sexta-feira, 17 de abril de 2020



33º dia de isolamento social (COVID-19)


Uma perda, morreu Luís Sepúlveda internado desde Fevereiro. Maldito Covid 19! Tinha 70 anos e estava internado desde finais de Fevereiro.

Na minha estante encontro 6 livros "A Sombra do que fomos", Crónicas do Sul, "Histórias daqui e dali", "Encontro de Amor Num País em Guerra", "Patagónia Express" e "Mundo do Fim do Mundo"". E onde estará a "História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar? Este li-o aos meus netos numas férias. Ficavam presos a ouvir-me.  

Este movimento de ir à minha estante fi-lo ontem à procura de livros do Rubem da Fonseca, que também morreu, ontem, mas com quase 100 anos. Encontrei 2 livros "Agosto" e "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos". Tinha decidido reler "Agosto", por prazer e como homenagem. 



Ambos premiados em Portugal. Agora com a morte do Luís Sepúlveda tenho muitos livros para reler.


Ainda não começaram as aulas do meu neto mais velho que está no 9º ano. Os miúdos estão em casa desde que começou a quarentena. Não é fácil que mantenham há hábitos de estudo. Os avós decidiram então fazer umas conversas por skype. A mim calhou-me o francês. Já estivemos quase 45 minutos a conversar e relembrar palavras, verbos, construir frases. Tudo com base na conversação. Amanhã há mais, vou estudar coisas relacionadas 

quarta-feira, 15 de abril de 2020


32º dia de isolamento social (COVID-19)

Se andasse uns anos para trás e sabendo o que sei hoje, certamente teria mudado o rumo à minha vida em vários pontos. Seria fácil depois de saber como era a vida com aquela escolha. Mas isso é impossível, sei.

Por isso fico indisposta quando leio artigos a criticar a Directora Geral de Saúde Graça Freitas por ter afirmado coisas que não se verificaram a propósito do Covid 19. Mas alguém sabia alguma coisa de um vírus novo? E o Serviço Nacional de Saúde estava preparado? Algum pergunto eu? Foi-se conhecendo o bicho conforme os tempos avançaram, conhecimentos vindo de outros países que passaram também por esta situação. E o resultado em Portugal não tem sido nada mau. Mas a Graça Freitas é objecto de crítica, quase de destruição por uns  a par de elogios.
Hoje o Luís Osório escreveu um excelente texto sobre ela na sua página de FB. Vou copiar e pôr aqui, vale a pena ler. Obrigada Luís por este postal, doce e lúcido que assino por baixo.  


POSTAL DO DIA
Carta a Graça Freitas
1.
Não nos conhecemos. Na verdade, não me parece sequer que nos tenhamos cruzado em alguma circunstância. Mas tenho-a visto (eu e certamente a larga maioria dos portugueses) todos os dias a dar a cara pela evolução da pandemia no nosso país.
2.
Posso imaginar a pressão diária, mas apenas imaginar. Sem dúvida que se nota o cansaço, está mais magra, impossível não o notar. Dá-me ideia, admito desde já a especulação, que se irrita com algumas das críticas que lhe têm sido feitas, pressinto-lhe o enfado.
É exatamente por isso que lhe escrevo.
Quero dizer-lhe que, face às circunstâncias, está a correr bem. Não ligue mais do que a conta à cólera da maledicência e à ignorância atrevida. Nunca se esqueça de que Portugal é o país de onde saíram os navegadores, mas também é o país em que ficaram os velhos do Restelo a dizer mal dos navegadores.
3.
Imagino que a irrite muito.
De repente, a sua história e percurso não servem para nada.
Todo o trabalho de dedicação à saúde pública; a revolução que fez no sistema de vacinação português; as centenas de médicos a quem influenciou com as suas aulas na Faculdade de Medicina; o trabalho de sapa que permitiu que o seu antecessor brilhasse; os elogios internacionais pelo seu contributo nas reuniões do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.
Não, Dra. Graça Freitas, esqueça.
Para muitos comentadores, autarcas ou agitadores de redes sociais isso não interessa nada. De repente, são todos especialistas no que a senhora estuda há quarenta anos. São imunologistas, matemáticos, físicos e tudo o resto de que se faz o cardápio do grupo de trabalho que lidera.
4.
Errou várias vezes. Teve de alterar previsões. Disse uma coisa nuns dias e teve de se desdizer noutros. Imprudentemente falou demasiado cedo de situações que acabaram por não se concretizar – atenção que em política os murros na mesa nunca se anunciam, dão-se simplesmente. Por vezes falou com demasiada certeza, o que nunca é avisado.
Mas pergunto-me se poderia ser de outra maneira? Existia alguém que pudesse antecipar o que iria acontecer antes de acontecer? Existiu algum precedente que pudesse ajudar a antecipar? Sei que não. E isso obrigou a navegar à vista, a corrigir em mar alto, a tentar que a viagem prosseguisse com o mínimo de danos.
5.
Ao ouvir determinadas pessoas a gritarem-lhe ao ouvido imagino o que seria se não estivesse a cumprir os objetivos. Imagino o que seria se Portugal tivesse os mortos (em proporção) de Espanha, Itália, Inglaterra ou França. Imagino o que seria se Portugal não fosse elogiado pelo New York Times, se o El País não nos definisse como os “suecos do sul” ou se tantos investigadores não estivessem a elogiar-nos pelo trabalho feito nesta primeira fase da pandemia. O que seria, Graça? Consegue imaginar?
6.
Sei que gosta de cuidar das suas orquídeas, li algures. Aposto que também gostará de Confúcio que tratava as orquídeas com paixão e zelo. Gabava-lhes a beleza e a delicadeza. E foi Confúcio quem, muito a propósito, nos deixou a frase definitiva: “O que sabemos, saber que o sabemos. Aquilo que não sabemos, saber que não o sabemos: eis o verdadeiro saber.
LO

terça-feira, 14 de abril de 2020


31º dia de isolamento social (COVID-19)


Ligar a rádio e ler o Público na cama são as minhas primeiras actividades do dia. Ler às vezes as gordas, ou de viés um artigo e algum por inteiro. Agora neste confinamento ver as actividades oferecidas nomeadamente os programas de televisão ou emissões via internet.
Mas hoje teve um complemento, fiz uma sessão via net de Meditação: Mindfullness em Tempo Incertezas, assim o nome ao qual acrescentaria um "de" entre tempo e incerteza.
Foi a primeira vez de Mindfullness, parada, no meu caso deitada. É suposto ficarmos concentradas no corpo, ao som embalador das indicações da orientadora. Mas de vez em quando o pensamento voava para logo de seguida e com atenção à respiração me reencontrar com o corpo, como foram ensinando. 

Lembrei-me depois que a minha Mãe fez uma formação na Suiça  da técnica de relaxamento de Schultz. Para ajudar a relaxar e até para adormecer. Chegada a Portugal a minha Mãe quis experimentar na família e um dia lá foi, todos deitados e ela dando as indicações. Tinha a ver com partes do corpo que deveríamos ir sentindo pesadas, pé pesado, pé pesado, dizia numa voz suave etc. Resultado, adormeceram todos, ela inclusive, e eu fiquei com uma espertina danada, e fiquei acordada até horas tardias.
Talvez pela minha idade, teria uns 12 anos, mas também pelo meu controlo do exterior, que ainda mantenho em certas condições. Digo a sério que nem o melhor hipnotizador terá sucesso comigo.

"A pessoa tem de ter tempo para pensar"- Maria de Sousa, cientista do ramo da imunologia morreu hoje vítima da pandemia de Covid 19. 

segunda-feira, 13 de abril de 2020


30º dia de isolamento social (COVID-19)

- Há pouco li que uma senhora queria saber como desinfectar o sabão que usa para lavar roupa ou mãos. 
Lembro-me que há uns anos foi feito um estudo que mostrava que nos locais públicos o sabão sólido era uma coisa muito suja, com bactérias. E foi nessa altura que foi introduzido o sabão líquido em que a pessoa recebe as gotas mas não lhe oca. inicialmente nos hospitais. 
Pelo que a pergunta da senhora podia ter uma resposta diferente da que lhe foi dada. 
Lembrei-me das casas de banho nos campismo que dizem "deixem-na como a encontrou", o que supõe deixar a sanita limpa, o lavatório passado a papel no fim do uso. E se houvesse sabão sólido deixá-lo limpo, sem cabelos e outras coisas que tais. Como se faz para lavar um sabão? Com água e as nossas mãos lavadas!


- Todas as pessoas que conheço estão a ler menos livros, eu inclusive. Artigos, jornais e contos que por serem mais curtos tornam-se mais fáceis de ler. Dizia-me hoje uma amiga que tem de voltar atrás muitas vezes porque se perde.
Outra disse-me que lhe parece que está com falhas de memória por se esquecer do que leu. Curiosamente esta última que é escritora, consegue escrever mas menos tempo.
Falei com a Zé que tem um livro quase acabado e que deveria ser publicado dentro em pouco. Ainda nos rimos as duas, ao telefone claro, porque agora faz crochet. Nunca a tinha ouvido dizer que fizesse esses trabalhos de mãos a não ser "corte e costura", como dizia, quando antes de haver os computadores, escrevia os seus artigos na máquina de escrever e depois recortava e colava conforme queria que o texto ficasse para depois fazer fotocópia. 

E faltam poucos minutos para as 20h. Mais um dia quase no fim.



domingo, 12 de abril de 2020


29º dia de isolamento social (COVID-19)


Domingo de Páscoa


- Não me lembro de quando era miúda. Iria ao Porto, como no Natal? Uma vaga ideia da visita do padre, na mesa com comida. Mas a partir dos 14 anos, idade em que morreu o meu avô Eurico deixei de ir, isso tenho a certeza.


- Não tenho educação religiosa e a minha colega e amiga Lecas, que comigo foi fazer o Serviço Médico à Periferia também não. Assim, no dia da visita pascal ficámos aflitas. Resolvemos fingir que não estava ninguém em casa e fechamos as janelas e persianas até o cortejo passar. Se houvesse internet nessa altura teríamos lido que "Compasso Pascal é uma tradição cristã portuguesa que consiste na visita casa a casa de uma paróquia (daqueles que a queiram receber) do Crucifixo de Cristo no dia de Páscoa ou nas semanas seguintes para celebrar a sua Ressurreição." Wikipédia.




- Mais tarde, com filhos a entrar na puberdade, passei a alugar uma casa na Manta Rota e passarmos lá as férias de Páscoa. "As melhores de todas" diziam eles. Praia a perder de vista, quase vazia mas com os amigos deles que todos os anos também iam. No meu Honda 600, minúsculo, até as bicicletas cabiam numa armação que se montava na parte de trás. E tínhamos muito razoável tempo!



- Mais tarde, cada um na sua casa e com as suas famílias, deixámos esta romaria que tantas saudades deixou.



- Houve um ano que fui passar as férias de Páscoa com os netos à Beira, numa casinha nas Casas do Visconde e que adoptei como casa daqueles lados. Os pais das crianças foram buscá-los e passaram lá o fim de semana. No domingo de Páscoa, com a Lira Keil do Amaral, que de proprietária passou a amiga, fizemos um cabrito assado para a família dela, Pitum e alguns filhos e netos e os meus que lá estavam. Muito bom aquele domingo.


- Fui madrinha de casamento da Lena. Ao contrário do habitual era ela, a afilhada, que me vinha trazer um folar de carne delicioso. Pedi-lhe a receita mas nunca a fiz enquanto foi viva. Ontem aventurei-me. Não saiu muito bem...ou o amor que o folar dela trazia é que era o sabor?


- De ontem para hoje em Portugal, Covid 19: mais 34 mortos, 11 recuperados e 598 infectados. 


- Impressionante ver mais de 10 kms de filas de carros a sair de Roma em direcção ao mar, apesar do estado de emergência, a ordem de confinamento e as multas pesadas.

sábado, 11 de abril de 2020


28º dia de isolamento social (COVID-19)

Hoje fui ao talho. Estava sol e a pequena fila soube muito bem.

A Ministra da Saúde proibiu os Delegados de Saúde de divulgarem os números do Covid-19 da zona. Será isto um segredo estatístico?

Numa publicação que li no FB , senhoras diziam ter dispensado a empregada mas que a mantinham uma vez por semana. Julgo que não lhes pagarão os dias que elas ficam em casa. Será? Gentes!


Estou de camisola azul escura toda suja. Sim, que isto de fazer um folar de carne não é fácil. Acabada a 1ª parte, está agora a massa a levedar. Arrumei e lavei a cozinha, sabendo que dentro de pouco tempo estará novamente suja. Trabalho ingrato!

Ontem o 1º ministro informou que não vai haver aulas presenciais para o ensino do 1º ano ao 9º. Vai ser por internet e televisão. Hoje ao ler um artigo de Dominique Strauss-Kahn, fiquei a saber que quando houve uma epidemia de ébola em África, as escolas fecharam. E como resultado o abandono escolar foi grande. Também não estou a ver que os alunos pouco interessados, alguns já repetentes, com famílias que não os possam orientar, consigam seguir assim as aulas. Mas compreendo que era um grande risco o retorno. Fica só para os mais velhos e com condições.

Chocada ao ler que os hospitais privados vão apresentar as contas do seu trabalho com os infectados por corona ao estado. E que contas! Há países que os requisitou durante este período de crise. Porque não se faz o mesmo por cá?

sexta-feira, 10 de abril de 2020


27º dia de isolamento social (COVID-19)

6a feira santa, feriado religioso. Até agora de diferente só o facto do Expresso que sai aos sábados ter saído hoje. Já o tenho. Sem fila para o comprar.

Ontem só um avião aterrou em Lisboa. Vinha da Moldávia. Chegou o Ivan, o filho e a neta. Imagino como se vai viver e fazer quarentena num T1, casa de porteiro, 3 adultos e 2 crianças abaixo dos 3 anos. São gente boa, muito trabalhadora.

Muito tenho pensado como esta pandemia é injusta social e psicologicamente. Há quem diga que é um vírus democrático porque atinge todos. Mas a foma como cada um o vive é diferente.
Vou pedir emprestadas as palavras de um grande neuropsiquiatra que tem-se dedicado ao trauma e à resiliência, Dr. Boris Cyrulnik.


"Facteurs de protection" vs "facteurs de vulnérabilité"

"Ceux qui avant le confinement avaient acquis des facteurs de protection, (confort matériel, culturel, affectif et familial) vont faire un effort mais ils vont pouvoir profiter du confinement pour écrire, se remettre à la guitare, pour envoyer des messages à des copains qu’ils n’ont pas vu depuis 30 ans. Ils vont surmonter l’épreuve du confinement et ceux-là vont pouvoir déclencher un processus de résilience facile."

Pour Boris Cyrulnik, en revanche :


Ceux qui, avant le trauma avaient acquis des facteurs de vulnérabilité : maltraitance familiale, précarité sociale, mauvaise école, mauvais métier, petit logement, le tout étant associé… Ceux-là vont souffrir actuellement, ils n’auront pas fait ressource interne des autres, ils vont ruminer. […] Et quand le confinement sera terminé, ils seront plus traumatisés qu’avant. Donc il y a une inégalité sociale qui existait avant le traumatisme et qui sera aggravée.

Boris Cyrulnik : "On est dans la résistance, pas encore dans la résilience", texto e entrevista na France Culture.