segunda-feira, 21 de junho de 2010

Aconteceu...granizada nos pomares e recordações do odor das maçãs de Moimenta da Beira

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Já aqui contei várias histórias do meu Serviço Médico à Periferia, em Moimenta da Beira.
O Centro de Saúde ocupava o rés do chão de uma moradia grande, antiga prisão desactivada. Como habitação, foi-nos distribuído o 1º andar, antiga casa do carcereiro. Da prisão restava dentro de nossa casa, um antigo quadro eléctrico com muitos botões, campainhas e luzes das celas, essas já transformadas.
Entravamos por uma porta, a que se seguia um corredor pequeno, e depois havia as escadas. Por baixo das escadas uma pequena divisão, aproveitamento do espaço, sem janelas.
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Poucos dias depois de ocuparmos a casa, várias pessoas nos vieram oferecer caixas de maçãs. Uns peros amarelos e umas maçãs vermelhas com o melhor cheiro que queiram imaginar.
Ensinaram-nos a forrar o chão daquele espaço que se transformou em arracadação de maçãs com cartões, e depois sem que elas se tocassem, dispô-las, lado a lado, no chão. E assim ficaram um ano, sem apodrecerem nem um bocadinho. E ainda vieram em caixotes para Lisboa para acabarem em compota.
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Mas, o que é inesquecível, é o maravilhoso cheiro a maçã que nos acompanhou durante esse ano pela casa toda, mal se transpunha a porta da rua.
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Esta semana durante 1 hora caiu uma granizada em 10 freguesias de Moimenta da Beira. As maçãs que se salvarem vão ser um bem precioso.

domingo, 20 de junho de 2010

Aconteceu...que José Saramago disse

Pensar, pensar
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"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma."
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Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008, in Outros Cadernos de Saramago

Poema - José Saramago

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ARTE DE AMAR

Metidos nesta pele que nos refuta,
Dois somos, o mesmo que inimigos.
Grande coisa, afinal, é o suor
(Assim já o diziam os antigos):
Sem ele, a vida não seria luta,
Nem o amor amor.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aconteceu...em Buenos Aires, taxista e Maradona

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Eu já desconfiava que volta não volta vou pensar na bola. Ontem vi parcialmente dois jogos, um enquanto pedalava no ginásio, outro enquanto comia um bitoque aqui no restaurante de bairro a que carinhosamente chamo de cantina, tal o uso como recurso.
Agora à noite vi pois o Maradona vestido de fato e gravata a festejar a vitória da selecção argentina.


Há uns anos fiz uma viagem pela Argentina e Chile. Hoje só me vou reportar a Buenos Aires, cidade grandiosa, capital europeia com dimensão americana. Ruas larguíssimas, museus incontáveis, jardins, bairros interessantíssimos, esculturas ao ar livre, eu gostei imenso e quero voltar.

Mas uma das coisas que me impressionou foi a qualidade dos taxistas. Muitos de meia idade, educados, cultos e prestáveis.
Um deles, numa deslocação em que me guiou por vários museus de artistas argentinos, foi falando das suas viagens à Europa, muito especialmente a Espanha, Madrid e o Museu do Prado que o encantou.
A certa altura da viagem passamos junto do estádio do Boca Juniors e eu falo no Maradona que eu sabia que tinha sido daquele clube.
Acho que até abrandou a velocidade, e em voz pausada diz-me que melhor fora que nunca o tivessem tido. E explica-me que quando um país tem um personagem daquele calibre, um ídolo para a juventude, essa pessoa tem de ser uma referência, um exemplo. Ora o do Maradona, na altura todo "encharcado" na toxicodependência, era prejudicial aos jovens.
Na altura gostei de o ouvir. Era um homem que pensava e tinha crítica.
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Se na infância os nossos pais e família próxima são as figuras maiores de referência na construção da identidade, na adolescência as figuras de identificação alargam-se, abrangendo outras pessoas que nos parecem importantes para nós. Por vezes professores, médicos mas também outros jovens e alguns idolos. Por vezes breves identificações feitas pela superfície como o uso de brincos ou do penteado de Cristiano Ronaldo.
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Mais tarde vi o Maradona sempre de charuto na boca, hábito importado de Cuba onde o terão reabilitado.
Hoje vejo-o como treinador. Oxalá se aguente saudável. Há doenças que em personalidades frágeis podem ter recaídas.