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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Aconteceu...Tanto entusiasmo para nada!

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Estava cheio de curiosidade, pela primeira vez ia passar a meia-noite a pé, a passagem do ano, a entrada do ano novo. Um enorme entusiasmo, mas... é que ele não sabia o que era o ano.
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E porque ninguém tinha percebido essa lacuna e lhe tinha dado uma explicação para o assunto, ele teve de usar da imaginação. E começar a pensar...
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O ano...será uma pessoa? Mas que tem de andar muito depressa, pensou ele, quando ouviu dizer que havia países onde ele já tinha entrado.
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Mas que esquisito, entrou novo...será da minha idade? Vou finalmente ter alguém com quem brincar? e entra novo em cada país e a tantas horas diferentes, não cresce? interrogava-se.
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Podia não ser uma pessoa, podia ser um monstro, pensou assustado, lembrando-se da Sra. Maria, a porteira, que um dia tinha falado no perigo do fim do mundo, que o ano a seguir era muito pior, e umas palavras que também não sabia o que queriam dizer, tais como crise, inflação e outras coisas assim. Mas se esperassem um monstro, fariam doces especiais? Só se fosse para ele comer e acalmar...
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A tarde foi avançando, caiu a noite, em casa a família estava satisfeita frente à televisão. Afinal, mas que o que será, já que até agora, com excepção de uns doces e de umas coisas que se chamavam passas era tudo igual ao que conhecia?!
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O sono era muito, quase nem conseguia manter os olhos abertos. Sentado no sofá, foi deixando cair a cabeça e adormeceu profundamente. O pai, com cuidado foi pô-lo na cama.
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E de manhã acordou, igual ao que sempre tinha sido. Fim-do-ano? Ano Novo? O que será? Talvez para o ano descubra!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Aconteceu...relações de proximidade

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Esta cena passou-se num bairro de Lisboa onde ainda muita gente se conhece. Num supermercado com espírito e tamanho de mercearia.
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Sábado à tarde, muita gente faz as compras de fim-de-semana. A fila para pagar é grande. Falam entre si.
Olhe, falta um euro e vinte, diz a caixa para uma rapariga brasileira de criança ao colo que, mesmo sem haver caixa especial, todos a deixaram passar à frente. Um euro e vinte, repete a rapariga, sim, traz-me quando cá vier, fica cá o talão, e à frente dela escreve no talão que guarda na gaveta da caixa registadora. Não é bem vender fiado, mas faz-se um jeitinho quando falta um bocadinho. Obrigada, depois trago, diz a rapariga que sai carregada de criança que já trazia e os sacos que agora arranjou.
De repente a porta abre-se, entra uma mulher que diz "Vejam lá isto, para que é que eu fui ao cabeleireiro, e apanho com esta chuva logo à saída!?
Tirasse a cabeleira! diz bem alto e dirigindo-se a ela uma senhora que está na fila, assim não a molhava e em casa punha-a. Risos vários.
Venho cá a ver se me emprestam um guarda-chuva, haverá por aí algum?
Há para aí muitos sacos de plástico, diz outra, ponha um na cabeça!
Ora, e mostra um que tem na mão, isso deu-me a cabeleireira. Mas não haverá por aqui algum guarda-chuva a mais?
Vá lá dentro ver, diz a menina da registadora, vá lá à casa de banho, talvez haja um a mais.
E o seu netinho, deve estar grande, nunca mais o vi por aqui, diz-me a menina da caixa quando chega a minha vez. Lá lhe dou notícias, pergunto pela filha dela, adeus até à próxima, e lá vou debaixo de chuva com o carapuço de anorak na cabeça.
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Este diálogo vivo, nunca poderia acontecer num hipermercado. Os produtos serão um pouco mais baratos, aceito, mas o aspecto humano que se vive por aqui tem o seu preço.
O anonimato e a indiferencia são factores de risco para a saúde mental. Estar contido em qualquer coisa, identificar-se, fazer corpo com, como numa pequena aldeia, é uma sorte que se pode ter!