Lá em casa da D. Dores via-se sempre a telenovela portuguesa, que ao menos trata dos nossos assuntos, como ela dizia às clientes enquanto lhes arranjava os cabelos.
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A inveja, a competição que nas novelas era retratada, levando a atitudes quase criminosas, era discutida como se de assunto filosófico se tratasse, e ela tinha sempre as suas opiniões bem fundamentadas. O que é preciso é subir na vida, era o seu lema.
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A Vanessa, a filha, saía da escola e ia para o salão. Ali ficava a ouvir.
Aprende, dizia-lhe a mãe, tens de subir na vida, tu és tão bonita!
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E ainda um bocado enfezada nos seus 13 anos, e já a mãe a maquilhava para lhe tapar as borbulhas de acné da testa e a vestia de forma a impressionar. Na sala ensaiavam como olhar, como se mexer, como seduzir.
Juntas viam as telenovelas e todas as reportagens com as namoradas de alguns craques do futebol, onde também se aprende muito. Boquinhas, olhinhos, saias levantadas e decotes a deixar entrever o resto, assim foi crescendo a rapariga.
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Começou a inscrevê-la nas agências de modelos.
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Teve a sorte de encontrar um homem maduro do métier que a integrou e a chamava para umas sessões de fotografias. Julgava-se modelo. Dava-lhe uns trocos e mais algumas coisas.
A mãe, que nunca tinha lido a Lolita, babava-se e dizia às clientes que ela havia de ser a Naomi.
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Aos 18 anos já não havia segredos, a Vanessa sabia tudo, ou melhor sabia-a toda!
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O pai? Esse nunca disse nada, há muito tempo que tinha saído para comprar cigarros e nunca mais tinha voltado.