Há pouco dei por mim a pensar nos saltimbancos que apareciam na praia quando eu miúda.
O espectáculo era montado rapidamente sobre a areia. Um pano de cetim vermelho, brilhante, era posto no chão e serviria de palco. Simultaneamente, o batuque de um tambor ia chamando gente para o espectáculo começar.
Por cima do pequeno espaço que o pano delimitava, e sempre ao som da mesma música, os vários elementos do grupo exibiam a sua arte, cambalhotas e contorcionismo.
Eram normalmente famílias, com adultos e crianças, treinadas sabe-se lá com que sacrifícios.
Também traziam uma cabrinha, cujo número artístico era pôr-se e aguentar-se sem cair em cima do gargalo de uma garrafa, as quatro patinhas a caberem naquele espaço ínfimo.
Lembrei-me também dos artistas do teatro ambulante dos fantoches. Tal como os saltimbancos, também trabalhavam ao ar livre e sem poiso certo. Carregavam um biombo da altura de um adulto. Com ele montavam uma casinha de quatro faces, numa das quais existia uma janela que era a boca de cena.
Lá dentro, uma ou duas pessoas protegidas dos nossos olhares, manejavam fantoches de madeira, bonecos pequenos vestidos de pessoas, que se batiam. O enredo era muito pobre, quase sem história.
E uma voz fanhosa, do boneco mais forte para o mais fraco dizia ora toma, ora toma, enquanto eles se batiam até que um tombava, vencido.
No fim, com uma bandeja para recolher a paga, davam a volta pela assistência que ali se tinha junto, maioritariamente composta por crianças, que corriam juntos dos pais a pedir a moedinha.
Aos meus olhos de adulta, são imagens tristes.
Recordações como metáfora, pelo andar errante da carruagem portuguesa?
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