terça-feira, 1 de setembro de 2020



172º dia de recomeço do blog

Situação complicada ver uma pessoa de quem gostamos perder as suas capacidades, ter momentos de desorganização e de explosão. No entanto ter outras alturas em que quase consegue recuperar algumas coisas e quase ficarmos esperançadas.

Mas a vida do idoso sem a autonomia que o fazia viver é o quê?

Dei por mim a pensar na minha avó materna. Sentada num maple e embrulhada numa pashmina de lã. Hoje a imagem que tenho é da solidão. Já não lia nem escrevia como até aí que enchia agendas de acontecimentos e pensamentos.Não me lembro se tinha televisão. Nunca a ouvi queixar-se. Ficava muito contente quando tinha uma visita, o meu tio que ia tocar piano, a minha Mãe ou eu. Tinha uma senhora sempre com ela, talvez conversassem às vezes. Um dia um AVC pô-la na cama e em estado comatoso. Foi esperar a morte. Tinha mais de 80 anos.

Depois pensei na minha Mãe, a quem uma demência  tirou a companhia da memória. Nunca se esqueceu de quem eu e os meus filhos éramos. Tinha duas empregadas permanentes, ambas pessoas com formação escolar e de vivência acima do habitual que iam falando com ela. Eu todos os fins de semana. Mas a partir de certa altura obtínhamos resposta se provocada, espontaneamente ficava naquele mundo vazio. Uns anos. Tinha pouco mais de 80 anos.

Complicado responder à pergunta que me fiz no início. Tentar estar presente, relacional, dar prazer enquanto se pode. Falar/ouvir, ouvir/falar. Nem sempre é possível ...