domingo, 14 de outubro de 2012

Aconteceu...vida e morte

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Fez anteontem 40 anos que José António Ribeiro Santos foi morto. Estudante universitário ainda sem 20 anos de idade, militante contra a situação que em Portugal se vivia, recebeu balas disparadas pela PIDE, a polícia política de então, que atirou contra alunos, na faculdade.*
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Mas a minha recordação deste dia está intimamente ligada a isto por motivos muito pessoais.
Eu tinha 20 anos e o meu pai estava muito, mesmo muito doente, por doença cardíaca de que sofria e da qual, meia dúzia de anos depois veio a morrer.
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Em casa lá estava ele, deitado na sua cama, e eu a assistir à consulta do seu médico que mais uma vez e de forma incansável e generosa todos os dias lá ia. Como filha, mas também como estudante de medicina assistia às consultas, e aprendia alguns ensinamentos que, sempre didacta, o Dr. Vasco Ribeiro Santos me ia chamando a atenção, como quando ensinava os seus internos no serviço dos Hospitais Civis onde era director.
 
Pois o Dr. Ribeiro Santos era o pai do José António. Lá estava ele, mais uma vez, a tratar do meu Pai.
 
Agora as minhas memórias confundem-se, não havia telemóveis pelo que não foi na casa dos meus Pais que ele soube da morte do filho. Foi certamente depois. Mas esse trágico acontecimento coincidiu com a hora em que dedicadamente se debruçava sobre o doente, meu Pai, salvando-lhe a vida.
 
Salvou a vida do meu Pai, e a PIDE tirou a vida do filho. Nunca mais pude, emocionalmente, desligar estes dois factos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Aconteceu..."grões igual a balas"

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É triste! Num mercado ao ar livre semanal no sul do país, procurei legumes secos. E não é que não os há semeados em Portugal?
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Semanas atrás, noutro mercado, desta vez ribatejano, reencontrei um produtor e vendedor de legumes que não via há bastantes anos. A propósito do grão e feijão que se lembrou que eu lhe costumava comprar, explicou-me que desde que a mãe morrera nunca mais tivera. Essa era a plantação dela. E avisou-me, cuidado que tudo o que anda aí, é estrangeiro. Só não me disse que de bem longe, hemisfério sul!

Fotos - Magda
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 Perú











Perú









México

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Aconteceu...que quase forrava o chão com um poema de Wislawa Szymborska


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Andava eu a forrar o chão com jornais velhos - preparava-me para pintar janelas com tinta esmalte - quando se me depara este poema de Wislawa Szymborska num jornal Público de Fevereiro 2012.
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Não, felizmente eu não morri. Mas ausento-me tantas vezes de casa, deixando o Néguy sozinho, que, ao lê-lo, me pus a pensar que se passará com o meu gato quando o deixo no apartamento sozinho? Quando me vou embora, percebe lindamente, logo que me vê a preparar as coisas. Fica mais parado, segue-me sem agitação e vejo-lhe um olhar triste. Pelo contrário, quando chego, aparece logo, às vezes ensonado, ainda com os olhos mal abertos, espera-me à porta de casa, cheirando tudo o que trago e deitando-se depois à porta do meu quarto para lhe fazer as festas atrasadas. Mas, e pelo meio o que se terá passado?
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A tradução foi de Manuel António Pina.
 
GATO EM APARTAMENTO VAZIO
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Morrer não é coisa que se faça a um gato.
Que há-de um gato fazer
num apartamento vazio?
Subir às paredes?
Roçar-se nos móveis?
Aparentemente não mudou nada
e no entanto está tudo mudado.
Continua tudo no seu lugar
e no entanto está tudo fora do sítio.
E à noite a lâmpada já não está acesa.
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Ouvem-se passos nas escadas,
mas não são os mesmos.
A mão que põe o peixe no prato
também já não é a que punha.
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Há aqui qualquer coisa que já não começa
à hora do costume,
qualquer coisa que não se passa
como devia passar-se.
Havia aqui alguém que há muito estava e estava
e que de repente desapareceu
e agora insistentemente não está.
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Procurou-se em todos os armários,
revistaram-se as estantes,
espreitou-se para debaixo do tapete.
Violou-se até a proibição
de desarrumar os papéis.
Que mais se pode fazer?
Dormir e esperar.
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Quando regressar, ele vai ver,
ele vai ver quando chegar.
Vai ficar a saber
que isto não é coisa que se faça a um gato.
Caminhar-se-à em direcção a ele
como que contrariado,
devagarinho,
com patas amuadas.
E nada de saltos ou mios. Pelo menos ao princípio.
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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

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Escrever não é fácil. O branco do papel, agora transformado em écran, é inibitório. As regras da organização do texto, esquemáticas, são inibitórias mas, dizem, essenciais para uma boa qualidade do texto.
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Há quem escreva de um jacto. É verdade, sei-o por experiência própria, nomeadamente quando tenho algum escrito técnico para fazer e que ando bastante tempo com o assunto na cabeça. Por vezes, quando me sento, as ideias expostas em frases aparecem, quase organizadas. Mas isto acontece quando mastigo longamente os assuntos.
Ora aqui no blog, nem sempre é assim. Os textos são, na maior parte das vezes, resultado de um flash, uma vivência quase superficial de uma qualquer coisa. Nem sempre suficientemente interessante, nem bem escrita. E isso deixa-me descontente.
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O tempo, que retiramos para a escrita, nem sempre existe. É necessário criá-lo e por vezes isso é difícil.
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Admiro quem escreve diariamente, com uma escrita escorreita, e com assunto suficiente para interessar.
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Tenho andado muito pouco por aqui. É preciso um pouco de organização para meter no tempo disponível tanta coisa como as que desejo. Mas está-me a apetecer, vou ver se me organizo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Poema - Sophia de Mello Breyner

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Como um fruto que se mostra
Aberto pelo meio
A frescura do centro
Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro

domingo, 9 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

Aconteceu...cachupa? Moamba? Não há e que tal uma aguardente velha?

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Sábado de Agosto em Lisboa, o Metro ia cheio, gente de chinelos, shorts, chapéus ou cabelo ao vento - Lisboa tem sempre algum vento, chegada a estação dos Restauradores quase todos saíram, andava-se em passos pequenos que não havia espaço para mais.
Turistas estrangeiros, predominava a língua francesa, mas também portugueses como eu. A Baixa estava uma festa!
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Um pouco antes das 13 horas procurei a tenda de África, no Martim Moniz. Tinham cachupa e moamba. Óptimo, vamos a isso. Mas era preciso esperar que a comida estava ao lume. Com uma imperial na mão e encostada ao balcão, fiquei vendo, ouvindo, caramba, aquele sábado era dia de descanso e tinha tempo.
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Duas africanas lá dentro, ao lume, nuns fogões com ar frágil, tomavam conta de duas panelas que estavam ao lume, lamentando-se da falta de força da electricidade... a cachupa nunca mais apurava e a moamba também custava a aquecer.
Palavra puxa palavra, lá foram dizendo que não estavam autorizadas por contrato a usar gás e a electricidade ali "não prestava".
E mais, que na semana a seguir iam aumentar os preços porque a renda era cara.
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Dou-me então conta que havia quem tivesse encomendado antes de mim. Afinal as cozinheiras desistiram de servir cachupa e só havia moamba e a senhora começou a servir, um, dois, três, quatro pratos e a fuba acabou. Reparei então que os tachos eram do tamanho dos que tenho em casa e a fuba, já pronta estava numa taça tamanho saladeira familiar. E agora que a fuba acabou? Vou já fazer mais, e pôs um tachinho ao lume, à espera que a água fervesse. E em resposta disse-me que com aquela electricidade demoraria uma hora.
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Eu estava ali há 40 minutos e ainda ia esperar uma hora?!?!? E parece-me que nessa altura, com as pessoas que aguardavam, não chegaria para mim. Paguei a cerveja e fui à procura de outro sítio. Seguiram-me seis pessoas que também aguardavam, ficando ainda uma fila de gente, na altura já esfomeada.
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Claro que aquelas senhoras devem ter dificuldade em pagar a renda. Pois metem-se a gerir um restaurante sem saber como se faz, como se calcula a comida, e com que antecedência se deve fazer a comida!
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A ideia de organizar um conjunto de barraquinhas com comida de várias zonas é interessante, mas se todas são como esta, funciona mal. É pena!