sábado, 1 de janeiro de 2011

Poema - Nuno Rocha Morais

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Deveria ser dado que morrêssemos
Com um amor ainda vivo em nós,
Como deveria ser dado a um pássaro
Morrer naturalmente em pleno voo.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Aconteceu...Tanto entusiasmo para nada!

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Estava cheio de curiosidade, pela primeira vez ia passar a meia-noite a pé, a passagem do ano, a entrada do ano novo. Um enorme entusiasmo, mas... é que ele não sabia o que era o ano.
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E porque ninguém tinha percebido essa lacuna e lhe tinha dado uma explicação para o assunto, ele teve de usar da imaginação. E começar a pensar...
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O ano...será uma pessoa? Mas que tem de andar muito depressa, pensou ele, quando ouviu dizer que havia países onde ele já tinha entrado.
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Mas que esquisito, entrou novo...será da minha idade? Vou finalmente ter alguém com quem brincar? e entra novo em cada país e a tantas horas diferentes, não cresce? interrogava-se.
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Podia não ser uma pessoa, podia ser um monstro, pensou assustado, lembrando-se da Sra. Maria, a porteira, que um dia tinha falado no perigo do fim do mundo, que o ano a seguir era muito pior, e umas palavras que também não sabia o que queriam dizer, tais como crise, inflação e outras coisas assim. Mas se esperassem um monstro, fariam doces especiais? Só se fosse para ele comer e acalmar...
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A tarde foi avançando, caiu a noite, em casa a família estava satisfeita frente à televisão. Afinal, mas que o que será, já que até agora, com excepção de uns doces e de umas coisas que se chamavam passas era tudo igual ao que conhecia?!
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O sono era muito, quase nem conseguia manter os olhos abertos. Sentado no sofá, foi deixando cair a cabeça e adormeceu profundamente. O pai, com cuidado foi pô-lo na cama.
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E de manhã acordou, igual ao que sempre tinha sido. Fim-do-ano? Ano Novo? O que será? Talvez para o ano descubra!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Aconteceu...Foto

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................................Foto - Magda

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Poema - Jorge Gomes de Miranda

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MOLA DE ROUPA

Conservei-me afastada do estendal
durante algum tempo.
Sofro de vertigens, por isso
intimidava-me olhar para baixo,
o pátio vazio, restos de flores secas.
Um prédio com dez andares
e ele tinha logo que viver no último,
tendo como horizonte o mar
de terraços e antenas parabólicas.

Quando, chegado com a roupa
da máquina de lavar,
pega em mim,
de suas mãos eu deslizo para o chão.
Apressado, em vez de me apanhar
imediatamente, escolhe outra;
no final, atira-me para o cesto
de verga.

Não é que seja particularmente ardilosa,
mas verdade seja dita, preferia ser
mola de rés-do-chão,
dessas que faça sol ou chuva
sempre prendem a roupa numa corda
estendida no pátio.
O destino quis-me feita de plástico,
com um coração inclinado à melancolia.
Tenho, no entanto, como divisa
antes quebrar que torcer.

Sonho com o dia em que nas mãos da criança
serei um comboio.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Aconteceu...uma maldade feita a crianças

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Durante as férias grandes, os primos iam passar uns dias a casa dos avós. .
Um dia foram com os avós passar o dia a uma quinta. Tão diferente da vida habitual da cidade! Muito espaço para brincar, e umas capoeiras com galinhas, pintos e coelhos.
Com as duas mãos em concha e com muito cuidado, pegavam nos pintainhos amarelos, depois nos coelhos, tão fofos como os bonecos de peluche com que brincavam.
De volta para casa dos avós, cada um trouxe um coelho, com que brincava como se de um amigo se tratasse.
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Um dia acordam com uma má notícia. Um coelho tinha morrido, informou a avó. Ficaram tristes e choramingaram.
Dias mais tarde foi outro coelho, e passado uns dias o último também desapareceu.
Qualquer coisa fez com que os primos começassem a desconfiar, teriam comido os coelhos? E com horror confirmaram, que por sentido prático mas com insensibilidade lhos tinham servido à mesa. Tinham mesmo incorporado os amigos peludos!
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Zangaram-se muito com a avó.
E durante anos nenhum deles conseguiu voltar a comer coelho.
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Outro fim - depois do acontecido as crianças começaram "A negligênciar os estudos e tornaram-se vagabundas. Conta-se que se embebedavam e partiam vidros."* E nunca mais acreditaram nas avós.
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* in O Elefante, Mrozeck

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Aconteceu...Foto - Entre muros

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..............................................Foto - Magda

domingo, 26 de dezembro de 2010

Poema - Jorge de Sousa Braga

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A ÚLTIMA PINCELADA

Viveu em tempos um pintor que nunca conseguia acabar de pintar uma
ave, fosse ela uma cegonha ou uma garça. Quando se preparava para dar
a última pincelada, ela levantava vôo.

E o pintor ficava muito tempo ainda a persegui-la com o pincel no céu
azul...