreitas, prédios finos e estreitos, becos. Algumas casas restauradas mas muitas esventradas, mal tratadas, vidros partidos. Mas muita vida, muitas lojinhas, cafés, tascas, pessoas na rua.
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À chegada rematou, sabe, é que eu não sou perfeito!
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Poema - José Tolentino Mendonça
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UM PORMENOR DE PIERO DELLA FRANCESCA
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A forma de sinceridade requerida
é a mais extrema pobreza:
pela neve sem vincar rasto
sempre caminhou
aquele que busca um amor
UM PORMENOR DE PIERO DELLA FRANCESCA
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A forma de sinceridade requerida
é a mais extrema pobreza:
pela neve sem vincar rasto
sempre caminhou
aquele que busca um amor
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Poema - Manuel António Pina
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RUÍNAS
Por onde quer que tenha começado,
pelo corpo ou pelo sentido,
ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,
como num sono agitado interrompido.
O teu nome tinha alturas inacessíveis
e lugares mal iluminados onde
se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam
e deveria talvez ter começado por aí.
Agora é tarde, do que podia
ter sido restam ruínas;
sobre elas construirei a minha igreja
como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.
RUÍNAS
Por onde quer que tenha começado,
pelo corpo ou pelo sentido,
ficou tudo por fazer, o feito e o não feito,
como num sono agitado interrompido.
O teu nome tinha alturas inacessíveis
e lugares mal iluminados onde
se escondiam animais tímidos que só à noite se mostravam
e deveria talvez ter começado por aí.
Agora é tarde, do que podia
ter sido restam ruínas;
sobre elas construirei a minha igreja
como quem, ao fim do dia, volta a uma casa.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Aconteceu...ter a lua como companheira
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Vou no comboio e a tarde cai. Esta é das horas do dia que mais gosto. O céu ainda está azul, limpo mas deixou de estar brilhante, e lá mais ao longe, até onde avistamos o horizonte, uma cor rosada pintou uma barra larga no horizonte.
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Há bastante tempo que a lua, redonda, cor de pérola e brilhante nos acompanha, ora ao lado, ora à frente. De vez em quando esconde-se por detrás de umas árvores. Procuro-a com alguma ansiedade e pouco depois descubro-a com alívio.
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Quase não passamos por aldeias, como aquela onde passei muitas férias em miúda. Agora, vistas daqui, quase todas as terras têm uns prédios e em muitas uma ou outra construção desinserida da paisagem, conjuntos de cubos desalinhados em cima ou ao lado, que tanto vemos no Algarve como na zona centro por onde o comboio passa.
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E continuo a ver a lua. Hoje estão nítidas as manchas interiores. Lá na aldeia da minha infância, nestes dias procurávamos distinguir o homem ou a mulher que carregavam um grande saco. Parece que cumpriam um castigo, diziam.
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As crianças destas novas aldeias, a esta hora, olham para a televisão ou jogam algum jogo electrónico.
Desconfio que não olham a lua.
Vou no comboio e a tarde cai. Esta é das horas do dia que mais gosto. O céu ainda está azul, limpo mas deixou de estar brilhante, e lá mais ao longe, até onde avistamos o horizonte, uma cor rosada pintou uma barra larga no horizonte.
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Há bastante tempo que a lua, redonda, cor de pérola e brilhante nos acompanha, ora ao lado, ora à frente. De vez em quando esconde-se por detrás de umas árvores. Procuro-a com alguma ansiedade e pouco depois descubro-a com alívio.
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Quase não passamos por aldeias, como aquela onde passei muitas férias em miúda. Agora, vistas daqui, quase todas as terras têm uns prédios e em muitas uma ou outra construção desinserida da paisagem, conjuntos de cubos desalinhados em cima ou ao lado, que tanto vemos no Algarve como na zona centro por onde o comboio passa.
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E continuo a ver a lua. Hoje estão nítidas as manchas interiores. Lá na aldeia da minha infância, nestes dias procurávamos distinguir o homem ou a mulher que carregavam um grande saco. Parece que cumpriam um castigo, diziam.
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As crianças destas novas aldeias, a esta hora, olham para a televisão ou jogam algum jogo electrónico.
Desconfio que não olham a lua.
Etiquetas:
lembranças e recordações,
lua cheia,
novos tempos
domingo, 1 de janeiro de 2012
Poema - Carlos Drummond de Andrade
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Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas nem
parvamente acreditar que por decreto
da esperança a partir de Janeiro
as coisas mudem e seja claridade,
recompensa, justiça entre os homens
e as nações, liberdade com cheiro e
gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
RECEITA DE ANO NOVO
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas
intenções para arquivá-las
na Gaveta.
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Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas
intenções para arquivá-las
na Gaveta.
Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas nem
parvamente acreditar que por decreto
da esperança a partir de Janeiro
as coisas mudem e seja claridade,
recompensa, justiça entre os homens
e as nações, liberdade com cheiro e
gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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