Mal entrei no táxi e disse numa voz quase sem som onde queria ir, ele comentou o meu estado lamentando-me. É que ele precisava de falar, mas comigo assim...
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Pedi-lhe que me levasse a uma rua antiga, num bairro popular de Lisboa. Ele conhecia-a de nome mas não tinha a certeza qual era. Eu não sabia mesmo, excepto que ficava entre a Graça e as traseiras do Castelo de S. Jorge. Estávamos relativamente perto.
Lá me explicou que apesar dos seus vinte oito anos de profissão nesta cidade, há muitas ruas para as quais tem dúvidas sobre a sua localização e que gostava de ter certezas.
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Quase afónica, eu não estava muito faladora. Lá emiti uns sons pouco satisfatórios de compreensão, não lhe dizendo no entanto que aprecio mais quem tem dúvidas do que quem não as tem e afirma que raramente se engana.
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Mas ele precisava mesmo de falar. Assim, teve de deitar os foguetes, fazer o barulho do rebentamento e apanhar as canas.
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Pelo caminho foi parando e perguntou a seis pessoas o caminho, sim seis, sempre com a mesma fórmula, fosse a taxistas ou a peões, novos ou velhos, ó jovem, sabe-me dizer onde é a rua de São Tomé? Dois dedos de conversa, um agradecimento, e lá repetia a pergunta uns poucos metros mais à frente.
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Sim, porque não gosto de andar a passear os clientes sem saber o caminho certo, explicava-me de cada vez.
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Para mim foi um trajecto muito curioso. Pelos bairros onde os mouros deixaram a traça, ruas e vielas estreitas, prédios finos e estreitos, becos. Algumas casas restauradas mas muitas esventradas, mal tratadas, vidros partidos. Mas muita vida, muitas lojinhas, cafés, tascas, pessoas na rua.
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À chegada rematou, sabe, é que eu não sou perfeito!