quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Poema - Jorge Gomes de Miranda

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MOLA DE ROUPA

Conservei-me afastada do estendal
durante algum tempo.
Sofro de vertigens, por isso
intimidava-me olhar para baixo,
o pátio vazio, restos de flores secas.
Um prédio com dez andares
e ele tinha logo que viver no último,
tendo como horizonte o mar
de terraços e antenas parabólicas.

Quando, chegado com a roupa
da máquina de lavar,
pega em mim,
de suas mãos eu deslizo para o chão.
Apressado, em vez de me apanhar
imediatamente, escolhe outra;
no final, atira-me para o cesto
de verga.

Não é que seja particularmente ardilosa,
mas verdade seja dita, preferia ser
mola de rés-do-chão,
dessas que faça sol ou chuva
sempre prendem a roupa numa corda
estendida no pátio.
O destino quis-me feita de plástico,
com um coração inclinado à melancolia.
Tenho, no entanto, como divisa
antes quebrar que torcer.

Sonho com o dia em que nas mãos da criança
serei um comboio.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Aconteceu...uma maldade feita a crianças

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Durante as férias grandes, os primos iam passar uns dias a casa dos avós. .
Um dia foram com os avós passar o dia a uma quinta. Tão diferente da vida habitual da cidade! Muito espaço para brincar, e umas capoeiras com galinhas, pintos e coelhos.
Com as duas mãos em concha e com muito cuidado, pegavam nos pintainhos amarelos, depois nos coelhos, tão fofos como os bonecos de peluche com que brincavam.
De volta para casa dos avós, cada um trouxe um coelho, com que brincava como se de um amigo se tratasse.
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Um dia acordam com uma má notícia. Um coelho tinha morrido, informou a avó. Ficaram tristes e choramingaram.
Dias mais tarde foi outro coelho, e passado uns dias o último também desapareceu.
Qualquer coisa fez com que os primos começassem a desconfiar, teriam comido os coelhos? E com horror confirmaram, que por sentido prático mas com insensibilidade lhos tinham servido à mesa. Tinham mesmo incorporado os amigos peludos!
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Zangaram-se muito com a avó.
E durante anos nenhum deles conseguiu voltar a comer coelho.
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Outro fim - depois do acontecido as crianças começaram "A negligênciar os estudos e tornaram-se vagabundas. Conta-se que se embebedavam e partiam vidros."* E nunca mais acreditaram nas avós.
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* in O Elefante, Mrozeck

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Aconteceu...Foto - Entre muros

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..............................................Foto - Magda

domingo, 26 de dezembro de 2010

Poema - Jorge de Sousa Braga

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A ÚLTIMA PINCELADA

Viveu em tempos um pintor que nunca conseguia acabar de pintar uma
ave, fosse ela uma cegonha ou uma garça. Quando se preparava para dar
a última pincelada, ela levantava vôo.

E o pintor ficava muito tempo ainda a persegui-la com o pincel no céu
azul...

sábado, 25 de dezembro de 2010

Aconteceu...Ladrões disfarçados e um Pai Natal amigo do Homem Aranha

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O entusiasmo era evidente, as crianças mal aguentavam o tempo que o jantar da consoada estava a demorar. Queriam era a hora das prendas que o Pai Natal ia trazer, como estavam acostumados.
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A noite estava muito fria. A televisão tinha estado a transmitir notícias do resto da Europa, aeroportos fechados, aviões em terra. A brincar alguém comentou Oxalá o trenó do Pai Natal tenha conseguido vir. As crianças ficaram inquietas, Mas se não vier...quem nos dá as prendas? Continuaram à espera, as horas passavam e já perto das 23 horas tocam à porta, É ele, é ele! gritam em conjunto, quase como se ensaiadas para um coro.
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Todos se dirigem para a porta, os adultos um pouco preocupados, mas quem poderá ser a esta hora? Espreitaram pelo intercomunicador, bem moderno, com imagem e tudo e ficaram perplexos, uma criança quase recem nascida, embrulhada numas palhas ao colo de uma mulher, mais um homem, um cão e uma ovelha, Por favor, abriguem-nos, pedem, a gruta abateu com o peso da neve, esperamos pelos Reis Magos e mais pastorinhos, mas precisamos de um tecto, isto dito com um tom seguro, demasiado seguro, diremos agora.
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Abriram-lhes a porta, Então não é que em vez do Pai Natal vem o Presépio?! comentam os adultos admirados, e eles entram para a casa, mais os animais, encostam-se à lareira acesa e aquecem-se.
Comem alguma comida que lhes é oferecida, um copo de vinho tinto, o bebé bebe leite, ainda bem que havia um "biberon" nesta casa dizem que à mãe ainda não lhe tinha subido o leite, se é que o viesse a ter, e roupinhas para o aquecer, de repente o casal puxa de umas armas escondidas dentro das roupas e gritam Mãos ao ar isto é um assalto! A família encolhe-se, junta-se a um canto como lhes ordenaram temendo pelo que lhes vai acontecer, enquanto eles remexiam em tudo e enchendo sacos com as coisas valiosas que foram encontrando.
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De repente, e sem que se tenha percebido como entraram, eis que o Pai Natal que aparece, renas e trenó na sala. Com uma teia igual à do Homem Aranha prendeu os meliantes.
Chamada a polícia, foram presos e desmascarados. À porta um "camion" TIR aguardava o produto do roubo. Aquela casa não era a primeira a ser assaltada.
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Posto o que o Pai Natal distribuiu as prendas. As crianças exaustas e assustadas começaram a recuperar, e já há risos e beijos.
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Adeus, adeus, o Pai Natal usa o terraço como pista de aeroporto e ruma ao céu.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Aconteceu...foto - À porta da loja

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..................................Foto - Magda

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Poema - Daniel Jonas

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PECADO CAPITAL

A Vitória de Samotrácia
é mais ou menos a minha história
sentimental: tinham todas um corpo
e asas até
mas pouca cabeça.