segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quando a boca da Mãe abre sem pensar no que diz



Ontem, uma mãe a falar para o filho de 9 ou 10 anos:

Ah, meu grande filho da puta, vem cá já para a minha beira.
Tu devias era magoares-te muito gravemente para veres como é.


terça-feira, 6 de setembro de 2016

É Setembro e a noite está quente


3 da manhã. Acordo. Não estou bem, não sei precisar o que sinto mas ainda nem tentei perceber.
Aborrece acordar assim, cedo na noite, inquieta-me pensar quanto tempo ficarei acordada. 
Na mesa pequena a meu lado tenho uma banana, como-a, a casca cheia de pintas castanhas como gosto, está madura e doce,  sabe bem sentir o estômago aconchegado, mesmo que não seja o mais indicado em termos de saúde, preparo-me para ler e ligo o rádio.
Do outro lado ouço: Lisboa a esta hora com 27ºC.
Não preciso de mais nada para entender porque acordei. Ligo a ventoinha e leio umas páginas e pouco depois estou a dormir.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Não, não era o termostato avariado...


Ai que frio, tanto vento! diz a mulher que espera o sinal verde na mesma passadeira que eu.
Já passava das 14 horas, o ar era bastante quente e a aragem também.
Continuei o meu caminho mas a pensar na solidão de algumas pessoas que dizem qualquer coisa só para não se sentirem tão sós. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

E ainda, diagnóstico de uma mulher sujeita a violência doméstica


Numa consulta de um colega meu:
Sr. Dr. acho que o meu marido tem uma outra. O médico pergunta-lhe porque pensa isso ao que ela responde sem hesitar: porque deixou de me bater.

Tanto que há para fazer!

terça-feira, 26 de julho de 2016

Amor, quanto mais me bates mais eu gosto de ti?


Leio com frequencia relatórios sobre crianças, jovens e suas famílias.
Hoje li mais um. Jovem com problemas de comportamento.
Familia que sempre viveu na miséria, desemprego, subsídios eles também miseráveis, o pai com alcoolismo crónico, discussões frequentes assim como violência física exercida pelo pai à mãe, desorganização e falta de capacidades para orientar o filho desde tenra data. Tudo ingredientes para dificultar o crescimento harmonioso!
Eis que finalmente, mais de uma década de vida em comum, os pais separam-se.
Finalmente! digo eu, porque no relatório o que estava escrito é "ponto final no relacionamento amoroso"! Tanto amor!




segunda-feira, 18 de julho de 2016

A viagem de comboio e a criança que gostaria de passear lá dentro


Vou no comboio. Um pouco à frente uma criança dormia. Só lhe via a cabecinha. Quando acordou o pai passou-a para a mãe que lhe deu a mama.
Agora vejo bem a criança. É um rapazinho vestido à rapaz, jeans compridos e camisa embora talvez não tenha ainda 2 anos.
Acabada a mamada (quantos dentes terá?), inicia um período de queixume, choro, ao colo da mãe pontapeia o banco da frente com as suas "crocs", vigorosamente. Da mãe passa para o pai, do pai para a mãe e até para a avó. A família ocupa três bancos duplos, uns em frente dos outros. 
De repente faz-se silêncio. Olho e ele está sorridente de pé. Vejo que até anda sozinho, mas a mãe tem-no seguro pelo pulso como se de uma coleira de braço se tratasse. Quando tenta andar e não consegue recomeça o choro, protesto com sons e gritos.
A mãe põe-no ao colo e segura o telemóvel para ele ver um filme de desenho animado. Ele cala-se um bom bocado. Depois recomeça querendo ir para o chão.
Sempre gostei das viagens de comboio precisamente por me poder levantar e dar um passeio, da carruagem ao bar ou da minha a outra carruagem.
Tenho a certeza que o puto teria adorado passear, apeteceu-me lembrar isso à mãe mas por pudor não o fiz. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Há encenadores corajosos ou público paciente?



No Festival de Teatro de Avignon, Julien Gosselin encena um espectáculo descrito nos jornais como "excepcional", 2666, uma adaptação do romance do mesmo nome de Roberto Bolano.
Li o livro há uns anos, uma exploração do mal na viragem do século. Tem mais de mil páginas e divide-se em 5 partes. Publicado depois da sua morte, morreu com pouco mais de 50 anos, a família decidiu publicar tudo num só livro. Podiam ter sido cinco.
Em palco será a música e o vídeo, sempre presentes, a dar a continuidade. A peça dura onze horas com 2 intervalos. Dizem que o tempo passa depressa.
Teria eu hoje coragem de ir ver a peça?