sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aconteceu...a cultura pirosa, perigosa e outras coisas que tais

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Lá em casa da D. Dores via-se sempre a telenovela portuguesa, que ao menos trata dos nossos assuntos, como ela dizia às clientes enquanto lhes arranjava os cabelos.
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A inveja, a competição que nas novelas era retratada, levando a atitudes quase criminosas, era discutida como se de assunto filosófico se tratasse, e ela tinha sempre as suas opiniões bem fundamentadas. O que é preciso é subir na vida, era o seu lema.
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A Vanessa, a filha, saía da escola e ia para o salão. Ali ficava a ouvir.
Aprende, dizia-lhe a mãe, tens de subir na vida, tu és tão bonita!
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E ainda um bocado enfezada nos seus 13 anos, e já a mãe a maquilhava para lhe tapar as borbulhas de acné da testa e a vestia de forma a impressionar. Na sala ensaiavam como olhar, como se mexer, como seduzir.
Juntas viam as telenovelas e todas as reportagens com as namoradas de alguns craques do futebol, onde também se aprende muito. Boquinhas, olhinhos, saias levantadas e decotes a deixar entrever o resto, assim foi crescendo a rapariga.
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Começou a inscrevê-la nas agências de modelos.
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Teve a sorte de encontrar um homem maduro do métier que a integrou e a chamava para umas sessões de fotografias. Julgava-se modelo. Dava-lhe uns trocos e mais algumas coisas.
A mãe, que nunca tinha lido a Lolita, babava-se e dizia às clientes que ela havia de ser a Naomi.
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Aos 18 anos já não havia segredos, a Vanessa sabia tudo, ou melhor sabia-a toda!
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O pai? Esse nunca disse nada, há muito tempo que tinha saído para comprar cigarros e nunca mais tinha voltado.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Aconteceu...espelhos da rua

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.....................Foto - Magda

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Poema - Mário Quintana

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O TEMPO
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A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Aconteceu...que o dia é longo mas o tempo foi curto

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Terá sido o dia maior do ano,
O dia em que o pôr-do-Sol foi mais tardio,
Mas eu não tive tempo para vir por aqui.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Poema - Manoel de Barros

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O FOTÓGRAFO

Difícil fotografar o silêncio
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei a nuvem da calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a nuvem na calça e o poeta.
Nenhum outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

domingo, 19 de junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Aconteceu...a estética ou o gosto das massas

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Por vezes duvido se podemos ignorar certos fenómenos de massas. A minha estética, a minha doutrina é sempre melhor que a outra, pensamos todos e eu também. Tenho princípios que mantenho!   Muitos dirão que sou uma snob. Ok, assim seja!
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Assim morando há perto de 60 anos na cidade de Lisboa, digo com algum orgulho, eventualmente completamente idiota, que nunca fui ao Cacém, como se isso me diferenciasse dos suburbanos. Também considero a música e os espectáculos que gosto os melhores.

Hoje liguei a RTP1. Vi a Avenida da Liberdade transformada em horta. Achei giríssimo!
Haverá alguém que se lembre aqui há uns anos de uma entrevista à porta de um ciclo preparatório, em que o jornalista perguntava aos alunos se já tinham visto campos de esparguete? Pois a grande maioria respondeu que não, que eram da cidade, raramente iam ao campo... Será que esta horta pode abrir horizontes às pessoas?
Até porque eu acredito que um dia próximo será feliz quem tiver um bocadinho de terra onde possa plantar umas batatitas...

Mas isto vinha a propósito do pai Carreira, o Tony. Talvez seja a primeira vez que assisti a uma parte do espectáculo, via RTP1, da sua actuação.O público ocupou toda a praça dos Restauradores e subiu pela avenida. Não me lembro de uma tão grande densidade de pessoas nos discursos actualmente no 25 de Abril ou outros dias importantes.
Milhares de pessoas, predominantemente mulheres, ouviam e cantavam música a música. Ouvi e não consigo gostar. Mas tantas gostam! Talvez não conheçam outros artistas que admiro, mas este muda vidas.

Ficamos por assim ou devemos fazer alguma coisa em termos da educação da estética? (novamente snobismo, arrogância e outras que tais?)