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domingo, 26 de setembro de 2010

Aconteceu...em 1975, numa assembleia convocada pela comissão de moradores

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Daqui a pouco ficarei presa em casa. As ruas serão temporariamente fechadas. Vai passar a procissão!
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O último domingo de Setembro é o último dia da feira, falei nela no princípio do mês quando começou.
Relembro que durante um mês, em plena cidade, a feira atrapalha os moradores. É barulho, sujidade, mais trânsito, falta de lugares para parquear, diminuição da segurança, sei lá, um rol de coisas.
Quem não é morador adora-a, vêm carros cheios com famílias inteiras, saem abraçados a alguidares, edredons, barros, flores, loiças. Enquanto lá se passeiam lambuzam-se com algodão doce, farturas e uns coiratos.
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Hoje a feira não é o que era. Pressões várias e a junta de freguesia, assembleia e Câmara têm tido a sensibilidade de a limitar. Muito menos barraquinhas, o interior do jardim (um mimo!) mantém-se livre delas podendo ser usado pelas crianças e os idosos que habitualmente lá jogam cartas, já não há a parte dos carrinhos de choque, dos microfones aos gritos. Já só tem muita gente aos sábados e domingos.
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Claro que não se pode acabar com ela, digo eu agora, é um acontecimento de cultura popular com séculos de existência. Mas porque não há-de durar só uma semana, esta mesma em que se realiza a procissão?
A feira acabará hoje à noite.
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Memórias de 1975
O pavilhão gimnodesportivo está cheio. É preciso empurrar os da frente para conseguir um lugar, as cadeiras estão já estão todas ocupadas, há gente a pé nas partes laterais. Um sucesso a resposta à convocatória da Comissão de Moradores. Ponto único da ordem de trabalhos, acabar com a feira!
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Atrás da mesa e encostados à parede, soldados do regimento mais próximo com espingardas de cravos na ponta.
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"Vai-se dar início à assembleia, aceitam-se inscrições" diz o presidente da mesa que irá gerir quer o tempo, quer o tema.
Muitos inscritos, uns a favor outros contra, e eis que a Glórinha, nome fictício, pede a palavra. É uma figura conhecida do bairro. Maneta, alcoólica e mais outras coisas que se dizem por aí, começa por dizer-se muito limpa. Limpa? Mas a que propósito virá tal coisa? Mas ela continua comparando a higiène dela com as senhoras da Comissão. O presidente intervém "Minha senhora, relembro-lhe o ponto que estamos a discutir. Por favor não se desvie dele". Mas ela insistia e de repente levanta a saia, onde por baixo não havia cuecas, para mostrar a tal limpeza. Foi uma enorme confusão!
Gritos na sala, mães a tapar os olhos dos filhos, os soldados sem saber que fazer, o Presidente a querer, sem conseguir, manter a calma na sala, uma debandada geral porta fora, aos empurrões. Lá dentro, a comissão, os soldados e umas poucas dúzias de participantes.
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Acalmados tentou-se recomeçar a reunião. Mas a maior parte dos participantes não tornou a entrar. Ficou-se sem quórum suficiente para uma decisão daquela grandeza. Deu-se por terminada a assembleia.

domingo, 5 de setembro de 2010

Aconteceu...que começou a feira, estamos em Setembro!

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É muito fácil gostar-se de certas coisas quando elas não nos ficam mesmo à porta de casa. Sem trânsito acrescido, ruas com sentido cortado, arrumadores para os poucos lugares que sobram, barulho, cheiros...
Quando estamos mais longe do local, tudo parece pitoresco, as compras baratas, o movimento das pessoas interessante, etc.
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Morei durante trinta e tal anos à beira do jardim que serve de poiso a uma feira anual, com duração de um mês. Em plena capital do país!
Não queiram saber! Enquanto os filhos eram pequenos, esse mês era todinho passado em férias, bem longe. Mesmo assim ainda havia feirantes que prolongavam a estadia sob o olhar desautorizado da autoridade camarária.
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Arrumar o carro era uma aventura, uma lotaria e quando se conseguia perto, motivo de regozijo.
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Frente à minha casa havia uma rua sem saída que só servia para estacionamento. As caravanas dos feirantes durante este período ocupavam-na quase por inteiro, aquilo era uma espécie de parque de campismo selvagem, na cidade. Era só vê-los de manhã em pijama a ir tomar o pequeno almoço ao café que ficava por baixo de mim, ainda cabelos desarrumados, cheiro a cobertor.
Ou a mesa de pic-nic ocupando um lugar para carro e eles ali ao almoço, panelas no fogão. Más condições para nós, residentes, e para eles feirantes.
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Um dia venho de trabalhar, já ao fim da tarde e vejo um espaçozinho para o meu carro, junto a uma roulotte. Toca a preparar-me para arrumar. Já quase o carro arrumado, só para acertar meto a marcha atrás, e de repente, dou-me conta de uma pessoa sentada numa sanita bem perto da traseira do meu carro. Pensei que estava a ter uma alucinação. Ou seria para alguns "apanhados"?
Mas era mesmo assim. Aflita dos intestinos, alguém tinha saído da carripana e tinha-se ido pôr a fazer as necessidades entre a "casa" deles e o meu carro, numa portatil! Consegui arrumar, bem juntinho às pernas da pessoa que continuava sentada a fazer as suas necessidades e fui para casa.
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Hoje, anos passados, tenho de me rir deste episódio!